Besouro - CTLS 26

Besouro

Era início de noite no Recôncavo Baiano, um fiapo de lua ganhava altura no céu limpo e estrelado, enquanto as telhas estalavam depois de mais um dia debaixo do sol forte. Uma leve brisa empurrava o ar quente através das ruas desertas. Naquela noite, nem a birosca mais fuleira ousou abrir suas portas e se o fizesse não encontraria nenhum cliente, pois nem o bebum mais xexelento ousou sair de seu canto. E apesar do calor sufocante, ninguém arriscou sequer abrir as janelas. Uma tensão esmagava a cidade e mexia com toda qualidade de gente.

Nas últimas horas do dia, o capataz do Coronel foi visto zanzando aos cochichos com o delegado e mais tarde uma leva de capangas se juntou na frente da delegacia. Essa tensão era ainda maior na vila de trabalhadores ex-escravos, que viviam ao pé do morro. Quem passava por ali podia jurar que nunca houve indivíduo por aqueles lados. Não se via sequer um lampião aceso, um som de uma alma vivente ou rastro de povo que fosse. E tudo isso se deu depois da notícia que chegou pela manhã.

No alto do morro, numa clareira no meio da mata, ouvia-se um berimbau chorar. Tochas iluminavam a área. A grande maioria do povo da vila estava ali, vestidos para homenagear seus orixás. No centro da clareira acontecia uma roda de capoeira, a mais triste que já se viu, era embalada pelo Mestre Alípio e seu instrumento, que chorava.

“Capoeira está de luto”

Cantava a plenos pulmões, sua voz ressoava profundamente nos corações de todos e encontrava eco em seus sentimentos. Quero-Quero e Morotó abaixaram suas cabeças no pé do Berimbau em reverência profunda e começaram a jogar.

“Berimbau entristeceu”

A música ditava o ritmo lento da ginga. Além de tocar as almas dos presentes.

“Atabaque ficou mudo”

Todos os olhos denunciavam o pesar e o luto.

“O Capoeira morreu”

A notícia da morte de Besouro pegou todos de surpresa.

Mestre Alípio mantinha a roda reverente em homenagem ao Capoeira. Enquanto dava o toque lembrava emocionado de seu amado aluno.

Manoel Pereira era um moleque franzino e astuto, com um olhar esperto e cheio de malandragem, quando apareceu na frente dele pedindo para aprender capoeira. Foi dedicado desde o começo, se destacou rápido e nunca soube perder, por isso treinava como nenhum outro. Filho de escravisados como a maioria ali, conhecia o trabalho desde cedo. Sua particularidade era o temperamento. Enquanto outros suportavam maus tratos e ofensas de gente branca ou endinheirada, ele retrucava no mesmo tom. Nunca suportou injustiça e por isso vivia envolvido em encrencas.

Quando adolescente se embolou contra quatro policiais para proteger um senhor. Após alguns minutos de briga, um dos agentes se afastou cambaleando depois de levar um golpe no quengo. Gritou para os demais pararem e quando o fizeram, perceberam que o Capoeira não estava mais entre eles. “Cade o maldito?” perguntou um que estava no chão com a boca suja de sangue. “Virou um besouro e saiu voando” respondeu o que estava afastado confuso. Quando o Mestre ouviu essa história lhe deu o apelido.

Besouro ganhou fama. Primeiro nas rodas de capoeiras, pela sua habilidade sem igual. Depois entre o povo, por estar sempre livrando a pele de alguém. Quando chegou na idade, serviu como soldado por algum tempo, até arrumar briga em uma delegacia, tentando reaver um berimbau que fora apreendido. Lutou até ser contido, fichado, preso e expulso do serviço militar.

Após esse fato a polícia passou a trata-lo oficialmente como arruaceiro e seu nome chamou a atenção do Coronel Feliciano, um senhor de ossos largos e pele rosada que controlava toda a região e tinha uma leva de bons capoeiras como guarda-costas. O Coronel incumbiu Noronha, seu leal jagunço, de averiguar sobre as histórias que ouviu e principalmente se Besouro era bom lutador como diziam.

