O Coprocalipse - vazio -

Cuidado ao invadir as entranhas desse texto, ele tende a ser apocalíptico. Falarei não somente dos enjeitados, dos sujos, dos nojentos, mas de sua revolta. Quem, clamem, permitiu tamanho perigo: a volta dos mortos? Levem os braços aos céus e repreendam o próprio Deus, não fora seu filho quem referendou essa mania? Não há, porém, motivo para a citada desordem quando tudo em paz está, mas não seguimos assim, e os sinais são abundantes em todo lugar do mundo, desde tempos imemoriáveis. Começa-se com uma incerteza, aí vem, muitas vezes, as imprudências; característica, claro, exclusiva dos humanos. Uma não aceitação, teimosia, desobediência! O paradoxo do caso: exerce o mal a própria natureza da humanidade. Raça dessa, certamente, digna de nada mais que o cataclismo. Deles escorrem suor, sentem calafrios, perdem o foco de tudo para a realização da vileza. Saem do trabalho, do estudo, da meditação – e tudo quanto é tratado como valoroso – para o já dito. Que raça... que lástima.

Há profundeza, o não-visto, o eclipsado: tudo que está escondido surgirá, nada há de ser oculto para sempre. Tudo no mundo é assim, mas a humanidade... a humanidade... só ela poderia esquecer disso, sendo dotada de inteligência. Todo humano tem um portal, talvez para lembrar do que logo mais direi, do qual escapam avisos oriundos do âmago, e, também, a própria condenação. Que insensatez esquecer todo ser-existente ter limites – e tudo criado do limitado só pode ser limitado. A pura matemática, a filosofia lógica que permeia os entes.

As pessoas, a todo instante, produzem, em si, aquilo cuja catarse incita prazer – esses são os mais vulneráveis do que há de acontecer –, apesar de haver os que já sofrem as dores da maldição. O fruto do erro, seja ele prazeroso ou não, é o sofrimento. Aliviem-se enquanto podem! Eu digo, porém: quando ocorrer a tragédia, hão de ser castigados com a prisão, o selo. Vocês mesmos! Terão seus erros presos dentro de si, e será vista: a deformidade da fisionomia, a doença, o passo desacertado, o corpo pesado, a intolerância às mais básicas necessidades. Quando tentarem purificar o próprio ser, ah, coitados, não conseguirão: tarde demais. Tão cedo cairão novamente, e assim sucederá sua morte: a autodestruição.

Há um mundo misterioso, escuro e subterrâneo, no qual se assentam os mais diversos monstros, todos filhos do seio humano, e que cada vez mais se unem, formando aquele que reinará este mundo, aquele cujo corpo incessantemente aumenta em decorrência da imbecilidade. Ele virá à luz, ele tomará a coroa, será dele a Terra, é dele a terra – tudo, definitivamente, começará dele e terminará nele. Então, o ocaso da humanidade virá. O fim está próximo, a frouxidão de suas amarras gritam isso.

A voz dos profetas... Esqueçam, vocês não ouvem. No país chamado Brasil, há pouco tempo, houve quem erguesse a voz para o que agora vocês leem. Ele tentou ajudar, no surpreendente ponto que chegou, mandatário, em evitar o problema, o fim. Teve, contudo, um final digno daqueles cuja voz é a sabedoria em meio ao mar de tolos. Continua desenfreado o acúmulo asqueroso e fedido de um povo perdido e faminto por venenos. Quanto choro, quanto ranger de dentes haverá quando tudo isso surgir com o cetro do mundo.

Eu garanto: estará salvo aquele que não estiver cativo à natureza descrita, às sensações, às delícias, às vicissitudes. Esses são tão mínimos, como invisíveis nessa sociedade tão divergente em espírito. Eis aqui o mais alto ponto de sacralidade, ao que os profanos hão de acusar: loucura! sandice! esquizofrênico e charlatão! Bezerrinhos, nada mais os preocupam além da água e da comida. Não percebem a sujeira em que estão metidos? Não sentem o rasgo interno? Os gemidos pressagiosos? O fedor do futuro? O abismo em que metem seus malfeitos parece alheio, mas, em verdade, são parte deles mesmos; a espiral leva seus pecados para a escuridão e a gritaria é facilmente abafada pela conformação.

Vigiai! O dia chegará! Vossas fossas encherão de repente, mãos sairão delas, os seres do mundo inferior, e depois todos os corpos serão vistos. Antes disso, o desespero da percepção: a incapacidade de voltar atrás. Os horrores do desespero, o caos geral. Se unirão todos os demônios, pútridos, no mais importante ponto do mundo e será proclamado o reino. Toda a terra será tomada por uma escuridão, lamas invadirão ruas e casas, nenhuma outra sensação será livre do rastro desse horror. E aqueles que desprezaram esta mensagem, os que permaneceram a criar em si a própria condenação, terão o castigo de verem o próprio corpo destituir-se na podridão.

Eis o que digo, eis o que virá: não fechem os ouvidos para os gritos do abismo, de lá ecoam os lamentos de vossas sentenças!

Tema: vazio.

Rodrigo Hontojita e as companhias de esgoto.
Enviado por Rodrigo Hontojita em 12/11/2023
Reeditado em 13/11/2023
Código do texto: T7930625
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