A LANTERNA 💡
[baseado no conto mitológico de Otsuyu (お露) ou A Lanterna de Peônia]
ATO I
[Relato de Ogiwara]
Certa noite, uma dessas qualquer
Avistei a lanterna de peônia
Levada por essa elegante mulher,
Linda e com sua parcimônia
Era bem tarde, não era tão cedo,
Fiz a mulher aquele convite,
Pois caminhava nas ruas de Edo
Anseio que ela não me evite
Cabelos negros e com a lanterna.
Tinha o frescor do betume.
Sua presença trazia a paz eterna,
Como inebriante perfume
Sua companhia era tão agradável
Mas o vizinho ouviu no jardim
Uma cena que parecia deplorável
Algo que abalou então a mim!
Disse que mesmo naquele escuro
Ao pisar em algum graveto,
Observou por cima do meu muro
Dançar um morto esqueleto
Com medo, procurei certo monge,
Ele para o cismar em cúmulo
Apontou em riste mesmo de longe
A cruz maldita desse túmulo
Ali, gravado na lápide com granito
Otsuyu então ela se chamaria,
Agora sim, no além eu já acredito,
Com essa minha melancolia!
Dias depois, senti a tristeza.
Voltei ao local do seu belo jazigo!
Vi-a em seu olhar de pureza
Ela me disse: Venha então comigo
Eu lhe ofereço o meu coração,
Venha podemos viver eternamente,
A noite em fúnebre escuridão,
Caminhamos por ali tão lentamente
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ATO II
[Relato do Monge]
Não vejo ele, que assim tomara,
O amor depois da morte não contemplo
Que eu encontre então Ogiwara
Desde sua última visita ao nosso templo
Abri a cova de Otsuyu com oração
Dentro do caixão, a cena mortal,
Meus pés tremiam como o coração
Pelo decúbito encontrei o casal!