O acampamento no solo cinzento
Uma vez, um grupo de amigos aventurou-se a acampar numa mata, conhecida como SOLO CINZENTO, devido às lendas que descreviam a floresta sendo coberta de cinzas quando anjos desciam dos céus. Foi um dia de festividade. Eles beberam, cantaram e riram durante todo o dia, até a inevitável chegada da noite. Inúmeras nuvens encobriam as estrelas no céu, enquanto um frio pairava sobre as pessoas. Assim, vestiram seus casacos, reuniram-se em círculo e acenderam uma fogueira no centro, cuidada por um rapaz chamado Will.
Will começou a narrar contos de terror com o intuito de incutir medo em seus companheiros de acampamento. Essas histórias giravam em torno daquele local específico, relatos de demônios assombrando aquele ponto, aquela floresta.
Conforme as narrativas, aqueles que acampavam no local, desapareciam da nossa realidade e eram levados ao inferno pelos demônios do Satanás. No entanto, a maioria de seus amigos estava demasiadamente embriagada para permitir que o medo se apossasse de seus corpos; na verdade, estavam mais focados em vomitar devido à bebida ou rir sem motivo aparente. Algumas exceções ouviam atentamente as histórias de Will, especialmente uma jovem chamada Gor, que, sem tocar uma gota de álcool nos lábios, absorvia os contos de tal forma que seu olhar permanecia fixo nos olhos do narrador; seus arrepios eram evidentes. O pavor evocado pelas histórias deixava Gor perplexa.
Gor continuou a ouvir atentamente as histórias de Will até que, com um vislumbre periférico, conseguiu distinguir uma sombra movendo-se ao redor da fogueira. No entanto, devido ao medo evidente que obscurecia sua mente, ela automaticamente associou como mera criação da sua imaginação, um produto do medo momentâneo que experimentava.
Em pouco tempo, outra sombra foi avistada, e ela alertou todos os seus companheiros sobre o que tinha visto. Talvez não fosse uma criação da sua imaginação afinal, mas ninguém deu importância; alguns estavam tão animados que não refletiram sobre quais sombras aleatórias poderiam estar observando-os. Poderia ser a sombra de algum animal ou simplesmente fruto da imaginação da garota. O próprio contador de histórias não prestou atenção e, ao concluir seus contos, juntou-se alegremente com os amigos.
Gor, assentada no mesmo recinto, percebeu uma pressão em seu ombro direito, como se uma mão ali repousasse. Instintivamente, voltou-se com espanto e defrontou-se com uma criatura revestida de densos pelos negros, olhos penetrantes e amarelados. A entidade, ereta, parecia atingir dois metros de altura. Diante daquela visão inédita, Gor se sobressaltou, proferiu um grito e, ao observar seus amigos ao lado, preparada para fugir, constatou que todos jaziam prostrados, adormecidos no solo.
Após alguns passos em sua corrida, ao olhar para trás, a criatura havia desaparecido. Apesar de seus esforços desesperados para despertar os amigos, Gor não obteve êxito. Enquanto alguns poderiam conjecturar que ela delirava, Gor também considerava tal possibilidade.
Um grito de angústia irrompeu de seus lábios e, ao piscar os olhos, encontrava-se dentro de uma das barracas, deitada ao lado de alguns amigos. A certeza de que tudo não passara de um pesadelo então lhe ocorreu. Erguendo-se ofegante, Gor saiu da barraca e, na penumbra, com a fogueira como única luminosidade, sombras moviam-se em torno do fogo, como se dançassem em sua luz.
Nesse instante, a jovem precipitou-se de volta para a barraca, indagando-se se testemunhara um pesadelo ou ainda nele se encontrava. Ao alcançar a tenda, deparou-se com seus amigos que antes repousavam ao seu lado, agora mortos e despidos, manchados de sangue. Um tinha a garganta cortada, outro a cabeça fendida ao meio; o terceiro, sobre o qual fixou os olhos, exibia apenas parte da cabeça, como se o restante tivesse sido devorado; por fim, havia um último cadáver cuja cabeça fora arrancada do corpo.
Diante dessas visões desoladoras, Gor começou a vomitar desesperadamente, seus olhos marejaram de lágrimas. Paralisada diante de seus amigos inanimados, sem saber como agir, sem decidir se deveria sair da barraca ou permanecer ali. Correr para fora na mata naquela escuridão sagrada ou permanecer junto à fogueira aguardando o aparecimento de algum colega?
Não houve tempo para ela tomar essa decisão, pois depois do seu segundo grito, a fogueira se apagou, e o céu noturno iluminou o ambiente ao ponto de conseguir observar o solo ficando coberto de cinzas, cinzas essas que estavam caindo do céu. Enquanto observava esse fenômeno, algumas risadas incomuns cercaram o ambiente ao seu redor, parecendo vir de todos os cantos, e o medo aumentava.
Seus olhos já não piscavam mais, seu coração acelerava intensamente, as pernas tremiam descontroladamente, seu corpo não permitia dar um passo sequer, sua voz já não saía mais, era como se ela estivesse perdida. Após alguns segundos exatamente no mesmo lugar, alguns seres começaram a emergir daquele solo coberto de cinzas, como se fossem almas malignas saindo do inferno. Dezenas deles saíram e agarraram a garota, levando-a para o local de onde vieram, debaixo das cinzas do solo. Gor debatia-se, tentava escapar, fugir, mas era fraca demais diante daquelas entidades, até que, por fim, foi engolida por completo.
“Na manhã seguinte, meus amigos e eu acordamos normalmente, sem nenhuma gota de sangue em corpo algum. Sentimos falta de nossa amiga, Gor, e procuramos por horas, mas não encontramos nenhuma pista. Ao partirmos, acionamos a polícia. Durante um mês inteiro, buscas foram realizadas pela garota foram sem sucesso; ela havia desaparecido por completo. Um ano após o ocorrido, eu, Will, fui sozinho numa manhã de domingo para o mesmo local onde acampamos naquela ocasião. Exatamente onde a fogueira foi acesa, havia uma árvore, e nessa árvore estava uma garota com uma corda amarrada no pescoço. Ao observar seu rosto, era Gor e não existia deterioração em seu corpo, era como se estivesse indo a óbito naquela mesma hora. No solo, exatamente abaixo onde se encontrava o corpo, havia uma porção de cinzas e um diário. Ao abrir o diário, estava registrado o ocorrido de sua morte”.
...............................