Sob os olhos do Pai - CLTS 27
A gota de álcool recém-desprendida do algodão umedecido atravessava os poros da camada mais superficial da pele de João, percorrendo paralelamente os rastros deixados pelo sangue seco, contrastante com a aparência pálida de seu corpo, até se depositar nas profundas feridas abertas nos joelhos desnudos do menino. Sua mãe o havia deitado pouco antes de o sol aquecer os campos gelados do pequeno vilarejo. Ela sentou-se em uma cadeira ao lado da cama, observando atentamente a movimentação exaltada do tórax dele enquanto preparava os curativos.
À medida que ela tocava mais profundamente os machucados, mais as costas de João ficavam arqueadas, ele se revirava bruscamente no colchão, colocando as mãos enrijecidas e punhos cerrados em direção ao seu rosto. Seus olhos, completamente marejados, vagavam pelo quarto em busca de um sinal de conforto e empatia.
― Não adianta fazer essa cara de choro, João. Vai arder do mesmo jeito ― disse ela enquanto umedecia outro pedaço de algodão. ― Você deveria agradecer por eu estar aqui para te manter longe do pecado. Somos feitos à imagem e semelhança do Senhor, é nossa obrigação sermos perfeitos para entrar no Reino dos Céus.
Enquanto oscilava entre os involuntários movimentos abruptos e a completa exaustão de seu estado físico, João tentava se concentrar em como se moldar à imagem de Deus. Era de extrema importância para ele. Queria seu lugar no céu.
― O inferno está cheio de pessoas impuras como você. Se continuar se comportando mal, o Senhor vai te mandar para lá.
Com os olhos ligeiramente arregalados, ele balançava a cabeça repetidas vezes em negação. Aquela imagem era inconcebível para ele ― um completo absurdo. Não podia acreditar que Deus fosse tão injusto. Como se as rezas diárias, a leitura das escrituras sagradas, a obediência e a servidão ao Criador não fossem suficientes para comprovar sua genuína intenção de seguir uma vida impecável. João temia ser mandado para o inferno.
Após terminar o último curativo, ela se abaixou para devolver o frasco de álcool e o algodão em uma gaveta da mesa de cabeceira. Ao se levantar, colocou a mão na estátua de Nossa Senhora Aparecida em posição de bênção e a girou para alinhar com os outros santos presentes no quarto, sempre olhando em direção ao colchão, como uma arquibancada circulando o campo de futebol. Ela, então, cobriu o filho com um cobertor de lã que estava dobrado até a metade da cama e saiu do quarto.
O caminho até o quintal era curto, mas os passos calmos prolongavam o tempo do trajeto. No espaço entre a cozinha e a sala, era possível observar um pequeno amontoado de grãos de milho ensopados em uma larga poça de sangue. João tinha ajoelhado na noite anterior, com as mãos entrelaçadas e a cabeça baixa encostando no braço do sofá, chorando copiosamente e implorando pela salvação de sua alma. Ela ficou apreciando aquele vívido líquido esparramado ao redor da sala, e, gradualmente, um tímido sorriso começou a aparecer em seu rosto, uma breve sensação de dever cumprido a fazia se orgulhar de seu feito.
Enquanto João sofria com as dores dos ferimentos, sua mãe recordava suas próprias razões, profundamente enraizadas em sua história. Quando menina, cresceu sob a sombra de uma avó rigorosamente religiosa, uma senhora que acreditava que a salvação da alma vinha através da dor e da penitência. Sua mãe, submissa e silenciosa, aceitava esse regime como um destino inevitável. Assim, aprendeu que o amor e a disciplina eram indissociáveis, que a dor purificava e que a rigidez era uma expressão de cuidado. Para ela, João era um reflexo de sua própria alma, uma extensão de sua luta contra o pecado. Via-se como a guardiã de sua pureza, a única que poderia salvá-lo da perdição eterna. Acreditava que, assim como fora forjada na dor e na fé pela sua própria vó, estava agora moldando João para ser um guerreiro de Deus. Sua fé, imbuída de um temor quase palpável, era a única âncora que tinha em uma vida cheia de privações e medos.
