Boneco Assassino do Espaço Sideral no Reino dos Unicórnios — CLTS 25.

By: Johnathan King

1.

ESTAÇÃO ESPACIAL FANTASMA.

Nossa aventura começa no espaço a bordo da nave interplanetária Hunter B16, sob o comando do capitão Walter Feldman, um ex-piloto da força aérea americana e veterano de guerra e de sua tripulação formada por Telly, Abi, Mama, Benze, Grego e Miguel, único representante tupiniquim na bagaça toda.

Feldman ganhou o direito de ser o novo capitão da Hunter B16 quando o antigo comandante da nave bateu as botas durante um motim liderado por insurgentes insatisfeitos com sua liderança que tão logo iniciaram a rebelião, viram ela ser sufocada pelas forças de segurança da Palace Elisiu, uma colônia espacial onde os últimos habitantes da Terra se refugiaram após o planeta passar por sua sexta extinção em massa da história.

Telly, Abi, Mama, Benze, Grego e Miguel eram as pessoas menos qualificadas para fazerem parte da tripulação da Hunter B16, uma vez que nenhuma delas tinha qualquer experiência com navegação, muito menos de uma espaçonave, mas foi tudo o que restou para Walter contar depois do fracasso do motim, onde boa parte dos envolvidos mais adequados para se unirem a sua nova equipe ou morreram, ou foram presos.

Com determinação, paciência e disciplina, Walter transformou sua trupe de batutinhas em uma tripulação admirável. E lá se foram dez anos de intensas e fantásticas aventuras pelo espaço a bordo da Hunter B16 em busca de recursos sustentáveis para manter a Palace Elisiu operando em total segurança.

Um dia, no entanto, durante uma de suas expedições, o capitão Feldman e sua equipe acabaram indo ao encontro de uma estação espacial aparentemente inabitada, localizada numa região do espaço distante de onde a Palace Elisiu orbitava.

O colosso espacial diante deles podia facilmente medir os 110 metros de largura com 75 metros de comprimento. Possuir uns 20 metros de altura e massa de 500 toneladas.

Essa era a estimativa que o capitão Feldman fazia apenas olhando superficialmente o grande monstro de ferro flutuando diante da Hunter B16 e no vazio do espaço.

Walter e sua equipe recordavam de haverem passado outras vezes por ali e não se lembravam de terem cruzado com nenhuma estação espacial orbitando aquela região do espaço. Isso levantava uma dúvida e criava um grande mistério para a tripulação.

Sem respostas de ocupantes no local, acoplaram a nave na estação, pegaram suas armas para uma eventual emergência e se prepararam para entrar e explorar o lugar.

Benze e Mama ficaram de sobreaviso no veículo espacial para o caso de surgir alguma necessidade inesperada durante a excursão dos batutinhas pela tal estação fantasma.

E logo de cara, assim que adentraram o local, o ambiente se revelou um lugar tão sombrio e desolador quanto o próprio espaço, criando um pano de fundo misterioso e provocando calafrios até no capitão, dito como o mais corajoso da trupe.

O silêncio era tumular.

Às luzes do lugar estavam funcionando, mostrando existir energia no local mesmo aparentando estar abandonado, no entanto, vez por outra elas piscavam como se fossem apagar à qualquer momento.

Uma bruma acinzentada envolvia cada metro quadrado da estação, serpenteando pelo piso silenciosamente, fazendo daquele cenário estranho um lugar ainda mais ameaçador e misterioso.

A trupe dos batutinhas resolveu ter a brilhante ideia de se separarem, o que nunca é uma boa estratégia em um ambiente desconhecido, onde o perigo espreita por todos os cantos.

Telly e Grego seguiram com o capitão por uma direção da estação, enquanto Abi e Miguel foram por outro caminho.

Os dois logo chegaram numa academia de ginástica abandonada e silenciosa, como tudo naquele lugar. Miguel se aproximou de uma janela panorâmica com vista para um planeta Terra cinza e estéril.

O mundo no qual ele morou, porém, não lembrava em nada o que um dia foi.

Ele sentiu uma pontada de melancolia.

O capitão Feldman, Telly e Grego caminhavam por um corredor sombrio e mal iluminado e podiam sentir como se olhos atentos os vigiassem por onde passavam, e não perceberam, situadas no alto das paredes, quase invisíveis, câmeras de segurança monitorando cada passo que davam.

— Vocês viram aquilo? — perguntou Telly para os companheiros, apontando para dentro da bruma.

