A lenda do navio fantasma chileno - o Caleuche
Sabemos de muitas histórias de barcos míticos, e essas histórias vem crescendo sem parar ao longo da história.
A relação do homem com o mar é tão profunda que vem de tempos incontáveis…
Desde a clássica Odisseia de Homero, onde temos o barco que transportou Ulisses, que após sobreviver à Guerra de Troia, empreendeu uma longa e perigosa viagem marítima de volta à casa para matar os pretendentes de Penélope, sua esposa, reafirmando assim seus direitos ao trono. E assim Ulisses e sua tripulação percorreram os caminhos da “Odisseia” e do maravilhoso mundo marítimo.
Mais atual temos as histórias de Mary Celeste e outras tantas inventadas sobre o Titanic com suas mortes trágicas, que tanto fascina todas as culturas contemporâneas.
Mas o que há de verdade é a certeza de que os oceanos são o lugar menos explorado do planeta e uma fonte inesgotável de mistérios.
E hoje eu trarei uma lenda de navio fantasma e criaturas marinhas aqui da nossa América do Sul, mais precisamente no chuvoso arquipélago chileno de Chiloé, um arquipélago composto por cerca de 30 ilhas que ficam ao norte da Patagônia e a sul da região dos lagos.
A ilha principal é a Ilha Grande de Chiloé, onde estão as maiores comunidades: Castro e Ancud.
Essa é uma história que supera muito as outras, talvez mais famosas por suas peculiaridades atuais.
Acho que vocês conhecem o filme Piratas do Caribe e provavelmente sabe que ele foi baseado em uma atração de um famoso parque de diversão, mas o que não sabe que há essa história que vou te contar agora que pode muito bem ter sido base na famosa série de filmes do nosso querido capitão Jack Sparrow!
A curiosa história do Caleuche, um sinistro e misterioso navio que assombra as margens chilenas, uma história que parece ser um rascunho descartado da história retratada no filme.
Histórias que se repetem como ondas do mar, se repetem em seus mistérios, ao longo de milhares de anos na memória dos homens.
Um chamado que põe em perigo quem vê este escuro navio fantasma.
As águas do Pacífico são imensas e misteriosos navios piratas em suas travessias clandestinas deixaram sua marca.
A partir de agora saberemos todas as versões e detalhes que cercam este navio fantasma.
O navio sinistro é capaz de provocar terror ou conseguir negociar com homens para obter mais almas para ajudar na sua eterna jornada, ele também é chamado de navio das bruxas ou do marinheiro.
Segundo Renato Cárdenas, professor, escritor e historiador chileno que dedicou grande parte de seu trabalho para investigar e divulgar cultura do arquipélago de Chiloé, Caleuche é um navio fantasma que percorre os canais do arquipélago com uma festa perpétua a bordo, de longe se pode ouvir a música que vem do navio e suas luzes são refletidas nas águas distantes, mas, raramente, a visão é clara, sua presença é anunciada com sons normalmente durante as noites de neblina.
Quando um som de confronto de correntes indica que o navio está se aproximando das Ilhas, entre a névoa surge o perfil é de um navio gigantesco e inconfundível!
O Caleuche pode ser incorpóreo e se passar por outros barcos, ele é indiferente as condições climáticas e às intempéries do mar.
Já, em outra versão da lenda, temos pessoas que estiveram a bordo participando daquela festa sem fim e sinistra, uma festa de mortos, eles dizem que o navio não tem capitão, ele é uma entidade em si!
O navio faz comércio com os homens da costa, troca bens por mais almas para sua tripulação, em especial, meninas somadas às festas, e depois, ele desaparece na vastidão do mar.
Mas até aí, ele se parece bastante com outros de outras lendas, porém, ele tem uma característica ímpar, que é a metamorfose.
O Caleuche pode assumir a forma de uma rocha ou de um grande tronco flutuante e sua tripulação é capaz de se transformar em leões marinhos ou golfinhos; se necessário, ele também pode desenvolver velocidades impossíveis mesmo para os maiores navios modernos.
Mas ele só é visto quando quer ser visto, e isso é fatal, o navio fantasma não hesita em sequestrar e aprisionar por toda a eternidade sua presa.
Existem duas maneiras de poder vê-lo sem ser descoberto: uma das formas é carregar um pedaço de champa, isto é, uma porção de terra fértil onde a grama cresce, e assim, os marinheiros espectrais e o próprio navio, que detectam a respiração dos vivos, com o cheiro da terra não conseguem “sentir” quem o espia.
