Meia noite, o lobisomem amaldiçoado.

Em uma encosta banhada pelo mar, havia uma pequena cidade litorânea no interior do Brasil. Naquela época, a maldição dos lobisomens era uma crença arraigada e temida. A cidade, conhecida por atrair pescadores devido à sua rica pesca e movimentada economia, também atraía curiosos e caçadores em busca de recompensas ou simplesmente pela emoção da caça.

Entre os habitantes da cidade estava um pescador que, após um encontro fatídico com um lobisomem, foi mordido e contraiu a maldição. A saliva da fera híbrida que o atacou infectou-o, transformando-o em um lobisomem. No entanto, a transformação foi completa e irreversível; ele não conseguia reverter para a forma humana. Condenado a viver como uma fera amaldiçoada, ele passou a se esconder durante o dia em uma imensa árvore frondosa, descendo somente à meia-noite. Esse comportamento fez com que fosse conhecido como "Meia-Noite", o lobisomem da madrugada.

Com o tempo, recompensas generosas foram oferecidas pela cabeça de Meia-Noite. Ele se tornou um alvo constante, tanto de caçadores de recompensas quanto de outros lobisomens, que o viam como uma ameaça. Meia-Noite se tornou um mestre em escapar das armadilhas, sempre encontrando maneiras de eludir os caçadores. Usando facões afiados que roubava das casas de suas vítimas, ele começou a decapitar os lobisomens que tentavam caçá-lo, intensificando seu status de inimigo dos seus próprios pares.

Durante as noites de lua cheia, Meia-Noite buscava refúgio no topo da grande árvore à beira de um rio. Esse esconderijo natural dificultava a tarefa dos caçadores, pois os cães perdiam seu rastro na orla do rio. Meia-Noite mergulhava e nadava até a árvore, que se tornara seu santuário.

Certa tarde, enquanto o sol se punha, um pescador avistou Meia-Noite subindo na árvore. Reconhecendo-o pela pelagem alaranjada com manchas brancas, distinta dos lobisomens normais, o pescador decidiu relatar o avistamento. No entanto, Meia-Noite percebeu a movimentação suspeita e, em um acesso de fúria, atacou o pescador e três homens que estavam a bordo de um barco, matando-os brutalmente.

A notícia sobre Meia-Noite se espalhou, distorcida e amplificada: ele era descrito como imortal, possuidor de magia negra e aliado a um demônio que o ajudava em seus crimes. O pânico tomou conta da cidade. Aos poucos, os habitantes abandonaram suas casas, fugindo em barcaças e transformando a cidade em um lugar deserto. Com a partida dos moradores, os lobisomens também desapareceram, deixando apenas Meia-Noite como o último ser da região.

Agora, Meia-Noite vivia como um lobisomem solitário, revoltado com sua triste sina. Sua vida se resumiu a caçar e se esconder, sempre forçado a uivar para a grande lua cheia que dominava o céu todos os meses. Era um ciclo interminável de sobrevivência e isolamento, marcado pela eterna luta entre sua natureza bestial e o desejo de retornar à vida humana que nunca mais poderia ter.

Alexandre Tito
Enviado por Alexandre Tito em 10/08/2024
Código do texto: T8125930
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