Dizem alguns místicos que os gatos são guardiões de portais. Uns abrem portais, outros indicam quando estão abertos, se fechando, ou se estão para se abrir.

É comum vê-los sempre misteriosos e estranhos, em cemitérios, hospitais, uns ávidos por carne fresca.

Era um asilo-hospital, ou clínica geriátrica, como queiram denominar; onde havia, também, um antigo cemitério.

Os vigias, médicos, enfermeiros, enfim, funcionários do lugar, tinham verdadeiro pavor quando aparecia um gato grande desfilando vagarosamente, e sinistramente, de madrugada ( Pela madrugada! Misericórdia!),

pelos corredores e se aboletava na porta de um quarto, cada vez um diferente.

 

O tal felino, quando aparecia, todos já sabiam, com toda a certeza, que haveria um desencarne. Pior que mais arrepio e frio na espinha davam quando, a cada passo, o animal falava: “vai morrer, vai morrer!, com uma voz debochada e ameaçadora.

Ao mesmo tempo, sentiam até uma certa ternura pelo belo bichano. Ele acompanhava o corpo até à última morada, depois disso, não se sabia se tinha realmente o poder de conduzir a alma para o descanso eterno. Alguns que se diziam videntes, ou outros termos similares, afirmavam ter presenciado extasiados esses inefáveis momentos.

Porém, houve algo recentemente descoberto pelo vigia que o intrigou: o fato de que o tal felino não aparecia nas filmagens das câmeras de segurança.

Então, resolveu, segui-lo de longe no próximo sepultamento. Depois de tudo, o acompanhou dobrando quadras, até sumir.

Para seu espanto, viu numa lápide, a fotografia desbotada de uma senhora com seu gato no colo.

 

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