Nos Portões do Inferno (17): Epílogo

Epílogo

Em uma clareira nas matas perto do que antes fora o Complexo Fazendário Bauernhof, um homem assava três lebres em uma fogueira improvisada; usava um tapa-olhos no lado esquerdo; no lado direito, uma enorme cicatriz descia da têmpora ao queixo. Duas gêmeas juntaram-se a ele, se diferenciavam apenas por uma pinta no queixo.

— Até quando viveremos aqui escondidos como animais? — inquiriu a gêmea de pinta no queixo.

Nesse instante, um barulho atrás deles fez com que se voltassem. Uma senhora de cabelos brancos se juntou ao grupo.

— Como ela está? — indagou a outra gêmea.

— Continua mal — segredou a senhora. — As balas envenenaram o corpo dela. Ela não vai conseguir se camuflar em uma aparência humana.

— Temos que fazer alguma coisa para ajudá-la. — disse a gêmea de pinta no queixo. — Nahemah é a mais poderosa de nós. Fomos subjugadas. Eu quero o couro dos Cartago!

— Belzebu vai pagar — disse a outra gêmea. — Sempre afoito. É claro que não perceberia uma armadilha. Eu vou despedaçar ele!

— Nós vamos! — disse a irmã.

— Tenham paciência — consolou a senhora. — Tudo tem seu tempo.

— Eu tenho um plano — disse o homem passando para elas um panfleto. Era um convite para a décima oitava Oktoberfest de Matangueira. — Precisamos nos revigorar. E aí vai ter um monte de excessos, bastante da energia que a gente precisa e algumas almas para reestabelecer as forças de nossa rainha.

— Você sabe que não é qualquer alma que ela precisa! — retorquiu a gêmea de pinta no queixo.

— Sei, mas isso é temporário, para uma melhora, para esperarmos até encontrarmos a alma certa.

— E depois? — indagou a senhora.

— Depois disso — continuou o homem —, vamos para uma casa abandonada que eu vi lá perto da autoestrada.

— Não precisamos de almas embriagadas — enfatizou a outra gêmea.

— Uma hora vai aparecer a alma certa — disse a senhora já concordando com o plano do homem.

— Vai aparecer sim — disse o homem —, pois a casa que eu falei é um motel que está desativado. A placa ainda está lá: Motel Cadillac. Vamos seguir com essa fachada de hospedaria. Vai chegar gente toda hora. Em algum momento vai aparecer alguém com a alma certa.

— E até lá, continuaremos a viver como animais acuados — disse uma das irmãs.

— Vamos — disse uma voz atrás deles.

Olharam para Nahemah. Ela emagrecera bastante, a pele escurecera adquirindo um aspecto de couro curtido. Parecia ser apenas pele e osso.

— Teremos paciência — ela continuou. — Essa virtude podemos cultivar. Nossa vingança irá chegar!

Fim

ISBN: 978-65-00-92694-1

Raphael Rodrigo Oficial
Enviado por Raphael Rodrigo Oficial em 29/03/2024
Código do texto: T8030462
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