Noronha era magro, alto e malquisto em qualquer lugar que ia mas, tinha seus métodos e todos os meios para conseguir o que queria. Voltou ao Coronel depois de testemunhar o Capoeira.

-O tal do Besouro lá, é barril mesmo hein!- Disse contrariado -O cabra dança feito uma gazela assanhada. Da nem pra ver o preto quando começa a zuada. Me deu até uma agonia na cabeça.

Os olhos do Coronel brilharam e um sorriso apareceu em seus lábios

-Oxente! Pois era isso mesmo que eu queria ouvir. Bora, compra ele!

-Ai que ta o problema. -Noronha baixou a cabeça e alisou a barba por fazer, com gravidade. -Ele é de Alípio…

-É o cabrunco! -O Coronel se irritou -Logo desse diabo.

Mestre Alípio era o único mestre que tinha uma regra que proibia seus alunos de lutarem em troca de dinheiro. Era sua maneira de combater a dominação sobre sua raça.

Feliciano fez de tudo para ter Besouro. Tentou se aproximar lhe oferecendo emprego, tentou compra- lo com presentes, chegou ao ponto de oferecer um salário inimaginável. Ficou extremamente irritado ao perceber que seu dinheiro e seus bens não surtiam efeitos nele. Então, começou a ameaça-lo. Nunca diretamente, precisava ser bem visto na cidade e pelos trabalhadores, então fazia seu jogo sujo usando marionetes e lacaios. Nada funcionava, Besouro ignorava os avisos, afugentava quem se metia com ele. Conforme o tempo passou as chagas no orgulho do Coronel pioraram. Nunca alguém resistiu assim contra ele. Chegou a conclusão que era tudo culpa de Alípio. O velho estava fazendo a cabeça de seu povo, estava trazendo valores reais em suas vidas, coisas que dinheiro nenhum comprava e o Coronel precisava que o dinheiro fosse o deus de todo mundo, assim era muito mais fácil controla-los.

Passou a atacar o Mestre e as pessoas que ele protegia, sempre das sombras. Destruir seus ideais virou sua obsessão. A polícia aumentou a rigidez contra seus capoeiristas, passou a espancar, prender e até a matar seus seguidores descuidados.

Neste período sombrio Besouro vivia escondido. Até que, depois de uma fuga muito intensa e perigosa, desapareceu por vários dias. Quando voltou tinha um amuleto de metal trabalhado preso no pescoço. Disse que foi o próprio Exu que lhe entregou depois de ter lhe derrotado numa roda de capoeira. Disse que era pra fechar seu corpo. Ninguém acreditou em sua história nem seu mestre. Mas um dia que estavam sozinhos Besouro contou o que se sucedeu

-Mas, Mestre eu ia inventar essas coisas por causa de que, oxi?

-Pronto. Então diga aí sua história, diga ai pra eu vê

-Oxen, agora! Lembra do dia que sumi né!? O dia que aquele filhote de xibum do Noronha caiu pra cima da gente com uma renca de jagunço…

-Me lembro sim.

-Pronto, é daí que começa. Me piquei pela mata debaixo de bala e dei perdido nos homens lá na cachoeira. Fiquei depois da queda, no meio daquelas pedras lá o resto do dia e a noite. -Alípio ouvia com um sorriso debochado. Besouro continuou -Cai no sono e quando despertei estava em outro lugar…

-Mas, rapaz…

-Calma homem, espia… Era um lugar que nunca vi. Na beira de um rio com areia branca e muito mato baixo. -Seus olhos brilhavam ao lembrar. -Despertei com um homem chamando meu nome… Olha só. -Mostrou o braço arrepiado. -Não era voz de gente não. Levantei me cagando todo.

-Eita -Alípio gargalhou

-Oxi, e o homem? O homem era barril dobrado! Um baita de um nego oh! -Levantou a mão indicando a altura e depois usou os braços para ilustrar os músculos. -Estava na frente de uma roda de capoeira me esperando. Fui até lá se tremendo todo. Quando cheguei ele só falou “joga comigo Besouro” com aquela vozona...

-E você falou o que ?

