LACAMERON E LUA BRANCA ( Conto de Lobisomem)
Em uma noite de luar cheia, Lacameron, um temível lobisomem, vagava pelas densas florestas à procura de algo que nem ele sabia nomear. Seus passos eram silenciosos, e seus olhos, brilhantes como brasas, cortavam a escuridão da noite. Foi então que ele ouviu um som que fez seu sangue gelar: um latido desesperado seguido de gritos de dor.
Aproximando-se cautelosamente, Lacameron encontrou uma cena de crueldade: um homem robusto maltratava uma cadela vira-lata de porte grande, seu pelo branco com manchas alaranjadas sujo e emaranhado. Sem hesitar, Lacameron avançou. Em um instante, ele estraçalhou Garcia, o antigo dono da cadela, e libertou a vira-lata de seu tormento.
A cadela, tremendo de medo e dor, olhou para seu salvador com olhos agradecidos, mas tristes. Lacameron, sentindo um misto de cólera e compaixão, perguntou-lhe:
— Qual é o seu nome?
Ela respondeu com uma voz fraca e cheia de tristeza:
— Eu nunca tive um nome. Minha vida nunca foi valorizada por ninguém.
Lacameron, tocado pela desolação em sua voz, prometeu-lhe:
— Eu lhe darei um nome, um lar, e ninguém nunca mais lhe humilhará sem sentir o peso da minha ira. Seu nome será Lua Branca.
Lua Branca olhou para ele, surpresa, e perguntou:
— Por que você está me ajudando?
Lacameron respondeu, com sinceridade:
— Porque gostei de você.
Dizendo isso, ele saiu rapidamente, desaparecendo na escuridão. Alguns instantes depois, Lua Branca ouviu um uivo longo e triste que ecoou pelas árvores. Pela primeira vez, ela sentiu que tinha alguma importância em sua vida desamparada.
Naquela noite, Lacameron contou à sua família sobre Lua Branca. Todos o parabenizaram, exceto seu pai, o velho Tucameron, que o atacou, derrubando-o ao chão e rosnando ameaçadoramente:
— Se você se juntar a essa cadela, será expulso do clã da família e se tornará um vira-lata como ela!
Lacameron, já decidido, levantou-se com firmeza. Ele olhou para seu pai e disse, com voz resoluta:
— Então eu deixarei o clã.
Sem olhar para trás, Lacameron abandonou sua família e foi morar em uma caverna nas montanhas de Azaton, longe de tudo que conhecia. Lá, ele e Lua Branca encontraram paz e construíram uma vida juntos.
Uma noite, Lacameron e Lua Branca foram surpreendidos nas pradarias de Azaton por um grupo de caçadores de lobisomens. Armados com lanças de prata e fogo, os caçadores avançaram, determinados a acabar com a lenda que tanto os desafiava. Lacameron rosnou, os olhos queimando com fúria. Com um salto, ele se lançou sobre o primeiro caçador, despedaçando-o em segundos. Lua Branca, ao seu lado, atacava ferozmente, seus dentes afiados encontrando a carne dos inimigos.
A batalha era intensa. Os caçadores eram numerosos e bem treinados, mas Lacameron e Lua Branca lutavam com a força do desespero e do amor. Eles se moviam em perfeita sincronia, um protegendo o outro, desferindo golpes mortais nos oponentes. Contudo, o líder dos caçadores, um homem astuto e cruel chamado Lulan, conseguiu ferir o braço de Lacameron com uma lança de prata. O lobisomem urrou de dor, mas não desistiu.
Lua Branca, vendo seu companheiro em perigo, atacou Lulan com toda sua fúria. Ela mordeu o braço do caçador, forçando-o a soltar a lança. Lacameron, mesmo com o braço ferido, ergueu-se e decapitou Lulan com suas garras afiadas. Os caçadores, ao verem seu líder morto e Lacameron despejando toda ferocidade sobre todos que os atacavam, começaram a fugir em desespero, deixando Lacameron e Lua Branca sozinhos. Mas Lacameron os perseguiu e matou um a um, empalhando todos com suas lanças de prata. Ele levou a cabeça de Lulan e a jogou dentro do acampamento que a turba de caçadores tinha levantado na planície de Azaton, aos pés das montanhas onde ele morava com Lua Branca.
Exausto e gravemente ferido, Lacameron caiu ao chão. Lua Branca lambeu suas feridas, com os olhos cheios de preocupação. Ele sorriu, acariciando sua cabeça.
— Sobrevivemos, Lua Branca. Juntos, sempre.
Com o passar dos anos, uma lenda nasceu: a história de um lobisomem que caçava nas noites de luar junto de uma grande cadela branca. Eles se tornaram figuras lendárias, símbolos de liberdade e amor incondicional, vivendo nas sombras das montanhas, longe do mundo dos homens e dos lobisomens.