QUANDO O INFERNO CAIU DO CÉU – CLTS 27

Meu paladar já estava antecipando o gosto da cerveja gelada do bar do Marquinho Alemão para fechar aquela semana de trabalho duro. Sim, porque o trabalho de um policial militar é dureza.

Correr atrás de ladrões, assassinos, tarados, traficantes e de toda a sorte de degenerados, perseguir pessoas que de quem todos querem se afastar é trabalho para quem é maluco. Ou para quem, como eu, não tem um bom senso de perigo. E quando é necessário a luta corpo a corpo? Encarar um estranho violento e cruel? Você sabe qual é a sensação de “sair na mão” com um assassino?

Um policial sabe. Eu sei. E é por isso que meu fim de semana é sagrado. A não ser que eu esteja de serviço, estarei infalivelmente acompanhado pelos amigos e pela cerveja, tocando seresta no bar do Marquinho Alemão. E com um pouco de sorte, a seresta me trará a companhia de alguma moça encantada pelos romances cantados nas músicas.

O mês se iniciava naquela sexta-feira, e eu não estava escalado. Pagamento na conta, tempo bom e violão a postos... Felicidade total. O que poderia dar errado? Marquinho já tinha ligado dizendo que o tambaqui já estaria na brasa às quatro. Além disso, o Duarte, amigão dos tempos do Colégio Militar, estava em Manaus para visitar a família. A noite de “causos” e cantoria prometia.

Enquanto eu pensava nas horas agradáveis que a noite me traria, fui interrompido pelo Cabo da Guarda:

__ Tenente Aguiar, o ajudante geral que falar com o senhor.

Será que estragarão minha noite? Odeio mudanças em cima da hora. Dirigi-me à sala da ajudância com um misto de curiosidade e frustração antecipada. Parei diante da sisuda porta de madeira negra, na qual se lia

“Tenente-Coronel Roberto Valle – Ajudante Geral”

e dei três toques com as costas da mão direita.

_ Entra! – foi a resposta vinda lá de dentro na voz calma, porém sempre resoluta do coronel Valle.

Entrei e me apresentei enquanto o ajudante geral, meio que dispensando a apresentação, me apontava uma cadeira para que eu sentasse. Temi que a conversa fosse longa, pois conversas longas com um chefe militar perto do fim do expediente são movidas a problemas sérios. E isso era tudo o de que eu não precisava naquele momento.

_ Aguiar, o comandante-geral irá acompanhar o governador em uma solenidade na segunda-feira e ligou agora para avisar que quer que a escolta seja feita por militares da nossa OM! Você será o comandante do grupamento de escolta. Entendido?

_ Sim, coronel! Zero trauma! Mas não era o capitão Mateus, o próximo na escala de representação externa? _ respondi com um tom de voz que denunciava minha vontade de saber o porquê da mudança.

O coronel levantou as sobrancelhas volumosas e desarrumadas e explicou com cara de quem fala o óbvio:

_ O Mateus é um dos oficiais mais enrolados que eu já vi. Não posso escalá-lo para ficar perto do governador e do comandante-geral. Você nem precisa falar nada, entendo sua posição. Mas preciso de um cara “safo” na situação. Entenda isso como um elogio.

_ Perfeitamente, Coronel! – respondi, contrariado, porém conformado, afinal sabemos que, na vida militar, a recompensa de quem trabalha direito é mais trabalho. Fingi que não ouvi a crítica a um oficial mais antigo que eu... O coronel informou-me de que a tal missão começava com a equipe pronta e equipada às cinco da manhã partindo para o palácio do governo às quinze para as seis. Madrugada e confusão!

Mas isso era assunto para a segunda-feira. Agora, era aproveitar a sexta.

***

Às dez da noite, tudo estava maravilhosamente agradável. Música, cerveja, conversa com o amigo Duarte e os flertes impulsionados pelo meu violão.

_ Aguiar, lembra de quando você sacaneou o professor de Física? A turma toda ficou te olhando incrédula! _ disse Duarte, rememorando um antigo mal-entendido que ficou na história de nossa turma.