-Falei? E como que fala com uma coisa dessa na frente. -Esticou o braço para cima novamente -Fui logo entrando na roda oxente. Sou homem de fugir não! E eu joguei, Mestre pensa numa roda boa. Mas, não tinha jeito não... Ele parecia que zombava comigo.

-Como assim?

-Ficava rindo, não sabe? Me olhando com cara de alma que está pedindo reza. -Alípio franziu o cenho intrigado. -Joguei tudo que sabia e não consegui encostar nele não Mestre. Eu já estava avexado, ai vi que ele se aprumou pra fazer um pião, então armei uma chibata na hora e esperei o tempo e dei. Passei direto, nem sei como e quando me virei só senti os dois pés no peito e voei pra longe.

-Oxi e como isso? Do pião pro galo?

-Estou dizendo, Mestre! E minha caixa dos peito? Parecia que ia explodir. Na mesma hora estava ele lá nos meus pés dando a mão pra me levantar. E ria, Mestre pensa.

Ainda contou que foi derrubado mais duas vezes da mesma maneira impossível. Alípio se interessou pela sua história e começou a fazer perguntas sobre vários detalhes. Descobriu que outros Orixás apareceram para assistir e que todos pareciam se divertir. Na sua terceira queda, Exu se apresentou lhe colocando de pé e lhe entregou o amuleto como recompensa pela sua coragem. Besouro disse que seu corpo estaria fechado desde que estivesse usando aquele amuleto e assim que o vestiu sentiu uma forte náusea e desmaiou. Acordou sobre a pedra onde estava antes, com o amuleto pendurado em seu pescoço.

Ficou muito mais ousado depois que ganhou o favor de Exu. Passou a encarar todas as brigas e sempre conseguia derrotar todo mundo, mesmo debaixo de bala. Ficou muito difícil encontrar bando que se dispusessem a enfrenta-lo. Pegou gosto pela fama, quando ia a cidade decretava feriado e mandava todos os comércios fecharem. Era aclamado.

Mas, agora estava morto. Vítima de uma armadilha de um fazendeiro que lhe dava emprego. A história chegou junto com a notícia de sua morte. Foi cercado por quarenta homens, entre eles um conhecedor de mandinga com uma faca de Tucum. Dentre tantas armas de fogo, o único ferimento que tinha em seu corpo era um corte profundo no abdômen. Foi o suficiente para dar fim a sua vida.

Alípio relembrava e tocava seu berimbau como se fosse a última vez. O povo implorou para ele fugir e se esconder com os seus capoeiras antes que o Coronel pudesse pôr as mãos nele. Ao invés disso, encomendou um banquete para os Orixás e homenagens ao Besouro. Não iria fugir, nem se esconder. Era hora de encarar seu destino, também conhecia seu inimigo, sabia que ele agiria com cuidado na frente dos trabalhadores. Enquanto a roda dava o som e mantinha a atenção do povo, os iniciados ajudavam a Iabassê. Galinhas, bodes, patos e carneiros estavam sendo preparados nos mínimos detalhes. O cheiro de sangue e ervas tomavam o lugar e o banquete ia sendo montado. Estava quase tudo pronto.

-Que zuada é essa aqui! -Noronha saiu do meio do mato junto de seu bando, cercando a clareira. Estavam todos a pé.

O cerco foi preparado com bastante cuidado, um ou outro conseguiu passar correndo, o restante foi acuado no centro e a música parou. Ninguém da roda fugiu. Alípio não se moveu, encarava Noronha com firmeza. Via a figura do Coronel Feliciano se aproximando atrás do capataz.

-Capoeira é proibida nego véio, tá sabendo não? -O delegado disse aparecendo atrás do Mestre. Era um sujeito fora de forma, vestido de vaqueiro.

-Carece de cadeia aqui não seu delegado o destino desse preto é outro. -Noronha disse rindo o encarando de volta, alisando o cabo de sua pistola. Se divertia vendo o medo beirando o desespero no rosto do povo.

