MÓRBIDO DESEJO

Viu-a pela primeira vez na saída de uma sessão noturna do cinema de um shopping qualquer. Achou-a muito bonita, talvez um pouco pálida demais, mas mesmo assim uma bela mulher. Sentiu que ali estava sua próxima vítima.

Decidiu segui-la.

Observou que ela morava sozinha em uma pequena casa de um bairro de periferia. Cada vez mais fascinado pela mulher ele passou a estudá-la de longe. Descobriu que ela não tinha um emprego fixo, que às vezes trabalhava como garçonete ou como garota de programa. Sempre em empregos noturnos. Durante o dia inúmeras vezes passava em frente de onde ela morava, na esperança de vê-la em uma janela, porém a casa estava sempre fechada.

Os dias transcorriam e a vontade de sentir mais uma vez a vida de uma mulher se esvaindo em suas mãos aumentava em razão exponencial. Ele já se imaginava olhando aquele rosto bonito contorcendo-se em agonia enquanto a enforcava. Sublime prazer era o que sentia nesses momentos. Aquele era o seu segredo mais bem guardado. Ele amava sentir aquele desejo mórbido invadindo suas entranhas.

Valdomiro Pantoja há muitos anos já havia desistido de tentar uma explicação para o fato de gostar de enforcar mulheres. Ele era assim e pronto. Teve amor e carinho dos pais, não sofreu abuso de nenhum tipo na infância, não enfrentou privações ou violências. Valdomiro mata mulheres porque isso lhe dá prazer.

Quatro mulheres já haviam sido mortas por ele, todas enforcadas com cordas de nylon (havia visto isso em um filme antigo e decidiu que faria igual). Nunca fora descoberto porque estudava bem suas vítimas, só atacava quando tinha certeza que não deixaria pista alguma e, o principal, não saia enforcando uma vítima atrás de outra, levava anos entre um crime e outro.

Decidiu que seria naquela noite. Tudo já estava planejado. Estava há várias horas sentado em uma mesa de bar, não muito longe de onde ela morava. Quando ela dobrou uma esquina passou a segui-la discretamente. No dia seguinte haveria uma nova vítima...

Ao entrar sorrateiramente na pequena casa sentiu de imediato que havia algo estranho. Tudo estava silencioso. O que haveria de anormal naquela casa? A ansiedade pelo crime embotava os seus pensamentos. Ele sabia que sua vítima estava em seu quarto deitada, sem saber que em poucos minutos estaria morta. Mesmo assim havia algo no ambiente daquela casa que não estava correto e isso lhe intimidava.

Andava cuidadosamente pela sala quando teve um insight e descobriu o que havia lhe incomodado quando adentrou àquela casa: os móveis eram todos antigos e não havia um único objeto que mostrasse ser esta uma casa do século XXI, não havia geladeira, televisão, lâmpadas de teto, etc. Achou aquilo despropositado, porém, de alguma maneira, também assustador. Seu desejo de matar se misturou com um medo primitivo. Sentiu urgência em matá-la logo e dar o fora dali.

Silenciosamente adentrou o quarto de sua quinta vítima. Seu coração batia forte e o rosto queimava de excitação quando a penumbra do quarto cedeu lugar para a tênue iluminação de um pequeno castiçal.

- Boa noite! Seja bem-vindo à minha humilde casa. Estava imaginando quando teria a honra de receber uma visita sua.

Valdomiro percebe que o belo rosto de sua vítima aos poucos se transformava em algo de um horror indescritível.

Tentou correr, mas suas pernas pareciam grudadas no chão.

Um cheiro adocicado invadiu o ambiente ...

O dia seguinte encontrou o corpo de Valdomiro jogado em uma vala imunda. Ele estava sem uma gota de sangue.

Jota Alves
Enviado por Jota Alves em 14/07/2024
Reeditado em 19/07/2024
Código do texto: T8106715
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