_ Bicho, eu não sacaneei o Teixeira! Ele era um professor muito de boa! O povo entendeu errado e... _ não tive tempo de completar a frase, pois a visão de uma de nossas viaturas se aproximando em alta velocidade, com sirene e giroscópio ligados capturou minha atenção. Enquanto me punha de pé e entregava o violão ao Duarte, a viatura freou bruscamente. Dela saíram, esbaforidos, o Sargento Albernaz e o Cabo De Souza. O bar todo parou. Correndo em minha direção, os dois pararam, ofegantes diante de mim:

_ Tenente, aconteceu uma desgraça! _ disse Albernaz _ O coronel Valle mandou achar o senhor de qualquer jeito! A PM toda está de prontidão na capital!

Enquanto Albernaz falava, o cabo De Souza gesticulava balançando as mãos, ansioso querendo falar: Parece que tá com pulga, rapaz! O que tá acontecendo, afinal? – os dois responderam a uma só voz, como se tivessem combinado.

_ Mataram o comandante-geral da PM!

_ Eu quero Pedro Diabo preso não importa o que precise ser feito! _ O berro do coronel Valle ecoou pela sala acompanhado pelo som do murro que deu na mesa. Clima tenso. Todos os militares da OM reunidos. Férias e licenças suspensas. Prioridade total à busca e captura do bandido que assassinara o comandante-geral da PM do Amazonas.

Não precisa ser um paranormal para saber que o mesmo estava acontecendo em todos os quartéis da PM de Manaus. As equipes foram sendo designadas e fui incumbido de comandar uma patrulha que seguiria para um município do interior que, segundo rumores, era onde a mãe de Pedro Diabo morava. Como antecipação, seguiríamos descaracterizados para espera-lo, se acaso fosse se esconder lá.

Tenho toda a certeza do mundo de que todos os policiais no encalço do Pedro Diabo estavam babando pelo desejo não só de vingança pela afronta à corporação, como pelo passado sujo do bandido: estupro seguido de morte, abuso de criança e assassinatos de aluguel. Na verdade, quero muito por minhas mãos nele. Nem preciso da foto que distribuíram na reunião. Já gravei sua cara medonha.

Assim, às três da manhã de sábado, eu estava a bordo de um barco, seguindo para o município de Paracaxi*. Comigo, iam também o Sargento Seixas e o Cabo Salomão. Seixas, um excelente atirador e Salomão, um mateiro da melhor qualidade. Se Pedro Diabo estiver em Paracaxi, não escapará de nós. A mescla de busca por vingança e cumprimento do dever nos impulsionava.

***

O céu noturno é fantástico quando se navega por um rio que serpenteia pela escuridão absoluta da floresta amazônica. Estávamos quase no fim dos dois dias e duas noites de viagem pelo rio e, longe de toda poluição luminosa das luzes da cidade, o céu noturno era coalhado de estrelas. Tão numerosas! De uma forma que jamais imaginaríamos ver no céu sobre a cidade.

Seixas apontou para o céu: Olhem lá! - disse com incontida excitação.

No alto, uma chuva luzes azuladas riscou o tapete negro da noite. Partindo de um único ponto, como se fosse do epicentro de uma silenciosa explosão, as brilhantes estrelas cadentes roxo-azuladas riscaram o céu da madrugada.

***

Chegamos a Paracaxi ao amanhecer, no fim da segunda noite de viagem. Incógnitos, com nossas mochilas e roupas civis, nossa missão era circular pela cidadezinha e ficar de olho até o momento em que, se Pedro Diabo aparecesse por lá, “dar o bote certeiro” e levá-lo de volta a Manaus, para que pagasse por mais esse crime.

No porto, a algazarra dos peixeiros anunciando seus produtos se misturava ao barulho dos motores das embarcações causando tamanho alarido que mal podíamos conversar.

O cheiro de peixe, juntamente com o cheiro de fumo de rolo e do escapamento dos motores dos barcos, completava a horrorosa sensação de nossa chegada. Quando já estávamos um pouco distante do turbilhão, dirigi-me aos meus comandados:

_ Seguinte, nossa primeira ação será procurar uma pousada aqui mesmo pelo porto para que possamos observar os que chegam. Se nosso homem chegar aqui, temos de ser capazes de surpreendê-lo.