-Calma lá Noronha. -Disse o coronel ficando do seu lado. -Tem muita gente inocente aí. -Olhava Alípio com um riso triunfante. Vestia um terno surrado escuro, com chapéu marrom. Tinha cinco negros engomados em suas costas, seus capoeiras. -Bora meu povo, deixa o homem responder a lei. -Estava impressionado com a quantidade de gente. -Quem tá aqui pelo culto, se saia… Ave Maria! -Disse fazendo o sinal da cruz quando pôs os olhos nas oferendas. Cabeças, peles, carcaças, penas e muito sangue.

-Os comedores de carniça estão com fome hoje, hein!? -Noronha provocou, cuspindo no chão. -Bora cambada, sai do meio.

Se adiantou empurrando os populares para o lado das oferendas. Alguns tentaram resistir, mas logo eram ameaçados e começava o jogo do coronel apaziguar e o povo se mexia. Alípio ficou isolado com os seus capoeiras. De um lado Noronha e seus homens, do outro, a polícia.

-Oia! Tem preto corajoso aqui ainda!? -Noronha disse rindo quando alcançou a roda e Quero-Quero se destacou dos demais parando na sua frente. -Dança preto, pra eu ver. Bora! -Noronha cochichou perto de seu rosto.

Quero-Quero era jovem, tinha boa forma e usava calças brancas. Respirava ofegante, cerrou os punhos com força. O capataz estava com a mão sobre o cabo da arma o tempo todo, com uma expressão cheia de expectativa. O povo olhava com temor e rezava. Todos os jagunços se aproximaram num semicírculo com suas armas prontas para a ação

-Calma Quero-Quero. Você sabe porque eles estão aqui. -Alípio disse.

-Ninguém vai por a mão no mestre não. -O capoeira falou encarando os jagunços. Seus companheiros tomaram frente inspirados por sua atitude.

O mestre via as costas de seus alunos e a polícia fechando o cerco.

-Ninguém quer machucar ninguém aqui Alípio. Só estamos cumprindo a lei. -O delegado estava nervoso

-Bora Alípio. Não precisa por seus meninos no meio disso não. -Coronel disse dando ordem para seus capoeiras tomarem frente também.

-Eu não tenho lacaio feito o senhor não, Coronel. -Respondeu o Mestre, iniciando uma discussão.

Enquanto Alípio e o Coronel debatiam Noronha sorria encarando Quero-Quero.

-Cadê aquela macacada toda que vocês chamam de luta? -Disse perto de seu rosto -Só foi o nego fujão morrer e vocês viraram tudo cagão, é? -Ele riu -Já fez a cova do fujão? Melhor fazer uma grande hein, que caiba esse preto velho ai...

Quero-Quero o empurrou com força e acertou um chute em seu rosto. Ouvi-se um disparo e começou um tumulto. A polícia não entrou na bagunça, esperavam uma ordem do delegado que por sua vez esperava um sinal do Coronel. Assim, o mestre e os seus capoeiras foram contra os jagunços. O povo gritava e rogava enquanto via um por um sendo pego e espancado. No auge da briga, Alípio foi empurrado para trás e Noronha apareceu como uma assombração no seu rastro. Com a arma em punho, uma expressão contraída, carregada do mais puro ódio. Mirava sua cabeça, estava a dois passos dele.

- Morre desgraça! - Disse salivando rangendo os dentes e apertou o gatilho.

O Mestre não se mexeu. Mesmo quando percebeu a arma mirando seu rosto ou quando ele falou antes de atirar. Mesmo quando ouviu o disparo, ele esperou.

Viu seus alunos presos apanhando, alguns sendo pisoteados. Quero-Quero no chão, com um ferimento na perna protegendo o rosto de golpes. A carranca de Noronha babando, sua arma cuspindo fogo e a munição no ar indo em sua direção. Via tudo paralisado.

-Sua fé é admirável! -Sentiu um calafrio quando ouviu uma voz de outro mundo. Tentou olhar quem falava mas, seu corpo não respondia. -Você é um verdadeiro filho de Ogum.

Achou que estava morto.

