ESGANADURA DA LIBERDADE

As ruas são imundas e totalmente desoladoras por aqui. Eu ando como se não houvesse nada a me esperar em casa. É, não há nada que me espere em casa além de mais sujeira e desrespeito, ou alguma dignidade.

Continuo andando com o único vício que posso manter, alguns cigarros baratos que me fazem tossir.

Me lembro como se fosse ontem. Estava em mais um penoso dia de trabalho num beco escuro da esquina com meu cigarro na boca enquanto um cara nojento me tomava o resto de amor próprio que eu tinha. foi bem rápido e o dinheiro jogado na minha cara. apertei meu shorts e sai derramando nem sequer uma lágrima.

Mais tarde no mesmo ponto, o qual estava acostumada, fiz novamente, porém não pensei que as pessoas no mundo fossem piores do que são. Ninguém me viu sufocar e espernear com a esganadura que fui submetida de forma brutal por um morador de rua mais forte que eu. Eu era baixinha e com uns 40 kg de inutilidade.

No dia seguinte é que perceberam a minha falta, ou somente viram o corpo duro no chão de olhos vermelhos e boca aberta perto do lixo podre. Nesse dia eu chorei, de medo, mas as lágrimas não estavam mais lá quando isolaram o local.

Eu passei, me vi e sorri. Que miséria, Deus. Mas fui libertada nesse momento e colocada ao inferno de meus pecados. Embora eu já os tivesse pago dia após dia.