_ Mas chefe, e se ele se prevenir e saltar do barco para avançar pela mata? - perguntou Salomão, fazendo jus a sua experiência de mateiro.

_ Nesse caso, Salomão, entra em cena a segunda parte de nossa estratégia: estaremos misturados à população e frequentando botecos, inferninhos e os buracos onde esse tipo de cara gosta de ir. Além de que circularemos por perto da casa da mãe dele. Mas não acho que ele se arriscará pela mata. Não tem como ele desconfiar que estamos aqui.- respondí confiante. Os homens assentiram com um movimento positivo de cabeça.

***

Três dias de campana na casa da mãe de Pedro Diabo e ainda nada de ele “brotar” por lá. Fazíamos um revezamento em que alternávamos a vigilância da casa da mãe dele, os botecos e outros locais prováveis de receber a visita de um criminoso vida louca como ele. Encontrávamo-nos para fingir jogar sinuca e conversar fiado. Era o momento em que trocávamos informações. Além disso estávamos hospedados em bibocas na área portuária e podíamos conversar discretamente à noite.

***

Na tarde do quinto dia, estávamos os três, em outro boteco, perto da casa da mãe de Pedro. A velha tinha saído às dez da manhã, como fazia religiosamente, para ir ao mercado municipal.

_ Acho que vamos morrer de tédio e o infeliz não vai aparecer. – disse Salomão com visível insatisfação.

Enquanto ouvia a reclamação do companheiro, minha atenção se fixou em uma menina que brincava animadamente com uma garrafa cheia de um líquido azulado que parecia brilhar. Como estávamos à luz do dia, tive um pouco de dificuldade para distinguir se a luminosidade era realmente do líquido ou era reflexo do Sol no vidro da garrafa. A menina molhou a mão e passou no cabelo que, imediatamente, se tornou luminoso. As gotas que caíram no chão salpicaram pontos brilhantes na terra do meio-fio.

Chamei os outros dois para que também observassem, mas eis que começaram a surgir camelôs vendendo garrafinhas da água brilhante e pessoas exibindo luminescência no rosto e outras partes do corpo. Alguns a bebiam. Em pouco mais de dez minutos, a rua se transformou num furdúncio. Do outro lado da rua, a mãe de Pedro Diabo retornou para casa com suas pequenas compras diárias. A velha senhora abriu o portão sem dificuldade e adentrou, como era de seu costume. Nenhuma novidade.

_Tenente! – o sargento Seixas cutucou-me o braço, olhando fixamente para uma tenda de venda de ervas medicinais.

_Nosso homem apareceu! – disse Seixas. Eu e Salomão dirigimos nossos olhares para o local indicado. Aparentando ser mais perigoso do que nas fotos que vimos, Pedro Diabo estava ali. Rápida e sutilmente, acercamo-nos da sinistra figura, prontos para realizar a prisão. Salomão aplica-lhe um mata-leão, enquanto eu aponto minha arma bem em sua cara. Seixas , de arma em punho, fazia a segurança da equipe, afinal, alguém poderia nos atacar para libertar o prisioneiro. Além do mais, ninguém sabia o que estava acontecendo. Nem vigorosas tentativas do bandido para se livrar do golpe bem encaixado, nem seu esgar de ódio e os olhos arregalados puderam impedir que apagasse pela falta de ar.

Identificamo-nos como policiais para os circunstantes e, ao começar a amarrar o preso, gritos lancinantes e numerosos explodiram simultaneamente e de várias direções. Grupos de pessoas começaram a urrar, com as faces distorcidas e as bocas arreganhadas, a garrando quem estivesse pela frente e ... Meu Deus! Mataram as vítimas com mordidas e rasgando-lhes as entranhas com as próprias mãos! Bandos de endemoniados agarraram transeuntes e os destroçaram-nos com mãos nuas e potentes mordidas. De repente, havia sangue e vísceras por todos os lados.