A outra forma é que árvores como o Maki e o Tique parecem desorientar o instinto predador do Caleuche, e se a pessoa se esconder atrás de uma dessas plantas, você conseguirá observar o navio sem que seja descoberto!
A origem do Caleuche é meio confusa, uma teoria foi proposta de que a lenda pode ser uma adaptação da história de outro navio famoso, o Holandês Voador, outra teoria é ele esteja relacionado ao desaparecimento de outro navio holandês, com o qual compartilha uma curiosa semelhança, o nome “El Calanche”.
Sabemos que muitas histórias circularam sobre expedições europeias desaparecidas ao tentar cruzar o Estreito de Magalhães, o que também ajudou a fomentar esse tipo de lenda.
O que temos, na verdade, é que a lenda do Caleuche é muito mais do que uma simples história chilena de navio fantasma, ela alimenta o folclore, produz mais e mais teorias, uma delas é que os comerciantes que ficam ricos em pouco tempo, só conseguiram isso porque fizeram um pacto sombrio com o Caleuche, que fornece riqueza e bens em troca de novas vítimas
E, afinal, o que realmente acontece dentro do navio?
As versões mais conhecidas diz que o navio recolhe os mortos afogados no mar, daqueles que os corpos não são recuperados, e eles são levados para bordo e assim, ele tenha quem o tripule durante a eternidade em um festival sombrio e perpétuo!
O Caleuche é mais que um simples navio e teria sido criada pelo Millalobo, um ser mitológico da região muito semelhante a um Tritão, que tem a parte inferior de leão-marinho e a superior de homem, e seu rosto não é de humano, mas uma mistura das duas criaturas, considerado o segundo ser mais poderoso dos mares.
Quando Millalobo o criou, era apenas um navio, mas depois de um tempo, ele lhe deu o presente da consciência, além de seus poderes sobrenaturais, com o objetivo de o navio ser um cemitério flutuante, um lugar onde as almas daqueles que morrem no mar possam permanecer.
Porém, o plano original do Millalobo deu errado, pois o navio, depois que ganhou a consciência, além de recolher as almas dos afogados, começou a procurar por homens vivos para arrastá-los para seu interior.
E seu interior é uma aparição assustadora.
Pouco depois de se tornar um ser vivo, com consciência, o Caleuche se apaixonou por uma leoa marinha, e ele se transformou em um leão-marinho e nadou com sua parceira, mas o amor recém-descoberto teve um fim trágico quando alguns pescadores assassinaram a amada de Caleuche.
A partir daquele momento, ele jurou vingança contra os homens e começou a sequestrá-los!
Os tripulantes do Caleuche têm uma perna estranhamente retorcida a ponto de ficar colada nas costas.
Já outras versões asseguram que os tripulantes são pessoas muito bem-vestidas e simpáticas, mas uma simpatia artificial e com olhar macabro.
Ainda hoje dizem que, quando alguém se torna próspero em muito pouco tempo, é porque conseguiram fechar um acordo no qual eles prometeram manter o segredo e realizar determinados serviços à tripulação da embarcação, sendo que o serviço quase sempre é obter novos escravos para o navio ou emprestar suas casas para assuntos obscuros!
A lenda também reza que a tripulação Caleuche poderia viajar até territórios desconhecidos nas profundezas do oceano, onde se encontram cidades incríveis de tempos imemoriais habitados por criaturas da água e não só isso, mas que eles saberiam a localização de todos os tesouros perdidos no oceano, seja por naufrágios ou por ter sido escondido em tempos antigos por piratas e bucaneiros.
A tripulação do navio sinistro ainda deve favores ao Millobo e que o Caleuche não pode evitá-los... uma vez por ano as viúvas dos marinheiros podem subir na embarcação para confortá-los!
Para aqueles que preferem uma explicação mais racional, eles asseguram que a lenda esconde, até hoje, uma forte rede de contrabando marítimo com operações baseadas em Chiloé.
Bem, existem diversas versões, mas nem versão fantástica, nem a dos céticos até hoje conseguiu ter comprovação e pelo jeito nunca teremos… e assim, a lenda do Caleuche, um navio espectral encarregado de coletar as almas dos mortos e sequestrar quem decide espioná-lo, seguirá navegando pelos mares chilenos por toda a eternidade!