A CANINA
Eu queria esganá-la, matá-la, sim...
Mas, não queria matá-la daquela forma, cronometrada, precisa...
Ela armou, provocou todo aquele clima. Enervou-me. Estabeleceu-se um suor frio em mim
que, logo após tê-la matado, senti, que também saí prejudicado, mas, o pânico somado a
minha ira, fez-me estendê-la sobre uma toalha desbotada que estava no meio da sala e sob
as réstias de luz que estupravam aquela casa abandonada, evitei encarar o seu olhar maquia-
vélico que me perseguiu por três dias consecutivos, encurralando-me.
Comecei a espatifá-la...
Rasgá-la com as mãos, destruindo suas vísceras, abocanhando suas coxas, seus membros superiores...
E ela, como se inocente fosse, sentindo-se sumir ante aos meus olhos, olhou-me pela última
vez, continuando sumindo da minha frente, tangida pelos ininteligíveis sons provocados pelos
meus arrotos imorais de vitória sobre a fome.