Nossa Senhora! Que diabo é isso? Tenente, vamos nos arrancar daqui! – disse Seixas, enquanto se benzia.

_ Abriram a porta do inferno! Vamos embora! – completou Salomão.

A barafunda generalizada ao redor mergulhou-nos em sangue, gritos de pavor, gritos de socorro e os rosnados dos loucos possessos que atacavam tudo o que se movia ou respirava. No meio da horda enlouquecida, a menina que momentos antes brincava com a água azulada parecia um pequeno demônio mordendo e rasgando a carne de quem estava ao seu alcance.

Tudo isso ocorreu no intervalo de alguns segundos e por incrível que possa ´parecer, o instinto de sobrevivência soou como uma trombeta em minha cabeça e reagi.

Atirei nos dementes que vieram em nossa direção. Bocas abertas como animais ferozes. Olhos esbugalhados e cheios de ira. Seixas e Salomão também derrubaram alguns dos enlouquecidos. Salomão levantou o bandido desmaiado e o colocou nas costas para transportá-lo. Ato contínuo, Seixas e eu lhe demos cobertura. Corremos em direção à pousada. Urros dos atacantes e tiros de nossas armas eram a trilha sonora de nosso deslocamento. Subitamente, senti uma dor excruciante na panturrilha esquerda e não pude segurar o grito de dor. Era a menininha do cabelo brilhante. Agarrada à minha perna e mordendo insistentemente como um animal feroz, fez com que eu sentisse seus dentes atingirem minha tíbia.

Seixas não hesitou e a matou com um único disparo. A ação imediata e instintiva do sargento só recaiu em sua consciência um átimo após o disparo. Seus olhos eternamente alertas marejaram. Mancando, com muita dor e sangramento, continuei a corrida enquanto o corpinho inerte caiu na sujeira da rua. A porta da pousada estava trancada, logicamente, por precaução do dono. Esmurrei a porta e gritamos:

_ Seu Lourenço! Somos nós, os hóspedes do segundo andar. Precisamos entrar!

Lourenço abriu a porta e nos recebeu com sua melhor cara de medo.

_ O que está acontecendo? Será que é o fim do mundo? Que horror! – disse levando as duas mãos à cabeça.

***

Do lado de fora da pousada, a noite é feita de silêncio. Após as cenas de canibalismo hidrófobo que vivenciamos à tarde reina uma calmaria fúnebre. A rua embaixo da janela está cheia de cadáveres destroçados. Apenas alguns cães se aventuram por lá, comendo pedaços dos corpos com toda a calma e naturalidade. Pedro Diabo, já desperto, estava amarrado no canto do quarto. Ele agora era o menor de nossos problemas. Amordaçado e sem saber do pavoroso momento que estávamos vivendo, olhava para nós com olhos faiscantes de ódio. Por um instante lembrei-me de sua mãe. Afastei imediatamente esse pensamento. Talvez a velha já tivesse morrido. Ou virado um monstro.

***

A pousada tornou-se nosso bunker enquanto elaborávamos um plano de ação para retornar à capital. Todos os telefones estavam mudos. Não sabíamos se aquela loucura tinha se espalhado. E se o mundo todo estivesse assim? O que poderia ter causado aquele surto coletivo? Enquanto pensava, o som de um automóvel desmentiu minha suposição de que éramos os únicos vivos no município. Mesmo sem saber a situação em outros locais, o vazio que tomou conta da noite nos dava uma sensação de isolamento.

Agora sabendo que não estávamos sós, desci para falar com Lourenço. Encontrei-o atrás do balcão empunhando uma espingarda sob a luz mortiça que emanava de uma garrafa cheia da água azulada brilhante. Subitamente, fiz a conexão entre fatos ocorridos recentemente. O homem que bebeu a água azul e a menina que a passou no cabelo estavam entre os enlouquecidos. E além disso... A cor da água era a mesma da estrela cadente.

_Você abriu essa garrafa? Teve contato com a água? – perguntei.

_Não, nem abri!

_ Então não mexa, entendeu? Sabe de onde ela vem?

