Marina estava fora de si naquela noite. Pegou o carro que estava mais próximo do portão e jogou a mochila com poucas roupas no banco de trás. Enquanto girava a chave, viu o filho vindo. Com os vidros levantados, não conseguia ouvir nada, apenas via o rosto angustiado e a boca se movendo para formar a palavra mãe.
- MÃE! Espera!
Nada a faria parar. No banco do passageiro o envelope com as fotos que o detetive havia mandado. Saiu da garagem como uma flecha e dirigiu costurando entre os carros que voltavam do trabalho. Por diversas vezes, quase bateu. O pé pesava com força no acelerador. Não sabia exatamente para onde iria, foi dirigindo a esmo e em pouco tempo alcançou a estrada 421, que seguia para o litoral, ladeando a serra.
A estrada estava bem tranquila. No meio da semana havia pouco trânsito para a região da praia. Já havia mais de uma hora que saíra de casa, a noite ia se agigantando enquanto o seu coração se acalmava gradualmente. À medida que a raiva ia passando, a vontade de voltar para casa e abraçar o seu filho ia aumentando.
Para seu infortúnio, a luz caiu na cidade. A iluminação nos postes desligou. Começava a se arrepender da decisão tomada logo antes que os faróis de um caminhão vindo na direção oposta cegassem seus olhos momentaneamente. Por poucos segundos não conseguiu enxergar nada e o carro derrapou para fora da estrada em um trecho sem guarda corpo, pensou que desceria alguns metros e controlaria o veículo. Não contava com um grande buraco escavado na descida, o que fez o carro capotar várias vezes e cair na água, e começar a afundar.
.
Ficou desesperada por uns momentos com medo que a água entrasse no veículo. Então tudo ficou escuro.
Acordou. Estava em seu próprio quarto. Ficou aflita tentando lembrar como havia saído do carro. Foi até a janela e viu que a casa estava vazia. Na verdade, não havia nada, nem móveis, nem gente, nem seu filho, nem as plantas, apenas o Freddy, seu pequeno cachorrinho branco que abanava a cauda e olhava para ela fixamente.
Sentou-se na cama e procurou suas roupas. Sentia muito frio e havia apenas um lençol fino para ela se enrolar. Resolveu investigar os outros cômodos, mas ao mover a maçaneta, descobriu que estava trancada. Então começou a gritar.
Ninguém respondia. Sentiu que o quarto estava molhado. Seus pés estavam em uma poça gelada. Fechou os olhos e os abriu novamente na esperança que estivesse vivendo um pesadelo. A poça d’água alcançou seus tornozelos e continuava subindo. Os pés molhados tocaram os pedais.
-Meu Deus! Pensou. – Estou no carro!
E a água continuava a subir.
Ouviu uma voz ao seu lado.
- Mãe! Fala comigo! A voz era do Gabriel, seu filho. Será que ele está no carro também? Olhou para o banco de trás e não havia nada lá, nem a água, nem o banco, nem o carro.
Estava de novo no quarto. Seu corpo parecia pesar uma tonelada. Percebia que estava deitada mas não conseguia se mover. Queria abrir os olhos e falar com o filho. Queria receber seu abraço. Queria que aquele inferno acabasse.
Ao lado da cama, a enfermeira colocava uma substância calmante no soro de Marina.
- Hoje ela está mais agitada.
- Talvez saiba que hoje é o aniversário do filho. Já tem um pessoal ali no sofá esperando para ver a paciente.
Na sala de espera Gabriel aguardava, impaciente. Era o primeiro ano sem o abraço de sua mãe no aniversário. Vinha todos os sábados. Tentava acordá-la, conversava com ela. Uma vez Marina até chegou a abrir os olhos, mas disseram que era normal este tipo de reflexo nas pessoas em estado de coma.
Quando chegou a hora, chamou o pai, mas o homem disse que não entraria.
Abraçou a mãe cada vez mais magra e pálida. Podia sentir uma leve agitação em seu corpo. Teria reconhecido a sua voz? Seu cheiro? Conversava muitas vezes com o médico, agora sabia que a alma da mãe lutava para se libertar do corpo trancado, fechado à vontade própria, movendo-se sem controle ou intenção.
Olhava para a mãe cheio de tristeza e saudade. Chegou mais perto, deu um beijo nela. Já estava se despedindo quando viu a enfermeira comentar com o médico:
- Olha como dorme serena, deve ter sonhos sempre lindos.
Fechou a porta do quarto com suavidade, sem saber se valeria a pena vir ver a mãe com tanta frequência.