Feldman e Grego sacudiram as cabeças em negativa.

— Era uma criança correndo e sumindo na névoa — disse Telly. — Ou pelo menos se parecia com uma.

— Você está vendo coisas — rebateu o capitão. — Lugares assim geralmente fazem isso com nossas mentes, criam ilusões.

Telly, no entanto, mesmo com essa afirmação do seu capitão, era capaz de sentir o gosto acre familiar de perigo — uma essência árida que trazia um tênue toque de preocupação.

Abi e Miguel estavam parados na entrada de um dormitório, havia mais quatro enfileirados num corredor imerso nas trevas e no silêncio sepulcral.

— Abro? — perguntou Miguel.

— Se você topar, eu topo — respondeu Abi, engatilhando sua arma e apontando para a entrada do quarto, fazendo mira.

Miguel apertou o botão de destrava e a porta se abriu. A dupla encontrou um quarto imaculadamente limpo e as camas impecavelmente arrumadas, fazendo-os pensar que o lugar não era ocupado por alguém há muito tempo.

O silêncio mortal e o ambiente parado passavam uma sensação quase opressiva. No entanto, o que causou mesmo espanto e curiosidade nos dois tripulantes, foi a figura de um boneco deitado em uma das camas parecendo encará-los.

Abi deixou sua curiosidade falar mais alto.

— O que você vai fazer? — perguntou Miguel ao ver a mulher caminhando na direção do brinquedo.

— Relaxa — disse Abi. — É só um boneco. O que ele pode nos fazer de ruim? Nos matar?

— Não estou gostando disso — falou o brasileiro. — É melhor a gente cair fora daqui, esse boneco é estranho. E olha como ele é feio, meu Jesus! Parece o "brinquedo do cão."

Abi não conteve o riso e caiu na gargalhada.

O boneco arregalou os olhos, indignado: "Agora deu o caralho mesmo. Esse feioso magrelo vem lá dos confins do universo me chamar de feio na minha cara", pensou ele.

Por um momento, Miguel teve a nítida impressão de ter visto o brinquedo mexer os olhos.

— Deixa de ser medroso, Miguel. Nem parece que é brasileiro — falou Abi, pegando o boneco e olhando bem de perto — Minha nossa! Eu tenho que concordar com você dessa vez, o troço é feio mesmo.

Eles riram.

A figura do boneco de fato era uma coisa amedrontadora quando olhada de perto, como um tipo de "diabinho da garrafa", pequeno e muito magro. Tinha uma cara comprida, uma palidez leitosa com a textura de madeira branca crua e lábios rosados de borracha. Um nariz pontudo, olhos faiscantes, mas inexpressivos e uma moita de cabelos avermelhados e desarrumado no topo da cabeça.

A pessoa que criou aquele brinquedo estava com péssimas intenções e com toda certeza não gostava de crianças.

O capitão Feldman surgiu de repente atrás de Abi e Miguel, dando um susto na dupla, fazendo a mulher derrubar o brinquedo no chão, que abafou um grito de dor. Walter fez cara de espanto quando viu o boneco.

— Jesus! Onde encontraram esse bicho feio? — perguntou ele.

"Você morre primeiro, velhote, hahahaha", pensou o brinquedo, colocando um sorriso maldoso e discreto na cara.

— Vamos embora daqui — informou Feldman aos dois. — Esse lugar é uma perda de tempo. E deixa essa coisa aí, você já está bem grandinha para brincar de boneca.

Abi jogou o boneco na cama e saiu com os outros.

2.

O OITAVO PASSAGEIRO.

— Eu vou para a minha cabine descansar um pouco, me acordem quando chegarmos na Palace Elisiu — falou o capitão Feldman para a tripulação.

— Ok, Senhor! — todos disseram em uníssono.

Feldman entrou em sua cabine e se deitou na sua cama sem notar a presença do boneco que encontraram na estação espacial escondido num canto, observando-o com uma expressão maligna no rosto. Ele havia entrado na Hunter B16 clandestinamente, sem ser percebido por nenhum dos tripulantes.

Feito um diabo raivoso, o boneco correu e pulou sobre o peito de Feldman, que arregalou os olhos, assustado.

— Minha nossa! — exclamou ele, sem ter tempo para reagir ao golpe de seu algoz, que rasga a sua garganta com um bisturi cirúrgico.

Walter deu um último suspiro e morreu com um grito de socorro preso na garganta.

