A bala de prata

Um velho homem, que morava isolado do mundo civilizado por ser amaldiçoado pela luz do luar, numa noite quente de verão, após se transformar em um grande e sanguinário lobo, resolveu subir a montanha mais alta daquelas terras que habitava há anos. Chegando ao topo do grande monte, deparou-se com o céu límpido e, à sua frente, suspensa no espaço, estava a grande lua parada e iluminada. Ela lhe trouxe muitas recordações perturbadoras. Mesmo com seus instintos lhe pedindo para caçar e sua grande boca salivando por sangue fresco, ele se conteve, levantou sua cabeça, olhou para o nobre astro e gritou:

— Tu és a minha carrasca, minha desgraça, minha prisão. Conto os dias... Se eu pudesse, parava o tempo só para tu, ó lua, ficar sempre nova e não mais liberar essa fera angustiada e errante. Lua, devolve-me o coração de homem e sepulta esse coração de besta!

O vento soprava forte e a vontade de matar aumentava a cada segundo. Mas a criatura se queixava à lua com uivos estridentes, correndo de um lado para o outro. No fundo, ele sabia que sua triste sina já estava traçada e que o astro noturno também cumpria o seu destino, lentamente, de fase em fase, até chegar ao ápice do seu ciclo lunar: a lua cheia. Cheia de luz, cheia de mistérios. E naquele momento, dentro daquele ser, havia uma luta terrível entre a natureza animal e a natureza humana. Mas a força da grande lua controlava sua natureza bestial. Ele grunhiu, olhou para sua mestra, levantou suas garras afiadas e uivou. Naquele instante, só a natureza animal prevaleceu.

Ele desceu a serra como um raio, entrou em um vilarejo e, sem piedade ou misericórdia, matou como nunca tinha matado. Aproveitando que a noite estava clara, um camponês conseguiu ajustar a mira de sua arma no peito da fera descontrolada. Puxou o gatilho e a bala de prata venceu a besta, libertando o monstro e o homem de seu destino dual. A lua prateada foi derrotada pela bala de prata disparada por um homem que libertou um pouco da fera que, até aquele momento, estava adormecida em seu coração.

Alexandre Tito
Enviado por Alexandre Tito em 07/06/2024
Código do texto: T8080297
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.