Vigilantes da noite. (miniconto)
Chão brilhante, fios dágua corrediços, reflexos da lua, e um caminhante — sem rumo? Vagando pelo mundo negro, a massa das trevas, como floresta, a cada momento se rasgava, tal como fazem os caçadores, para abrir caminho aos transeuntes solitários. Nessa teia é que as aranhas se remexem ferozes; isca, peixe fisgado, armadilha.
Um clarão no meio da noite, pertinho dos muros, acuado, indo rapidinho com passos macios, vez ou outra olhando para trás — como faz falta a ciência para alguns, não sabem que mal conseguirão enxergar as trevas se ficarem o tempo todo com os olhos socados numa tela. Uma precisão mediúnica é necessária: não se pode viver sem cogitar todas as vias que o perigo pode tomar para nos encontrar.
Enquanto a visão embaçada, desacostumada, mal vê os vultos ao longe, espreitantes, esses conseguem, e muito bem, distinguir até as curvas de seu corpo com o de um outro alguém de tempos atrás; e fazem mais e mais julgamentos cada vez que se aproximam. Assim vão, até migrarem do julgamento para a das oportunidades quando já estão a pouquíssimos passos. Assim é: no meio da noite, seja noite, seja sopro, senão será grito; ou cadáver.