ELDORADO *

1. Ele ainda está lá, às margens do rio das sombras, onde o corpo de Suzane foi jogado e afundou alguns metros até boiar e ser encontrado.

O velho hotel Eldorado, de paredes avermelhadas, com seus balcões em madeira de jatobá, uma escada descascando e o piso velho destruído ainda resiste ao tempo.

Um Antigo Junghans Wurttemberg 1892 ainda enfeita as paredes, embora não possa mostrar as horas.

Era um Resort de luxo e um refúgio privilegiado, localizado em Caveiras ao Norte do estado do Paraná. Foi lá que Jaques Torres arranjou emprego de zelador e em pouco tempo trouxe Elisa e sua filha, Dani, para morar no anexo, ao lado do hotel.

2.

O ano era 1984 e Jaques estava feliz com o emprego de zelador, embora Elisa estivesse preocupada com a escola da filha.

O local era longe e afastado da Cidade e então eles decidiram que naquele ano, Dani Torres não iria mais à escola e no ano seguinte eles decidiriam o que fazer. O inverno era rigoroso nas serras paranaenses nessa época do ano e o hotel Eldorado não tinha praticamente movimento. E os funcionários não ficavam lá nessa época do ano.

3.

Quando tudo parecia ir muito bem, (enfim Jaques havia conseguido seu emprego), coisas estranhas começaram a acontecer.

— Ei, Jaques sempre me orgulhei de ter casado com você por você nunca beber e aqui todas as noites você está bebendo. O que está acontecendo-perguntava Elisa desesperada.

— Ei, não enche, eu preciso relaxar!

— Como assim?!por favor pare!

A menina Dani andava sozinha escondida pelos cantos durante à noite e podia prever coisas antes mesmo que elas acontecessem, era um tipo de premonição. Dani avistara no corredor do Eldorado, um menino peculiar de boné de cor roxa e um short preto, ele corria e desaparecia no imenso corredor, uma menina nua com o corpo cortado e uma boneca na mão e por fim uma mulher com os cabelos desgrenhados como se fossem cortados com faca. Ela abria a boca e tentava emitir um tipo de socorro, mas quando a menina tentava se aproximar, todos eles desapareciam.

Jaques ficava cada dia mais violento e agressivo e Elisa e sua filha não podiam deixar o hotel naquele inverno rigoroso porque havia somente o carro de Jaques que ele havia furado os quatro pneus em um dia de muita discussão em que estava bêbado. Ele também havia cortado toda a comunicação do hotel, cortando os fios telefônicos.

Durante o dia dormia muito e à tarde acordava como se nada tivesse acontecido.

4.

Em uma madrugada fria, às três horas da manhã, Dani Torres acordou e despertou sua mãe dizendo a ela que ficassem do lado de fora do Eldorado até o dia clarear, mas a mãe a repreendeu:

— Que diabos, você está dizendo Dani, são três horas da madrugada e lá fora está um frio horrendo!

— Ande, mamãe, por favor ande, temos que sair!

— Durma, filha e não se preo...

Antes dela concluir, Jaques entrou no quarto com um facão de inox Collins Stanley e partira para cima da mulher. Após relutar por um tempo ela se desvencilhou e as duas fugiram para fora do Eldorado.

Ao saírem Dani disse algo rapidamente baixo e quase imperceptível:

“Tia Suze vai morrer mamãe”.

Elisa quase não entendeu e continuou correndo de mãos dadas com a filha em evidente desespero e conseguiram se esconder em um galpão distante do hotel.

Naquela mesma madrugada, quase ao clarear do dia, Suzane irmã de Elisa que havia ligado diversas vezes, muito preocupada, foi até o Eldorado. Ainda fazia escuro e ao aproximar-se do hall de entrada a lâmina potente de Jaques lhe atravessara as entranhas e o sague grosso e escuro misturou-se ao floco de neve ao cair ao chão.

Elisa e Dani voltavam a passos lentos e avistaram a cena de longe e choraram alto.

Jaques tomou o corpo de Suzane nos braços e descendo alguns metros o lançou nas águas do rio das sombras.

Nesse momento podia se ouvir de longe os gritos desesperados da mãe e filha e então, Jaques ainda alucinado com os efeitos demoníacos do lugar, partiu pra cima de Elisa e a filha Dani, mas a menina fitou um olhar paralisante em seu pai e ele diminuiu a velocidade e caiu cambaleante para trás batendo fortemente a cabeça em uma pedra grande que havia ao lado de uma mexeriqueira enorme e o sangue escorreu pelas narinas.

5.

Elas correram e adentraram ao carro de Suzane deixando imediatamente o lugar.

Ao olhar para trás, poderiam avistar a fachada do famoso Hotel Eldorado que ia diminuindo aos poucos.

Elisa imprimia maior velocidade no Ford Escort L de sua irmã, enquanto a menina Dani revelara a sua mãe que o antigo zelador havia matado sua esposa, seu filho e sua filha ali mesmo no Eldorado e sentada no banco de passageiros, ela lia com avidez, mais um capítulo do livro “O Iluminado”, do mestre do terror, Stephen King.

*Inspirado em uma história de Stephen King para homenageá-lo.

Danilo Seraphim
Enviado por Danilo Seraphim em 07/04/2024
Reeditado em 07/04/2024
Código do texto: T8036965
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