As diversões (miniconto).
Seu ser era todo saudade, vagando por campos idos, hoje transformados em cenários. Quis ver sementes ou fartura, porém estava destinado murmúrios de aflição, trazidos por um fino véu d'água, oriundo da cachoeira lá de trás. Sentiu um ímpeto, e disso tirou suas botas e pôs os pés no fluxo, acendendo o rosto com o prazer da sensação. Mesmo assim, o vento de más notícias soprou em seu ouvido, ao que aquela aflição lhe foi transmitida: se em sua infância, nesse mesmo lugar, essa água lhe cobria metade do corpo, porque, agora, apenas acaricia seus pés? Certamente um nó na garganta, um congelamento que, juntamente com a sensação de ser sequer a menor das engrenagens do sistema, colapsa todos os setores da vida. Nessa meditação, novamente entrou na realidade, observando o ambiente. Digo: um vasto campo, com certo verde tapete, quase nenhuma árvore, nuvens branquíssimas e o céu claro. Vinha de uma já tristeza, a qual podia ver, donde estava, que era uma mancha ocre no meio do verdejal: um cadáver. O sangue secou no corpo, já havia moscas e, em pouco tempo, as larvas surgiriam. O projétil acertara a lateral da cabeça, da qual escorriam miolos. Ali quis retornar de onde veio. A correnteza, porém, pareceu o lugar celeste, que ofertou uma frugal paz. Seria. Um tiro, vindo do alto, mas não quis mover-se o mínimo. A perseguição. Em alguns minutos, escorreu algum sangue pelos seus pés, levado pelas águas. Era uma febre.