— Eu falei que te matava primeiro, velhote, por ter me chamado de feio, hahahaha — disse o brinquedo rindo maldosamente.

Em seguida, saltando até o botão de destrava da porta e o apertando. Saindo do quarto e deixando o corpo sem vida de Walter para ser encontrado.

Mama foi até à cozinha da buscar um copo de água e assustou-se com o boneco sentado em uma cadeira.

O brinquedo atirou uma faca de mesa que acertou seu coração, a matando instantaneamente. Grego surgiu no exato momento, ficando surpreso com a cena grotesca.

O rapaz saiu correndo e gritando, alertando os companheiros do ocorrido. Quando chegou aos aposentos do capitão para informá-lo da situação, o encontrou morto, se desesperando.

O boneco pulou sobre Grego de surpresa e começou a esfaquear o rapaz nas costas, que berrando de dor tentava se salvar do ataque, mas seu algoz era muito rápido e esquivo, e tornou a esfaqueá-lo sem parar, até o mesmo cair sem vida no chão.

Miguel ficou mudo olhando a cena, pois o boneco assassino parecia mil vezes mais apavorante do que antes. Abi tinha o coração na boca, estava tão amedrontada que não conseguia se mexer.

— Agora eu vou matar vocês dois por terem me chamado de feio — disse o brinquedo assassino — E depois jogar seus corpos no vazio do espaço, como fiz com os tripulantes daquela estação hahahaha.

— Jesus! Ele fala — disse Miguel, atônito.

O boneco começou a correr na direção dos dois, quando foi surpreendido por Telly, que o golpeou com uma cadeira, o lançando com toda força contra a parede.

— Corram! — gritou ele para os companheiros.

O grupo correu até a cabine de controle da nave e se trancaram. Benze acionou a função turbo da Hunter B16, impulsionando maior velocidade ao veículo espacial, sem perceberem que começavam a ser tragados para dentro de um buraco de minhoca que surgiu na frente da espaçonave de repente.

3.

BURACO DE MINHOCA.

À medida que a Hunter B16 se avizinhava daquela estranha forma, mais ela ganhava corpo e uma força que vinha de dentro de sua fenda os atraía, irresistivelmente, para o seu interior. De súbito, tudo se apagou no veículo espacial, e eles entraram numa espécie de túnel onde nada era perceptível além de pequenas estrelinhas coloridas que voejavam em torno da espaçonave capturada.

Por um tempo impossível de se precisar, os tripulantes flutuaram imersos numa não consciência dos próprios sentidos, e se deixaram levar para um lugar no espaço sideral onde a realidade alterada os esperava.

Quando despertaram com o choque forte de uma batida, a tripulação da Hunter B16 percebeu que não estavam mais no espaço, mas, sim, em solo firme.

4.

NO REINO DOS UNICÓRNIOS.

Quando saíram de dentro da Hunter B16, a tripulação remanescente notou estarem à beira de um lago, cercado por um bosque com árvores tão altas, que poderia se dizer que elas podiam tocar às nuvens no céu.

Foi um grito estridente de pura maldade que despertou a trupe de batutinhas para a presença maligna do boneco homicida. Ele vinha correndo na direção deles com uma faca na sua pequena mão, quando foi surpreendido por um "unicórnio" belíssimo e verde.

— Que porra é essa agora? — exclamou surpreso o brinquedo. — Um cavalinho colorido e com chifre?

— Eu não sou um cavalinho colorido e com chifre, eu sou um unicórnio. Saia para lá, boneco feio.

Não deu tempo do boneco tomar nenhuma atitude, foi atingido com um forte coice do animal, que o lançou para dentro do lago, onde afundou desacordado.

Os batutinhas olhavam surpresos para a cena que se desenrolava diante dos olhos deles. E logo perceberam a presença de outros unicórnios por perto, todos coloridos, como uma aquarela viva.

— Vocês são mesmo unicórnios? E falam? — perguntou Miguel, surpreso.

— Sim. Somos unicórnios e falamos — respondeu o outro.

— E onde nós estamos realmente? — indagou Telly.

— Vocês estão no Reino dos Unicórnios.

— Reino dos Unicórnios? E onde fica isso?

— Na Terra!

Tal informação pegou todos de surpresa.

Tema: TERRIR, BRINQUEDO AMALDIÇOADO, UNICÓRNIO, TERROR NO ESPAÇO e REALISMO MÁGICO.

Johnathan King
Enviado por Johnathan King em 03/12/2023
Reeditado em 08/12/2023
Código do texto: T7946382
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