“O BECO”

 

 

Dany entrou num beco…Pedro, seu namorado e Bia, sua filha de onze anos aguardavam atrás do palco. “Aquilo tem umas duas, três mil pessoas? Nem isso talvez. Mas a cidade é pequena demais então parece uma multidão. Merecia ao menos um ou dois banheiros químicos…”, pensou bobamente enquanto terminava de fazer xixi.

– Eu me perdi aqui…! – Disse uma voz de criança. – Dany já tinha feito seu xixi e estava abotoando a calça quando foi pega no susto pelo menino. Mas logo se encantou com sua aparência, sua voz doce, roupinhas de gente grande e olhar de filhote assustado. Era um menininho pretinho com uma calça jeans meio suja de terra, camisa de botão por dentro da calça, todo arrumadinho… mas estava descalço, coisa que Dany não estranhou imediatamente.

– Venha comigo, meu namorado está aqui perto!

– Não, tia… vamos por aqui. Eu CONHEÇO um caminho melhor. Só não posso ir sozinho; a mamãe não deixa!

– Mas… Você não disse que estava perdido?!

– Por favor, moça! Não há tempo! Me ajuda a chegar, POR FAVOR, POR FAVOR!!

– Calma, fique calmo… tá bom, a gente vai junto. É perto, né?

– É bem pertinho…

Na metade da trilha escura, Dany achou prudente que dessem as mãos. Tentou alcançar o menino com a mão, que o atravessou como se fosse algo vaporizado. O menino se virou para Dany sorrindo… seus olhos ficaram pretos e de repente ele parecia a maldade do mundo encarnada. Dany deu vários passos pra trás num grito meio rouco e depois foi paralisada de medo ao escutar vozes que faziam sons que pareciam vaias, que ecoavam por todos os lados… não conseguia saber de onde vinha. Como quem tenta se agarrar em pilares, corrimões ou paredes para não cair, Dany tentou alcançar o nada, caindo pra trás na grama fofa. Os risos e vaias ficaram ainda mais fortes e altos… mais próximos.

Após oito dias de desesperada procura, junto ao corpo de bombeiros e polícia florestal, além de moradores compadecidos… Pedro se sentou no meio-fio em frente a praça. A mesma praça onde a viu pela última vez. Bia sentou ao seu lado, deitando a cabeça em seu ombro. E tentando não desabar, perder as forças… Pedro abraçou com força sua nova enteada.

 

(H.B)

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 30/12/2023
Código do texto: T7965392
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