João, com dificuldade para andar devido aos ferimentos nos joelhos, se esforçava para recolher as folhas caídas na frente de casa. Ele repetia mentalmente as ordens de sua mãe, preocupado em não deixar nenhum resquício de poeira espalhado pelo quintal. Varria compulsivamente, concentrado em cada detalhe, quando uma luz intensa ao longe, por entre as longínquas árvores, começou a chamar sua atenção. A princípio, tentou ignorar o brilho vindo do gramado, mas, aos poucos, sua imaginação de criança começou a despertar, pensando no que poderia ser aquele objeto misterioso. Ele especulava inúmeras possibilidades, tentando lembrar de algo parecido que já tivesse visto, até que sentiu a necessidade de descobrir o que de fato estava ali.
― Não se esqueça de que você tem outras tarefas a cumprir ― ela apareceu na porta, frustrando seus planos. Aquele não seria o melhor momento para sumir; seria muito arriscado.
Por alguns segundos, ela se concentrava unicamente em João, ignorando o cenário ao redor: os abutres pairando sob as nuvens e o barulho das folhas ao vento. Queria olhar diretamente para ele, observando o indefeso menino com a vassoura, tentando em vão cobrir o rosto bronzeado pelo sol com os olhos vagando pelo horizonte. Evitava encontrar o olhar da mãe. Os joelhos enfaixados, com os curativos desgrudando da pele, mal sustentavam o peso do corpo em pé. Tremia. Precisava sentar. Ao ver aquela cena, ela se abaixou, ficando de joelhos na altura do menino.
― João, às vezes eu tenho que ser dura com você. Não me dá outra escolha. Você tem sido um menino muito mal, e Deus não gosta disso. Não quer que Ele te castigue, certo? É para o seu bem. Você gosta da mamãe, não é? ― Ela tentava fazer contato visual, mas ele desviava o olhar. ― Gosta? ― ela insistia.
Timidamente, ele balançava a cabeça confirmando que gostava. Não havia nenhum sorriso em seu rosto.
― Isso. Muito bem ― ela apertou levemente a bochecha de João, levantou-se e entrou em casa, enquanto o menino continuava a varrer o quintal.
Noites passaram, o vento gelado soprava pela densa floresta, abutres sobrevoavam a única casa presente ali, longe de qualquer civilização. João, deitado na cama, não esquecia daquela forte luz. Estava curioso. Queria saber o que realmente seria. Temia, mas queria ir além dos limites impostos por Deus. Queria saber o que existia naquele lugar, se havia pessoas. Em toda a vida, sua mãe era a única imagem que conhecia. Não tinha amigos, era prisioneiro de sua própria fé. Ele era acorrentado em sua servidão, em tarefas que não lhe permitiam ser… criança.
Aos poucos, tomava coragem para sair daquela casa, mesmo que por alguns segundos. A curiosidade o consumia por dentro; precisava buscar a luz, mesmo com medo de cometer o maior pecado que poderia imaginar: a desobediência. Na noite seguinte, João ajoelhou no milho, com as mãos entrelaçadas e a cabeça abaixada sobre o braço do sofá, orando fervorosamente pela salvação de sua alma. Sabia que Deus não gostaria que ficasse longe de sua mãe. As feridas não tinham sido curadas e os grãos adentravam mais profundamente em sua pele. Ele cerrava os lábios e fechava os olhos com força; a dor ficava cada vez mais insuportável. Contudo, não iria desistir. Precisava cumprir uma punição severa para um pecado quase imperdoável.
