Entropia

"Entropia. Uma medida de desordem ou incerteza."

"A ordem é um sonho. O caos, a realidade" (Jorge Luís Borges)

Pelos deuses do movimento aleatório que, como escreveu o irlandês, quando querem nos foder a cabeça, permitem que logremos êxito em nossas aspirações!

Tratava-se de um vagar, um incerto lá e cá, como o vai e vem de uma haste penetrando orifícios que ainda serão produzidos numa superfície de gelatinosa consistência.

Tal violência pressentida era o vaticínio deste curso trôpego no qual eu estava enfiado como um pau que lateja dentro de um cu sôfrego por sua rígida massa de aríete.

Não havia meios de retornar, era adiante e sem dramas apelativos para o contrário. Sim, se uma perguntar faz agora, sim, eu tentei. Mas, das volutas que sobem de uma chaleira fervendo não há tempo suficiente para ver a fumaça voltar ao seu interior. Entendeu?

Foi assim que o caleidoscópio de terrores grassou naquele destino entalhado em pedra pelo cinzel de um artífice monstruoso, como só os monstros conseguem permissão para sê-lo. Foi assim que ela fundou sua República Democrática da filhadaputice onde todos são enrabados de acordo com a coisa pública e seguindo os trâmites legais observados em sua carta magna. A da sacanagem muito bem votada.

É noite. Ou está apenas escuro. Quem se importa? Um uivo cheio de lamentações passa pelo vão da porta, chegando aos meus ouvidos como se alguma língua conhecida saísse de seu sussurro. Estou encostado na parede, abraçado aos joelhos, pendulando em câmera lenta, para frente e para trás. Para frente e... Para trás. Algo está ali comigo. Algo que não quer ser visto, mas não pode, ou não quer, evitar a nítida sensação de sua presença. E, de um jeito incomum, é reconfortante.

Ao ser entrevistado pelos sentimentos sem miolos e, assim, também sem nomes, fiquei calado. Não havia o que falar. Estalei a língua no céu da boca, o palato de uma parte que precisa de rótulo, como o mundo todo, forçoso esclarecer.

Daquela lápide posso ver a multidão chegando como se pudessem ir embora para sempre após as homenagens. Pena que não podem escutar nossas risadas.

Aquele, aquela, tanto faz, ao meu lado, que não posso ver, ri também. E também, estala a língua em seu palato.

MementoMori
Enviado por MementoMori em 02/08/2024
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