-Astucioso, determinado, corajoso… -A voz poderosa continuou -Ousado! -Sentiu uma presença insuportável se aproximando e caiu de joelhos encarando o chão. -Mas se atrever assim com os Orixás!? -Via dois pés descalços, a voz falava com irritação -Sua atitude foi imprudente e irresponsável… Você foi abandonado pelos seus guias. - Alípio sentia seu corpo sob uma pressão mortal conforme a voz se alterava. -Eu deveria esmagar o verme que você se tornou aqui e agora…

Alípio começou a chorar e fechou os olhos, mal conseguia respirar.

-Como ousa oferendar um humano? Não conhece nossos gostos? nossas regras? -O mestre chorava copiosamente -Sacrificar seu menino protegido?

Fez uma pausa que pareceu durar anos, deixou o velho se martirizar pelas suas escolhas.

-Você apostou muito alto… -A voz interrompeu seu martírio. -Sua astúcia me irrita ainda mais que sua falta… Percebeu que não eram só os humanos que queriam Besouro e por isso o ofereceu a mim.

Alípio estava fraco, reabriu os olhos e foi como se não fizesse isso a anos. levantou a cabeça e viu um homem negro,de pelo menos dois metros de altura na sua frente, usava uma calça parda e nada mais, tinha um fisico perfeito e uma postura divinal. Sabia que era Exu, se curvou até o chão o mais rapido que pode.

-No fundo eu não o culpo. Você é só mais um humano, capaz de qualquer coisa para obter o que deseja… e eu não pude recusar o que você me ofereceu. -Exu disse sorrindo e olhou para o lado. Besouro apareceu como se estivesse escondido em suas costas, ficou ao seu lado. Seu rosto não tinha vida, encarava o vazio. Vestia uma calça marrom e um cordão dourado na cintura.

-Meu… menino. -Alípio disse voltando às lágrimas.

-Você ganhou o meu favor Alípio!

O mestre sentiu um alívio imenso ao ouvir isso e também um grande pesar por ter traído a confiança de Besouro e o ter usado como moeda de troca. Mas, não confiava que seus alunos seriam capazes de protege-lo por muito tempo e não podia morrer, e levar sua revolução para o túmulo.

-Vai 'meu menino'! -Exu ordenou.

Besouro se virou para encarar Noronha que saiu da paralisia na mesma hora.

-Oxente. Que diabo é isso… - Tentava assimilar o impossível

Quando viu Besouro, seu ódio o fez esquecer tudo e ele disparou sua arma feito um louco, esbravejando a cada disparo. Besouro fingiu desviar mas, as munições flutuavam poucos centímetros depois da arma. O jagunço sacou seu facão e esperou. Em dois movimentos o Capoeira o derrubou e lhe deu um pisão que quebrou a sua perna. O grito de dor do infeliz fez Exu rir.

Noronha apareceu de pé novamente, segurando a arma apontando para Alípio, ainda gritava de dor, sentia a perna quebrada e antes de tentar entender, Besouro caiu sobre ele com uma sequência de golpes em seu rosto, quebrando seu braço esquerdo em seguida.

Noronha se viu de pé novamente apontando a arma para Alípio. Seu rosto sangrava, lhe faltava alguns dentes, sua perna e seu braço quebrados. Sentiu uma dor intensa e antes de formar um pensamento Besouro fez de novo. E de novo. E fez até ele implorar pela morte.

-Vou protege-lo… enquanto vocês forem generosos. -Exu disse indicando o banquete

Alípio ainda estava de joelhos, voltou a encostar a testa no chão em reverência.

-Não se levante! -Exu ordenou.

Besouro entrou em sua sombra e ele desapareceu fazendo o tempo voltar ao normal. Noronha estava de pé, seus disparos atingiram os polícias. Ele soltou sua arma desesperado. Não tinha nenhum ferimento físico, mesmo assim gritava de dor e rolava no chão numa agonia atroz. O delegado e mais três de seus homens caíram com um buraco na cabeça. No auge da incompreensão alguns polícias fizeram mira nos jagunços do Coronel e assim começou um banho de sangue. Alípio e os seus fugiram ilesos debaixo de bala.

Marlon A A Souza
Enviado por Marlon A A Souza em 17/02/2024
Reeditado em 19/02/2024
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