_ O camelô disse que o igarapé do centro da cidade está todo azulado e brilhante. Muita gente pegou lá. Tinha até gente tomando banho lá. Só pra ficar brilhando no escuro.

***

Na manhã seguinte, o cheiro dos corpos insepultos na rua já começava a se espalhar. Eu e Seixas “roubamos” um carro e fomos verificar a situação do igarapé mencionado por Lourenço. Salomão ficou de guardando nosso preso. Até o dia do surto, ninguém sabia de nada de diferente sobre aquele curso d’água. Eu já havia contado a eles minha teoria da estrela cadente. Se os pedaços caíram na água que abastece a cidade, era só questão de muito pouco tempo para a cidadezinha virar um inferno. A teoria não foi bem recebida por Lourenço e meus comandados.

***

No caminho, as cenas eram de filme de terror. Muita gente morta. Gente destroçada e gente inteira. Mas tudo gente morta. Seixas expressou uma ideia e descemos do carro para verificar. Ele estava certo. A maioria corpos inteiros tinham partes reluzindo em azul. Os corpos inteiros sem luminescência devem ter bebido a água. Eles atacaram os demais. A teoria de Seixas era de que, uma vez contaminada, a pessoa surta e após algum tempo, morre.

***

Chegando ao igarapé após vermos muita morte pelo caminho, vimos a água fluindo em quase normalidade. O fluxo da correnteza, barulho da água ao contornar as pedras, a presença dos seixos no fundo das partes mais rasas... Tudo normal, a não ser a cor roxo-azulada brilhante da água e das pedras e seixos do igarapé.

_ Percebeu que a luminosidade está mais fraca que a das águas engarrafadas? – observou Seixas. _Será que o efeito está diminuindo?

_ Não sei. Tomara que sim. Mas ainda acho que é culpa dos fragmentos da estrela cadente. -insistí.

Seixas me olhou e ergueu as sobrancelhas em silenciosa aceitação.

***

Dois dias se passaram sem mais incidentes e decidimos voltar para Manaus levando Pedro Diabo. A luminosidade das águas, mesmo as engarrafadas, estava desaparecendo rapidamente. O mistério dos que, assim como nós não se, contaminaram só explica se levarmos em conta que consumiram água já armazenada em suas casas antes da queda do meteoro. Quanto a nós, desde aquela tarde infernal, nem banho e nem um copo d’água sequer. Para a sede, os refrigerantes dos bares da, agora, cidade fantasma nos bastavam. Até mesmo nosso asqueroso prisioneiro foi contemplado com essa precaução. Foram os únicos momentos em que tiramos sua mordaça , estando fortemente proibido falar qualquer coisa.

***

O estado das ruas continuava lastimável. Apesar de termos, nós mesmos removido os corpos no entorno da pousada, o cheiro da decomposição vinha de toda a cidade. A patrulha estava fisicamente e espiritualmente abatida. Não comíamos há dias e vivíamos imersos em podridão. As forças já nos abandonavam. No limite da prudência aceitamos o pão velho que Lourenço comia e sempre nos oferecia. Havia sacos e maios sacos de pão duro como madeira. Mas foi o que nos salvou.

***

_ Tenente! Sargento! Corram aqui! – a voz do Cabo Salomão reverberou na portaria da pousada agora transformada em bunker. Para atende-lo em na urgência manifesta em seu grito, subimos tão rápido quanto possível, afinal, além da má alimentação, eu ainda amargava aferida em minha perna. Lourenço subiu conosco, mas parou na porta do quarto e abriu um sorriso. No canto que lhe cabia, Pedro Diabo, amarrado, estava morto. Boca arreganhada, olhos esbugalhados e sangue saindo de uma narina.

_ Não sei o que houve. Ele entrou em agonia . Igual àquelas pessoas que surtaram. Parecia que ia explodir e de repente, morreu! – disse Salomão.

Lourenço se pronunciou:

_Fui eu. Enfiei toda a água azul daquela garrafa na goela desse desgraçado. Agora ele nunca mais vai estuprar e matar criancinhas, como fez com minha filha .

FIM

EPIDEMIA

CONFISSÃO