Do inferno eu me levanto
Muitos não acreditaram quando poucos disseram que o mecanismo que permitia a exploração do homem pelo próprio homem em busca de acumulação iria colapsar sobre si mesmo e ruir. Em meio a uma crise econômica e sanitária de escala global, muito viram poucos chegarem a patamares de acumulação incontáveis e resolveram não esperar a providência de deuses mitológicos e resolveram a questão como meros animais selvagens, que de certa forma ainda eram. Eles empalaram os acumuladores em grandes estacas expostas ao sol para servir de exemplo à todo aquele que acumulasse mais do que o que precisava para sobreviver. Muitos tomaram esse ato como um sinal de profecias mitológicas se cumprindo e ficaram felizes quando em todo mundo foi ouvido um soar de tambores e trombetas. Porém tais crenças se mostraram errôneas quando o mundo todo pôde ver que a realidade era bem mais cruel do que a suposta previsão de antigos livros. Em todos os lugares do mundo o chão se rachou e abriu, expondo rios de lava e criaturas horrendas projetando-se para cima. Muitos caíram de joelhos com seus livros sagrados segurados ao peito e a mão erguida aos céus pedindo misericórdia simplesmente para serem despedaçados e destroçados pelas criaturas que agora se acumulavam por todo o planeta. Do meio do oceano abriu-se uma fenda e dela ergeu-se a maior das criaturas. De coloração verde escura, que muitas vezes lembrava um lodo de pântano, a criatura possuía terríveis asas que lembrava as de um dragão e conseguia fazer sombra no planeta de um lado ao outro. Grandes chifres cresciam de forma circular e viravam para trás da cabeça. Onde podia-se pensar que era o nariz via-se duas fendas negras que soltavam uma fumaça causticante. Os olhos da criatura possuíam um brilho esverdeado, mas sem pupilas, apenas o buraco emitindo uma luz verde. A boca abria-se nas quatro direções espaciais. Para cima e para baixo seria o que entendemos como uma boca, mas para a esquerda e direita abriam-se garras que funcionavam como ganchos. Seu corpo colossal possuía um dorso extremamente musculoso e membros com garras que simplesmente poderia rasgar o planeta ao meio. A criatura ergeu-se do mar e era tão enorme que todas as pessoas em todo lugar do mundo podiam ver alguma parte dela que se projetava para fora do planeta ou podia ver sua silhueta projetada como sombra na lua ou no sol. As trombetas e tambores cessaram. Só se ouvia os gritos de choro e desespero. Na real não havia deuses mitológicos como os descritos nos livros sagrados das religiões terrenas, somente aquela bestial criatura que se erguia do inferno e trazia dor, sofrimento e desespero. Pouco a pouco toda a população do planeta foi morta, engolida, carbonizada e dizimada. Não havia mais choro, nem dor, nem vida. Apenas a morte, a criatura, o silêncio, a escuridão e o eterno vazio.