O velho Fenris e o jovem lobisomem

Em uma clareira na floresta, iluminada pela luz da lua cheia, um velho lobisomem chamado Fenris observa tudo atentamente. Seu nome foi dado por um grupo de mochos reais inspirado no lobo mítico da mitologia nórdica, simbolizando força e sabedoria. As grandes corujas o educaram em um canto sombrio de uma floresta distante. Com seus pelos grisalhos e olhos profundos, Fenris vê um jovem lobisomem agitado, cujos olhos ainda brilham com a fúria da transformação recente. Nesse momento, Fenris decide nomeá-lo Dash, um nome que evoca rapidez e impulsividade, típico de um adolescente imprudente. O jovem carrega cicatrizes frescas, resultado de sua imprudência. O velho Fenris se aproxima calmamente, sentando-se em uma rocha próxima, sua postura refletia uma sabedoria antiga.

Com sua voz grave, mas tranquila, Fenris diz:

Vejo que mais uma vez você se entregou ao impulso, jovem. Seus olhos carregam a marca da fúria, mas seu corpo... essas cicatrizes contam uma história diferente. Quantas vezes você precisa sentir a queimadura da prata para aprender o equilíbrio que nossa maldição exige?"

Dash olha para o chão, sentindo a culpa e a vergonha:

"Eu... eu não consigo controlar. Quando a lua me chama, é como se eu perdesse toda a razão. A fome, a raiva, o poder... tudo isso toma conta de mim. E no calor do momento, eu só penso em destruir, em caçar. Mas agora, sinto que estou perdendo algo mais. Cada vez que volto à forma humana, as cicatrizes, as lembranças... não sei mais quem sou."

Fenris responde:

"Você está perdendo a si mesmo. A transformação é uma prova, uma luta constante entre o homem e a besta que habita em nós. Quando você permite que a fúria e a fome dominem, você se afasta daquilo que ainda te torna humano. Não somos apenas predadores. Somos guardiões de um equilíbrio frágil entre duas naturezas."

Dash, confuso e preocupado, pergunta:

Mas como posso controlar isso? Toda vez que a lua surge, é como se eu fosse consumido pelo desejo de matar, de marcar meu território, de mostrar que sou o mais forte. E cada vez que volto, sinto como se estivesse mais perto de perder completamente minha humanidade."

Fenris sorri tristemente, compreendendo a dor do jovem:

"É exatamente essa luta que define quem somos, meu jovem. A lua não é nossa inimiga, mas também não é nossa aliada. Ela nos transforma, nos desafia, e cabe a nós escolher como reagir. Você deve aprender a ouvir seus instintos, mas não se deixar ser dominado por eles. A caça é inevitável, mas a brutalidade desnecessária é um caminho que leva à autodestruição."

Dash, em busca de orientação, pergunta:

"Então, o que devo fazer? Como posso mudar?"

Fenris aconselha:

"Comece aceitando que a transformação não é apenas uma maldição, mas uma responsabilidade. Quando a noite cai e você sente a fera desperta em você, não se deixe levar apenas pela fome ou pelo desejo de dominar. Lembre-se do homem que você é, do que você quer proteger. Ao caçar, faça-o com propósito, não com ódio. Marque seu território, mas faça-o com sabedoria, sabendo que não é a violência que define sua força, mas o controle que você tem sobre ela. Já vi dezenas de lobisomens serem mortos por confiarem mais na força bruta, esquecendo que tinham a capacidade da inteligência humana para agir com ferocidade, mas com cautela também."

Dash, pensativo, absorve as palavras do velho lobisomem de pelos grisalhos:

"Mas e as cicatrizes? E os tiros? Cada vez que sou imprudente, arrisco mais do que apenas a minha vida. Como posso evitar isso?"

Fenris responde:

"As cicatrizes são lembretes do que você não deve repetir. Quanto aos tiros, você já sabe a resposta. A irresponsabilidade durante a transformação pode ser fatal. Os humanos temem o que não entendem, e a prata é o símbolo do medo deles. Se você continuar a ser imprudente, não será apenas você quem sofrerá. Um lobisomem que não controla sua brutalidade acaba atraindo atenção indesejada, colocando todos nós em perigo."

Dash, com determinação renovada, diz:

"Vou tentar, mas não vai ser fácil."

Fenris conclui:

"Não será fácil, mas nada que vale a pena é. Lembre-se: a verdadeira força não está em quanto você pode destruir, mas em quanto você pode proteger. Use a noite para vigiar seu território, mas faça-o com o coração de um guardião, não de um tirano. O amanhecer sempre chegará, trazendo consigo a chance de redenção. Mas até lá, você deve ser forte o suficiente para resistir ao chamado da fúria. Essa é a nossa rotina, essa é a nossa vida."

Nesse momento, Dash olha para a lua, solta um uivo de alívio, respira fundo, e olha para o velho mestre dos lobos, agradecendo. Ele volta a olhar para a lua e, pela primeira vez, não sente mais medo.

Alexandre Tito
Enviado por Alexandre Tito em 15/08/2024
Código do texto: T8129454
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