O sono da Besta
Jazendo em sono profundo, a Besta sibila como se estivesse em vigília, sempre atenta, pronta a preencher os espaços de seus grandes estômagos. Desfalecida, os silvos dela são úmidos, gasosos, e de suas narinas protuberantes se exala um odor insuportável, miasmas pestilentos que preenchem o ar. Os guinchos que ela solta no processo de inspirar e expirar penetram fundo nos tímpanos e, uma vez dentro de nós, congelam o sangue nos vasos. Até a mínima, e inevitável, emanação do calor que se desprende dos corpos dos vivos inquieta a criatura desfalecida, que parece sempre pronta a despertar para avançar.... Mas não, ao que parece, ainda não!
Meus passos são macios e calculados enquanto ando ao redor da criatura, mas a cada movimento que planejo eu vejo que a Besta se contrai e depois relaxa......, alinhada as minhas ações de alguma forma. Sinto que há nela repulsa e desejo, há expectativa fervorosa. Neste momento estou mirando sua face mortiça e plácida em busca da cor vívida de suas orbitas reptilianas, mas não... Ainda não! Seu sono se mantém, mesmo que pareça um sono perturbado e, eu diria, que nada restaurador.