Sozinho na sala, ele lançava suas orações aos céus. Sua mãe dormia no quarto, mas um silêncio opressor continuava a envolvê-lo como um manto sufocante. Sua consciência pesava. Ele olhava para o alto, onde a cruz imponente se destacava na parede, símbolo de uma fé que antes parecia inabalável. Por vezes, João se perguntava se toda aquela dor que sentia valeria a pena, se Deus realmente estava disposto a salvá-lo. Em certos momentos, começava a duvidar da existência divina, imaginando se não seria apenas uma criação da mente de sua mãe para preencher o vazio que ambos viviam. Sentiu um nó apertar sua garganta. Lágrimas escorriam por suas bochechas. A certeza que antes o confortava deu lugar a uma dúvida profunda. Sua vida parecia não fazer sentido sem a religião, que já havia consumido tanto do seu tempo. Ele se via perdido entre a necessidade desesperada de acreditar e a angústia esmagadora de encarar a possibilidade de que, no fim, não houvesse nenhum propósito maior.
João, após horas de oração, sentiu-se corajoso o suficiente para sair daquela prisão e ter uma noção do que seria a liberdade. Levantou-se lentamente, enquanto o sangue escorria por suas pernas, manchando o chão. Ele olhou rapidamente para o quarto, certificando-se de que sua mãe não perceberia sua ausência, e tentou correr o mais rápido que conseguia. Seus joelhos estavam flexionados, incapazes de se estender, e ele sentia uma dor excruciante. Ao dar o primeiro passo, a fraqueza em suas pernas o impediu de se manter de pé, fazendo-o cair para frente e bater o joelho no chão. Caminhar estava se tornando cada vez mais difícil, mas a necessidade de sair dali era urgente.
Sentado no chão, ele se arrastava com dificuldade em direção ao quintal, enquanto deixava um rastro de sangue fresco no chão. Seus frágeis braços faziam o máximo de força que podiam suportar. Ele era guiado pela curiosidade e pela imaginação de descobrir um mundo que jamais lhe havia sido permitido conhecer.
João, com os joelhos em carne viva, arrastava-se penosamente pela terra, sentindo cada grão de areia e cada pedra se incrustar em sua pele ferida. Seus braços, movidos por um impulso desesperado, tremiam de exaustão. O suor misturava-se ao sangue, formando um visco que escorria lentamente pelas suas pernas. A cada metro avançado, o menino gemia baixinho, sufocando seus gritos. À frente, uma luz intensa brilhava a quilômetros de distância. Mesmo com a visão turva pelas lágrimas, ele fixava os olhos no brilho. Cada movimento era uma batalha, e ele se agarrava à promessa daquela luminosidade distante como a sua última chance de salvação.
A floresta parecia conspirar contra o menino, erguendo obstáculos que testavam sua resistência. Galhos retorcidos e raízes salientes emergiam do chão, ferindo ainda mais seus joelhos. Ele sentia a aspereza da casca das árvores arranhando seus braços e pernas, enquanto o mato denso dificultava sua progressão. João, com a respiração entrecortada e o rosto sujo de terra, sentia o ardor dos arranhões e dos cortes frescos se somar ao tormento que já o consumia. Em um momento de descuido, sua mão direita escorregou em uma pedra úmida, fazendo-o cair com o rosto contra o chão duro. O gosto metálico do sangue se misturava à terra. Ele começou a sentir uma sensação de vertigem tomar conta de sua mente já enfraquecida. O mundo ao seu redor parecia girar em câmera lenta, enquanto as árvores dançavam num balé tortuoso e distorcido. Ele tentou se levantar, mas seus braços fraquejaram. Sua visão começou a embaçar, e ele piscou repetidamente, tentando clarear os olhos turvos.
O som da floresta ao seu redor tornou-se abafado, como se um manto de silêncio descesse sobre ele. Os cantos dos pássaros e o farfalhar das folhas foram se distanciando, transformando-se em um murmúrio indistinto. Seu coração batia descompassado, com a pulsação ecoando em seus ouvidos como um tambor distante. A dor em seus joelhos e braços começava a se dissolver em uma sensação de entorpecimento, como se seu corpo estivesse desistindo de lutar. Seu campo de visão foi se estreitando, as bordas se escurecendo até restar apenas um pequeno círculo de luz no centro. Nesse círculo, ele viu uma claridade penetrando a copa das árvores, um vislumbre de esperança que logo foi engolido pela escuridão. O menino deu um último suspiro, sentindo a fria umidade do chão em seu rosto, enquanto sua consciência se apagava lentamente, mergulhando-o em um sono profundo.
