A menina que vendia doces:
Era uma noite fria e sombria quando Daniel, o vigilante noturno da velha estação de comboios, começou o seu turno. A estação estava desolada a essas horas, e os últimos ecos dos comboios tinham desaparecido há horas. Daniel estava acostumado com a solidão do lugar, mas naquela noite algo parecia diferente; um sussurro imperceptível no ar, uma sensação de não estar completamente sozinho.
Enquanto fazia sua ronda habitual, Daniel ouviu um som incomum: o suave ranger de papel celofane. Virou para a plataforma e viu uma pequena figura de pé sob a luz piscando de um poste.
- Senhor, quer comprar-me uns doces? — perguntou uma menina, estendendo em direção a ele uma caixa de doces coloridas. Usava um casaco desgastado e seus sapatos pareciam grandes demais para seus pés.
- O que fazes aqui às 2 da manhã? A estação está fechada — respondeu Daniel, sua voz tingida de surpresa e preocupação.
- Por favor, senhor, compre-me um doce. Preciso do dinheiro para voltar para casa — insistiu a menina, seus olhos grandes e suplicantes olhando para ele fixamente.
Daniel, embora confuso e um pouco alarmado com a presença da menina nessas horas, sentiu uma profunda compaixão. Aproximou-se, tirando algumas moedas do bolso, mas uma súbita intuição o impediu.
- Você é... Você? A menina que morreu vendendo doces aqui há anos... —murmurou quase para si mesmo, lembrando a velha lenda urbana que circulava entre os funcionários da estação.
A menina olhou para ele e, por um momento, o seu sorriso pareceu conter um segredo triste e eterno. Então, diante dos olhos descrentes de Daniel, sua figura começou a desaparecer lentamente, deixando para trás apenas a caixa de doces no chão e um eco de riso infantil que flutuava no ar frio da noite.
Daniel ficou parado, chocado, olhando para o lugar onde a menina tinha estado. Pegou na caixa de doces e notou que estava coberta por uma fina camada de pó, como se estivesse lá há anos. Nesse momento, ela percebeu que tinha encontrado o espírito da menina perdida, condenada a vaguear pelo lugar da sua última esperança e tragédia.
Na manhã seguinte, Daniel compartilhou sua experiência com seus colegas, que ouviram com uma mistura de cepticismo e medo. Eles decidiram colocar a caixa de doces em uma pequena vitrine na estação, com uma placa que contava a lenda da garota vendedora de doces.
A história de Daniel tornou-se parte do mistério local, atraindo curiosos e aqueles que procuravam experiências paranormais. No entanto, para Daniel, a experiência tinha-lhe deixado uma profunda sensação de melancolia e um lembrete de que, às vezes, as almas que não encontram descanso permanecem ligadas aos lugares que outrora significaram algo para elas.
Nunca mais viu a menina, mas todas as noites, enquanto caminhava na plataforma, podia jurar ouvir o som suave de papel celofane e um riso distante, lembrando-a da presença eterna daqueles que um dia passaram pela noite