Vazio.

As montanhas ingrimes e rochosas não me permitem mais continuar. Meus braços, já cansados e doloridos de tanto remar não me permitem continuar. Minha querida Dani precisa se aposentar. Ela está cansada de levar eu e outros marmanjos pelas águas frias e vazias deste mundo há mais de 100 anos. Já faz um tempo que ela me pede socorro mas eu não a escuto. Já não é mais a mesma que anos atrás, com incontaveis peças, madeiras e velas trocadas... Sendo bem otimista, acho que apenas eu ja fiz cerca de 80 modificações nesta minha lata velha. Mas nós queremos viver, nós queremos sair deste... Lugar?

A água daqui é extremamente fria e escura. Tão fria que a água que espirra em minha face quando estou remando me dá calafrios, e tão escura a ponto de eu mal conseguir ver meu reflexo. Faz tempo que estou assim nesta especie de limbo, apenas eu, Dani e meus remos. Tenho esperança, mas este maldito lugar não me faz ver nada para alimeta-lá. Aqui não tem vida, esta tudo morto. Até agora, sem peixes na água, sem aves no céu, e nem sequer um predador louco para se alimentar da minha carne nessas montanhas rochosas e úmidas por conta de chuva que caira mais cedo.

O clima é pesado, mas por algum motivo me traz um sentimento que não tenho a muito tempo: Paz. Mas, ainda sim, ao mesmo tempo a preocupação. Estou perdido, não sei o que fazer. O cansaço e a fadiga me consomem, eu quero relaxar, quero uma pausa, um descanso... Qualquer coisa. A merda do arranhão que fiz nas rochas destas malditas montanhas mais cedo ainda me incomoda, e buscando um breve descanso, deito com a barriga para cima, meu braço direito no peito, olhando para este ceú cinza com nuvens feias ameaçando terminar de me matar.

Está cada vez mais frio e escuro, meu simples casaco de lã virgem não está dando conta de me aquecer, e eu não faço a menor ideia do que está abaixo de mim, do que está me observando, do que está só esperando eu sair do meio desta água para poder me matar. Se é que ainda existe alguma alma viva ao meu redor.

Por mais que eu esteja a beira da morte, a brisa sombria deste lugar ainda me consquista, e além de forças me da o que mais preciso, a porra de uma esperança. "A natureza é linda e magnifica, e ela te ajuda. Mas só se você se esforça." Foi exatamente esta frase que um grande pescador da minha pequena vila sempre disse em toda sua vida, antes de morrer por intoxicação. A natureza vai abrir um caminho, no meio destas montanhas ingrimes e rochosas para mim sair daqui, ela vai me dar forças no meio desta escuridão, que brevemente será iluminado apenas por uma lua cheia que já aparecera e que ficará aqui por um bom tempo, e nesta noite será a minha maior companheira. A noite será longa, muito longa.

Eu quero continuar, eu quero poder contar historias sobre este lugar estranho, quero contar como fui um dos unicos a conseguir sair daqui...

Eu quero sobreviver.

Leo Esposito
Enviado por Leo Esposito em 27/01/2024
Código do texto: T7986268
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