A mãe acordou e, ao perceber que o filho não estava deitado ao seu lado, sentiu um arrepio de raiva percorrer sua espinha. Levantou-se rapidamente e começou a percorrer a casa com passos firmes e decididos, os olhos faiscando de indignação. Cada cômodo vazio parecia uma afronta à sua autoridade.
― Vou mandar esse menino pro inferno.
Suas palavras eram carregadas de condenação divina.
Ao chegar à sala, seus olhos se arregalaram ao notar um rastro de sangue no chão. O vermelho vivo contrastava com o assoalho daquele ambiente. O medo e a raiva misturavam-se em uma tempestade interna. Seguindo o rastro de sangue com uma determinação feroz, ela saiu de casa e entrou na floresta. A cada passo, ela se sentia mais irritada e desesperada, suas preces internas se transformavam em murmúrios de raiva e súplicas por orientação divina. Determinada a encontrá-lo, ela se embrenhou na floresta, os olhos estavam fixos no chão. O rastro estava fresco; ela estava perto.
João, lentamente, começou a abrir os olhos. Seus braços tremiam enquanto ele se forçava a levantar. Sua visão embaçada fixava-se na luz distante. Cada movimento era uma tortura. Enquanto isso, sua mãe sentia a presença do filho mais perto, conseguindo ouvir sua respiração exaltada. O sangue no chão era um guia implacável. O menino usava as últimas forças para se mover.
Ele se arrastava.
Ela corria.
Ele mal sabia que sua mãe queria colocá-lo de volta à prisão.
Ela estava perto.
Muito perto.
A mãe parou para olhar ao redor. João a avistou. Tentou se arrastar com mais força. O desejo de escapar da opressão era mais forte que a dor.
Ele se arrastava.
Ela corria.
Ele caiu.
Ela o viu.
A mãe finalmente o encontrou na floresta, deitado entre as árvores. Sem dizer uma palavra, ela se aproximou e o levantou com força, ignorando seus gemidos de dor. O menino, ainda atordoado e machucado, não ofereceu resistência. Ele deixou ser arrastado de volta para casa, com os olhos fixos no chão enquanto sua mãe o puxava pelo braço. Ele não tinha forças para lutar contra ela.
De volta à casa, a mãe tratou o filho com mãos firmes e severas: limpou seus ferimentos com uma energia cruel, enquanto o menino suportava em silêncio, ciente de que escapar daquele controle era praticamente impossível. Ele se via como um peão no seu jogo de poder e autoridade, aprisionado em um ciclo inescapável de obediência e punição. Enquanto a mãe continuava seu cuidado, suas palavras ecoavam na mente do menino, penetrando fundo em sua alma e alimentando seus medos e culpas.
― Vou preparar o almoço ― disse ela.
Enquanto ela se acomodava à mesa para comer um prato de macarrão, ele comia com as pernas cruzadas, sentado no gélido piso. Ainda não tinha se elevado o suficiente para merecer estar ao lado dela. Ele era visto como um simples pecador, incapaz de alcançar a bondade divina que sua mãe exibia, dedicada a resgatá-lo de qualquer influência que desviasse seu caminho para o paraíso.
― Eu sei que não está fácil ― continuou. ― Um dia você vai perceber que não deve se afastar de mim. E no momento em que se arrepender, estarei aqui para recebê-lo de…
A mãe dele interrompeu sua linha de pensamento, virou as costas e voltou ao prato. Ao terminar o almoço, decidiu observar seu filho novamente. Seus olhos vagavam pela aparência pálida e franzina do menino, reparavam em cada detalhe dos cabelos ralos quase caindo ao chão, as pernas em uma tremedeira inconstante e as pupilas levemente dilatadas que insistiam em permanecer em sua face.
― Acho que você está um pouco fraco. Vou fazer mais comida para você.
