O sono da Besta

Jazendo em sono profundo, a Besta sibila ao ritmo dos passos dos andarilhos como se estivesse em vigília, atenta, pronta a preencher os espaços de seus grandes estômagos. Os silvos dela são úmidos, gasosos, e de suas narinas protuberantes se exala um odor insuportável. Os guinchos que ela solta no processo de inspirar e expirar penetram fundo nos tímpanos e, uma vez dentro de nós, congelam o sangue nos vasos. Até a mínima, e inevitável, emanação do calor que se desprende dos corpos dos vivos inquieta a criatura desfalecida, que parece sempre pronta a despertar para avançar.... Mas não, não ainda!

Meus passos são macios e calculados enquanto ando ao redor da criatura, mas a cada movimento que planejo eu vejo que a Besta se contrai e depois relaxa......, alinhada as minhas ações de alguma forma. Sinto que há nela repulsa e desejo, há expectativa de todo modo. Neste momento estou mirando sua face mortiça e plácida em busca da cor vívida de suas orbitas reptilianas, mas não... Ainda não! Seu sono se mantém, mesmo que pareça um sono perturbado e nada restaurador.

Leonardo Castro
Enviado por Leonardo Castro em 20/06/2024
Reeditado em 25/06/2024
Código do texto: T8090229
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