O fantasma da cava escura
O fantasma da cava escura (José Carlos de Bom Sucesso)
Paulo estava muito feliz, pois iniciava-se o final de semana. Em seu pensamento, seria o melhor final de semana do período. Terminara de apresentar a tese de seu curso. Teve ótima nota e foi aprovado. O mestrado já estava garantido. Festa, sonhos e até mesmo alguma pausa para fazer o arejamento da mente, na bela e mais harmoniosa cavalgada no cavalo branco de propriedade da irmã, a Márcia.
Tudo preparado e lá se foi cavalgando. Entre árvores, entre pássaros cantando, entre nascentes e pequenos riachos, lá se ia Paulo. O celular não saia da mão, pois várias eram as fotografias tiradas por ele. Quaisquer movimentos eram motivos para que o dedo disparasse e mais uma fotografia entrasse na galeria do aparelho. Assim foi a manhã cheia de surpresas e deliciando a verdadeira natureza, o mais lindo e fabuloso mundo, onde o verde estava por toda parte e mais ainda tranquilizando a mente.
Em determinado momento, quando o sol estava no ápice, a brisa soprava refrescando e baixando a temperatura, ele aproximou-se da grande árvore que fazia a melhor e mais saudável sombra para lanchar. Ficou por ali algum tempo e o cavalo aproveitou para comer o verde e vasto capim.
Permaneceu ali por algum tempo. Quando o sol deu sinal de que estava mais fraco, ele montou novamente no cavalo e iniciou o retorno, pois tinha compromisso à noite.
Quando criança, fazendo suas andanças por aquele local, juntamente com o pai e alguns amigos, lembrou de outro caminho que lhe economizaria alguns quilômetros, ele resolveu ir naquela direção.
O cavalo já sabia deste outro caminho e pediu rédea. Parece que ele sabia que algo poderia acontecer. Galopou mais rápido e o vento soprava no rosto magro e de barba sem fazer do jovem. De vez em quando, ele precisava ajeitar o chapéu na cabeça, pois a pressão do vento era forte e quase derrubava o capelo de abas grandes, feito na mais fina e costurada palha.
Quando os dois se aproximaram da cava, rodeada de árvores, arbustos, tendo ao fundo a porteira de tábua assentada há mais de vinte anos. A mais ou menos dois metros da porteira, o pequeno remanso de um palmo e meio escorria a límpida e alva água, que lentamente sobrepunha às pedras e desaguando na densa e robusta cachoeirinha, fazendo aquele barulho que mais se assemelhava a cantigas de ninar.
O pingo foi logo diminuindo a velocidade até parar para que o condutor abrisse a porteira. Paulo rapidamente o fez, mas o animal forçou para beber a água que escorria sobre as pedras. O pequeno intervalo foi dado. Já com a sede saciada e Paulo também aproveitou a oportunidade para se hidratar, os dois partiram rumo à cidade.
Outra cava os esperava a pelo menos dois quilômetros. Esta cava era bem diferente. Muita escura, pois era coberta por grandes árvores. Vários arbustos cobriam parte da estrada, que se reduzia a trilha. Ramos de vassoura cobriam tudo e também dois bambuzais. Pedras também se escondiam no barranco alto e mais árvores ali cobriam tudo. O lugar era bem fantasmático e alguns ancestrais diziam que pessoas já viram assombrações naquele local. Assim dizendo, era muito feio, muito triste e muito pavoroso para quem ali passava.
Aproximando dali, Paulo sentiu que o corcel erguia a cabeça e aumentava ainda mais a respiração. Soprava mais forte ainda e diminuía a velocidade a ponto de não ir nem para frente e nem para trás. Algo de errado estava ali, pensava rapidamente Paulo. Atento a quaisquer movimentos entre as árvores, entre o barranco, pensando somente coisas estranhas. A mente lhe fez lembrar dos “causos” contados pelo pai, avô e alguns tios. Os pelos do corpo levantavam e alguns calafrios eram sentidos. De repente, do nada, bem à frente deles, caminhava um homem de mais ou menos dois metros de altura. Vestido de roupas pretas e sobre a cabeça, também, o chapéu preto.
O cavalo não queria aproximar dele e refugava quaisquer comandos dados por Paulo, que insistia e gritava para que o homem olhasse e saísse do caminho.
A figura vestida permanecia imóvel e parecia que não ouvia os gritos de Paulo para que liberasse a pequena trilha. Alguns minutos passavam e Paulo tentava a qualquer custo conter o cavalo e gritava para que o indivíduo os visse. De repente, aquela figura para e olha para o lado de Paulo. Ela não tinha rosto. Apresentava somente um grande olho no centro do rosto. A boca era desproporcional ao corpo. Tinha forma de caveira e de dentro do único olho saia uma luz verde. O cavalo, quando viu aquilo, ergueu as duas patas dianteiras e Paulo perdeu o equilíbrio e foi-se ao chão. Não se sabe como, mas três horas, Paulo acorda no leito do hospital, pois foi socorrido pelo o vaqueiro da fazenda próxima, que viu o cavalo de Paulo passar a galope e não o viu.