Ele balançou a cabeça repetidas vezes, afirmando que já estava satisfeito. Ela insistiu. Voltou a preparar um caldeirão cheio. Alguns minutos se passaram e João ficou praticamente imóvel no chão. Sua mãe havia terminado de preparar a comida e, com o caldeirão recém-retirado do fogo, colocou-o ao lado do menino.
Ela ficou em pé, olhando fixamente para ele, queria vê-lo comer até o último pedaço daquela refeição. Sua face já não demonstrava qualquer expressão, estava completamente apática, não sentia mais pena, não mostrava qualquer sinal de tristeza, raiva ou mesmo felicidade. Estava tão consumida pela pressão de deixar seu filho perfeito que nem se importava em como castigá-lo. Em sua concepção, a aparência enfraquecida do menino era um indício que as influências do inferno estariam agindo para poder retirá-lo de sua proteção divina.
― Come logo. Quero ver você comer essa comida agora ― ela elevou um pouco a voz.
João, tentando controlar os braços trêmulos, se esforçava para comer mais um pouco. Sua pele começava a sentir pequenas pontadas, um formigamento que parecia não ter fim. Estranhamente, presenciou uma sensação refrescante no corpo que, de forma abrupta, deu espaço a um calor excruciante. Os pelos se arrepiaram com aquela intensidade de calor vinda da panela. Ele tinha começado a dissociar daquela experiência quando um barulho ensurdecedor passou a atingir a casa.
― Malditos abutres. Tá vendo o que você fez? Tão vindo te buscar ― ela apertou os passos em direção ao quintal, pegando uma espingarda pelo caminho.
João aproveitou a oportunidade para mover a panela, porém sua fragilidade o impediu de se libertar por completo.
Ouviu um tiro.
João tentou sair da cozinha o mais rápido que pôde, em vão.
Ouviu o segundo tiro.
Uma sombra aumentava de tamanho atrás do menino.
Ele tentou colocar a panela de volta no lugar.
A sombra se aproximava.
Em pleno desespero, João derrubou o macarrão no chão.
A sombra ficou ainda mais perto.
― O que pensa que está fazendo?
O menino olhou para trás. Sua mãe estava observando-o.
― Eu... Eu não aguento mais. Você virou um castigo de Deus. Sabe que era para ficar quieto ― ela gritou.
Ela apontou a espingarda para João.
― Espírito das trevas, eu exijo que saia daqui. Em nome do Senhor, liberte-o de todas as provocações desse mundo. Nos deixe em paz. Recorro a ti, Senhor. Peço ajuda para que me permita viver na perfeição de tuas obras, tua bondade. Me ajuda, Senhor. Me ajuda ― ela começou a rezar desesperadamente.
O ensolarado dia começava a apresentar as primeiras nuvens carregadas de chuva. O tempo pesava naquela região de uma forma que nunca tinha acontecido antes. Os primeiros raios rasgavam o acinzentado do céu, como um machado perfurando o tronco de uma árvore. Ela atirou.
Numa manhã, após uma noite especialmente turbulenta, onde os ventos uivavam como almas perdidas, a mãe de João encontrou-se sozinha. O menino não estava em seu quarto, nem nos arredores da casa. Os anos se passaram, e a mãe envelheceu rapidamente, consumida pela culpa e pela solidão. Sua fé, antes inabalável, agora se misturava com arrependimento e dúvida.
Certa noite, ao contemplar a estátua de Nossa Senhora Aparecida, que sempre mantivera ao lado da cama, sentiu uma estranha tranquilidade invadir seu coração. Talvez João estivesse finalmente em paz, longe da dor e da rigidez que ela impusera. Talvez ele tivesse encontrado sua própria luz, aquela que ele tanto buscara. Naquela noite, adormeceu com uma prece nos lábios, pedindo perdão. E enquanto o vento soprava gentilmente pelas árvores, uma estrela brilhante surgiu no céu, iluminando a escuridão. João, onde quer que estivesse, talvez tivesse finalmente encontrado a liberdade e a paz que tanto desejara, sendo acolhido pela proteção do Pai.
TEMA: PRISÃO