OLHOS D’ ÁGUA 👁️🗨️
Uma voz, pela margem permeia
E chama lentamente pelo meu nome,
Como um grito que só esperneia
A sibilar seu desespero de pronome!
Atravessei as beiradas curvas,
Avistei adiante uma grande margem,
A escuridão das águas turvas,
Meu reflexo semelhante a miragem!
Ainda sinto dentro da mente,
Esse ecoar de um maligno vozerio
Bem próximo desta corrente
E disse: Agora se lance neste rio!
Imaginei meu corpo afundar,
As algas crescendo na minha boca
Logo eu que sequer sei nadar
Tenho essa ideia mórbida e louca!
Os vermes infestando as vestes
Essa pele amarelada e tão purulenta
Presa na cabeceira com ciprestes
No odor da podridão que se intenta,
A invadir o olfato de cada um,
Ao notarem que estou desfalecida
O fétido miasma como bodum
Do corpo apodrecendo sem a vida
Tudo acaba numa correnteza,
Histórias feitas com muito desamor
Quando apodrece toda beleza
O quadro pinta-se no infame horror
E hei de guardar essas flores,
As águas querem que eu mergulhe,
Que na água fiquem os odores
Em tanto pesar a morte se orgulhe!