ATÉ QUE A LUZ NOS LEVE

Tudo o que me recordo desse dia é que estava em minha nova casa com alguns amigos. Eu tinha fumado maconha e estava ouvindo um rock, tinha cerveja e o lugar era razoavelmente interessante. Eu tentei ligar para umas prostitutas, mas não consegui fechar nenhum programa, então, só sai de casa em busca de mais cerveja.

No trabalho era um tédio, a cidade era nova e eu estava lá apenas pelo dinheiro, nada me interessava naquele ambiente de plástico. Pensava: como irei suportar essa nova fase de minha vida?

Quando estava em casa, costumava tomar café e fumar cigarros baratos. Às vezes, apareciam uns amigos para conversar, coisa rápida, mas distraia minha mente perturbada.

“E aí, Tony. O que tem feito de bom? ” Perguntei para Tony se ele tinha feito algo divertido, enquanto tomávamos cerveja gelada.

“Não, eu fumo maconha e fico entorpecido para fugir de mim e de minha realidade. Estou com câncer no fígado devido ao abuso de álcool. ”

“Entendi, mano. Você só quer esquecer dessa vida, não é? ”

“Sim, eu quero ir para o céu. ”

Estávamos sentados no sofá enquanto conversávamos. Era típico de nós ficarmos introspectivos e chapados. Fazíamos aquilo sempre que possível.

Com o tempo, começou a chegar uma galera estranha em minha casa. Eu nunca os tinha visto e eram quatro. Um cara esquisito e que usava óculos escuros o tempo todo, não dava para saber se ele estava olhando para você ou não. Uma garota com ar dark era sua namorada, se chamava Cristina.

“E aí, vocês são de boa mesmo? Tenho essa dúvida. Apareceram do nada em minha casa. ”

Perguntei olhando para o cara de óculos escuros, estava desconfiado.

Ele respondeu friamente. “ Claro, somos amigos, não vamos fazer nada com você. ”

Pensei “ Não acredito nesse cara, ele é muito estranho, muito frio...”

Então, lhe dei um voto de confiança e deixei ele e sua galera frequentarem minha casa.

Mas conforme os dias foram passando, me dei conta de que meus documentos estavam fora da carteira, em um certo dia, pude abrir meus olhos. Cartões de crédito, de conta bancária, identidade, CPF. Tudo sendo saqueado para um fim sombrio. Eu não podia provar nada e nem acusar ninguém, só sentia uma enorme energia obscura dentro daquele lugar.

“Hey, brother. Eu descobri uma coisa. Você precisa saber. ” Tony me contou em uma mensagem no WhatsApp.

“Essa galera que está indo em sua casa, está usando seus documentos para aplicar golpes da internet. Usaram seus cartões, tanto de banco quanto de crédito. Identidade, tudo. Meu amigo, se proteja rápido. ”

Tony disse isso e eu fiquei imediatamente aborrecido. Eu esperei eles chegarem novamente na minha casa para abordar o grupo.

Quando o cara de óculos escuros chegou com sua namorada e seus dois amigos eu disse.

“E aí, chapa. Estou sabendo de uma parada muito ruim. Olha, meus documentos foram saqueados para serem aplicados em golpes. Suponho que você e sua galera não tenham nada a ver com isso, certo? ”

“Claro que não. Não temos nada a ver, nós só gostamos de beber, fumar e ouvir música, somos de boa, pode confiar. ”

Eu me aproximei dele e puxei meu martelo para aniquilá-lo, uma martelada na cabeça e seria o seu fim. Mas um de seus amigos se deu conta do que ia fazer e sacou uma arma apontando para minha cabeça.

“Ei, engraçadinho, nem pense nisso. Jogue o martelo no chão e sente-se no sofá."

O cara ficou com a arma apontada para minha cabeça, enquanto o outro sempre com óculos escuros fumava calmamente um cigarro, de tal maneira que nem parecia que de fato estava acontecendo alguma coisa ali.

Então, fiquei com aquela arma apontada para minha cabeça, enquanto o outro comparsa pegava um galão de gasolina e espalhava pela casa inteira. Ele saiu derramando aquilo e por fim, me ensopou de gasolina.

O cara de óculos escuros finalmente os tirou. Seus olhos eram negros, frios, soturnos. Mas nunca se direcionava para os meus, era como se eu nem existisse. Então, ele ligou seu isqueiro zippo, que flamejava como as chamas do inferno.

“Aqui, você acaba. ”

Jogou o isqueiro flamejante em meu corpo que estava sentado no sofá encharcado de gasolina.

“Fim da linha para você. ”

Lembro de ele ter dito isso com a calma e paciência de um buda. Minha última memória é dele e sua galera saindo da casa, eles fechando a porta de chave e eu parecendo uma tocha humana.

Eu senti a morte na alma, foi como um tiro no coração. Eu esfumaçava e toda a casa ardia como larva de vulcão. Ali, era o meu túmulo, meu último grito desesperado de agonia e sofrimento.

Até finalmente...

Morrer.