Na sala de espera o pai o aguardava falando animadamente ao telefone com a namorada que, em breve, viraria esposa.
- Chego já aí, querida. Estamos saindo.
- MÃE! Espera!
Nada a faria parar. No banco do passageiro o envelope com as fotos que o detetive havia mandado. Saiu da garagem como uma flecha e dirigiu costurando entre os carros que voltavam do trabalho. Por diversas vezes, quase bateu. O pé pesava com força no acelerador. Não sabia exatamente para onde iria, foi dirigindo a esmo e em pouco tempo alcançou a estrada 421, que seguia para o litoral, ladeando a serra.
A estrada estava bem tranquila. No meio da semana havia pouco trânsito para a região da praia. Já havia mais de uma hora que saíra de casa, a noite ia se agigantando enquanto o seu coração se acalmava gradualmente. À medida que a raiva ia passando, a vontade de voltar para casa e abraçar o seu filho ia aumentando.
Para seu infortúnio, a luz caiu na cidade. A iluminação nos postes desligou. Começava a se arrepender da decisão tomada logo antes que os faróis de um caminhão vindo na direção oposta cegassem seus olhos momentaneamente. Por poucos segundos não conseguiu enxergar nada e o carro derrapou para fora da estrada em um trecho sem guarda corpo, pensou que desceria alguns metros e controlaria o veículo. Não contava com um grande buraco escavado na descida, o que fez o carro capotar várias vezes e cair na água, e começar a afundar.
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Ficou desesperada por uns momentos com medo que a água entrasse no veículo. Então tudo ficou escuro.
Acordou. Estava em seu próprio quarto. Ficou aflita tentando lembrar como havia saído do carro. Foi até a janela e viu que a casa estava vazia. Na verdade, não havia nada, nem móveis, nem gente, nem seu filho, nem as plantas, apenas o Freddy, seu pequeno cachorrinho branco que abanava a cauda e olhava para ela fixamente.
Sentou-se na cama e procurou suas roupas. Sentia muito frio e havia apenas um lençol fino para ela se enrolar. Resolveu investigar os outros cômodos, mas ao mover a maçaneta, descobriu que estava trancada. Então começou a gritar.
Ninguém respondia. Sentiu que o quarto estava molhado. Seus pés estavam em uma poça gelada. Fechou os olhos e os abriu novamente na esperança que estivesse vivendo um pesadelo. A poça d’água alcançou seus tornozelos e continuava subindo. Os pés molhados tocaram os pedais.
-Meu Deus! Pensou. – Estou no carro!
E a água continuava a subir.
Ouviu uma voz ao seu lado.
- Mãe! Fala comigo! A voz era do Gabriel, seu filho. Será que ele está no carro também? Olhou para o banco de trás e não havia nada lá, nem a água, nem o banco, nem o carro.
Estava de novo no quarto. Seu corpo parecia pesar uma tonelada. Percebia que estava deitada mas não conseguia se mover. Queria abrir os olhos e falar com o filho. Queria receber seu abraço. Queria que aquele inferno acabasse.
Ao lado da cama, a enfermeira colocava uma substância calmante no soro de Marina.
- Hoje ela está mais agitada.
- Talvez saiba que hoje é o aniversário do filho. Já tem um pessoal ali no sofá esperando para ver a paciente.
Na sala de espera Gabriel aguardava, impaciente. Era o primeiro ano sem o abraço de sua mãe no aniversário. Vinha todos os sábados. Tentava acordá-la, conversava com ela. Uma vez Marina até chegou a abrir os olhos, mas disseram que era normal este tipo de reflexo nas pessoas em estado de coma.
Quando chegou a hora, chamou o pai, mas o homem disse que não entraria.
Abraçou a mãe cada vez mais magra e pálida. Podia sentir uma leve agitação em seu corpo. Teria reconhecido a sua voz? Seu cheiro? Conversava muitas vezes com o médico, agora sabia que a alma da mãe lutava para se libertar do corpo trancado, fechado à vontade própria, movendo-se sem controle ou intenção.
Olhava para a mãe cheio de tristeza e saudade. Chegou mais perto, deu um beijo nela. Já estava se despedindo quando viu a enfermeira comentar com o médico:
- Olha como dorme serena, deve ter sonhos sempre lindos.
Fechou a porta do quarto com suavidade, sem saber se valeria a pena vir ver a mãe com tanta frequência.
Na sala de espera o pai o aguardava falando animadamente ao telefone com a namorada que, em breve, viraria esposa.
- Chego já aí, querida. Estamos saindo.