O cavalo fantasma
O cavalo fantasma (José Carlos de Bom Sucesso)
Nandina, garota cheia de vida, preparando para o vestibular e querendo ser veterinária. Já cansada dos estudos, pois já havia feito as provas de vestibular e aprovada em segundo lugar. Naquela tarde e feliz, foi direto para a fazenda de seu tio. Como de costume, assim que ela chegou, foi logo tomando café e pedindo para que o tio arreasse o cavalo branco, por nome de General. Naquela tarde, o ritual foi o mesmo.
Vestida de calça jeans, botas pretas e perneira, camisa de mangas compridas, o cinto preto que recebeu da avó, no ano passado, chapéu na cor preta, sendo preso pelo cordão tecido em couro, carregando, consigo, o aparelho celular para o registro de todo percurso que faria.
Não quis companhia da prima, pois esta estava meio adoentada e preferiu não ir, pois as duas primas eram inseparáveis e, por coincidência, passaram as duas no vestibular para medicina veterinária.
Esbanjando-se toda a alegria, toda a pompa e toda a felicidade, Nandina pôs-se a cavalgar pela estrada. O cavalo já a conhecia e eram os dois bons amigos.
Entre árvores floridas, entre árvores com frutas, entre flores, entre o imenso verde da pastagem, a menina desfrutava da beleza, da liberdade, do vento tocando-lhe o frágil e doce rosto. A cada passada ou a cada galope, ela conversa tranquilamente com o amigo cavalo e este, por sua vez, respondia com baforadas, com suspiro, como se estivesse conversando com a fiel amiga.
Os dois sumiam na verde pastagem. Ora subiam colina ou desciam vales, pois a paisagem era a mais linda, principalmente porque era o mês de dezembro.
Lá no horizonte, entre o pôr do sol, algumas nuvens faziam desenhos dos mais diversos tipos e muitas das vezes a garota fixava o olhar e falava em voz bem alta para o amigo cavalo que aquela nuvem parecia com a cabeça de algum boi, com o quadrado, com a onda do mar, enfim, sempre havia algo diferente para a jovem dizer.
O tempo foi passando. A tarde dava-se sinal de querer trocar o lugar com a noite. Ela, toda entusiasmada com o belo passeio, nem se preocupava com o acontecimento. Cavalgava tranquilamente como se estivesse no paraíso.
Em um dado momento, cavalgando pela colina e entre lindas e fartas árvores de goiabas, mangas e jambos, ela puxou o freio do cavalo fazendo-o parar. Apeou. Aproximando da árvore de goiaba, ela viu que tinham muitos frutos. Do cinto, tirou o pequeno canivete bem amolado. As goiabas estavam na altura certa da jovem. Foi ela apanhando a mais bonita. Após passá-la sobre a camisa, como se estivesse lavando-a, com o canivete aberto foi partindo a fruta. O primeiro pedaço ela o colocou na boca como se estivesse comendo a melhor refeição daquele dia. O segundo pedaço, ela gentilmente o colocou na palma da mão e ofereceu ao amigo cavalo, que logo foi comendo e querendo mais. Assim fartaram-se os dois.
A tarde ainda não havia terminado. Restavam alguns raios solares. Ela, sempre vaidosa, foi fotografar a si mesma juntamente com o cavalo e as árvores frutíferas.
Toda empolgada, ela fazia os planos para o próximo ano. Iria fazer o curso escolhido. Quando formada, pretendia trabalhar em fazendas onde as atividades eram criação de cavalos. Os olhos da garota brilhavam de felicidade. O belo sorriso combinava com os dentes brancos. No pescoço, a gargantilha dourada de ouro maciço, presente de quinze anos que ela usava fielmente, até para dormir não a tirava. De tanta beleza daquela tarde, o presente da natureza bem à frente, ela contemplava tudo. Os galhos das árvores, os frutos, alguns pássaros que ali pousavam e outros que faziam o jantar com os frutos. Os minutos foram passando e quando deu por si, já escurecia.
Rapidamente, ela desce do ponto mais alto de onde estava. Gritando de alegria pelo nome do amigo, ela se aproximou dele e foi montando, pois pretendia chegar à fazenda ainda com pouca luz. Lá, tomaria banho, jantaria e entregaria para prima algumas goiabas que ela apanhou carinhosamente para ela. Ficariam as duas conversando, fazendo planos e por volta da meia noite, iriam dormir, pois no dia seguinte, iriam as duas para curral e lá tirariam leite para ajudar na labuta rural.
Já montada sobre o arreio, ela disse ao amigo General que galopasse mais rápido. Tinha ela planos para dizer à prima. O cavalo a obedeceu e lá se foi. Sempre galopando e ouvindo o que a amiga lhe dizia. A pastagem verde ficava para traz. As primeiras estrelas surgiam no céu. Lá no fundo, ela vê algum clarão, pois era relâmpago surgindo no horizonte. A noite não seria tão iluminada, pois era lua cheia, mas teria chuva forte. O vento soprava mais forte, fazendo com que ela apertasse mais o chapéu.
Quando os dois desciam a colina, ela sentiu que o amigo General estava meio estranho. Erguia a cabeça como se estivesse vendo alguma coisa à frente. De cabeça levantada, ele não obedecia aos comandos da amiga. Então, ela, meio preocupada com a situação, resolveu olhar para o lado onde o cavalo olhava, para direita. Lá, em grande velocidade, outro cavalo galopava, mas não punha as patas no chão. Um enorme chiado era sentido. O cavalo era também na cor branca. Não tinha arreio nenhum. Os olhos eram bem vermelhos e a cor era muito forte. Abria a boca e os dentes eram enormes, sendo incompatíveis com quaisquer raças de animais puro sangue. Não cavalgava, simplesmente flutuava e deslizava pela pastagem afora. Sobre ele, montado, havia alguém que abria a boca e a língua dele quase tocava o corpo da jovem. Os olhos de quem estava sobre o fantasma cavalo saiam em direção de todos os lados.
A jovem gritava de medo e pavor. Soltou as rédeas do amigo e disse para ele galopar o mais rápido possível. O cavalo entendeu que aquilo era algo não conhecido dele. Também a jovem gritava e rezava ao mesmo tempo.
Ela chegou à fazenda gritando e muito apavorada. Contou tudo o que aconteceu. Logo, o avô, vindo ampará-la com o abraço, segurando a bengala, pediu que eles sentassem ao banco e lhes contou a lenda fantasmática do cavalo branco.
Já recomposta do susto, ela somente foi cavalgar junto com a prima e pediu para o tio ir junto.