A Vingança

- Vinte ano nesta porra! Tenho mais paciência pra isso não!!!

E assim começou mais um dia na vida Carlos, policial há 20 anos, comportamento extraordinário, conduta ilibada, compromisso no serviço e mesmo assim as perseguições não cessavam. Se sentia perseguido, todo dia ao sair para trabalhar, lia a folha de papel desgastada que trazia dentro da carteira com uma oração escrita por sua Mãe, que lhe foi dada no dia em que se apresentou na Escola para começar seu curso e iniciar sua carreira militar, porém, com certos tipos de ser humano, nem a fé de uma Mãe resolve.

Era 7h da manhã de uma sexta-feira chuvosa, todos em forma para realizar a apresentação ao comandante do Batalhão, quando um Capitão já conhecido por seu temperamento pouco amistoso o tirou da formatura matinal o chamou de canto e o informou que precisaria que ele ficasse após o final do seu expediente normal de trabalho para realizar abordagens em uma área problemática, onde estava ocorrendo vários assaltos, mesmo informando que era aniversário de casamento, que já havia combinado sair com sua esposa, obteve a resposta fria que era necessidade do serviço, que ser Militar exigia sacrifícios. A vontade de arrebentar a cara daquele “fela” era muita, porém. Ao colocar na balança, percebia que só teria o que perder, faltava tão pouco para tão sonhada aposentadoria, mas, isso não deixava a vontade de desfigurar a cara daquele oficial menos presente.

Assumiu o serviço com sua equipe, por ser mais antigo era o comandante daquela guarnição e pela primeira vez depois de todos aqueles anos ele se fez a tal pergunta: valeu a pena?, tantas noites perdidas, tantos aniversários ausentes, momentos que ele sabia que um dia iriam fazer com que ele se arrependesse e parece que esse momento chegou. Antes de embarcar para mais um dia demônios, pois, talvez a maioria nunca tenha percebido, mas, ao acordar pela manhã, enquanto você se arruma para mais um dia de trabalho, sua mente, divaga sobre o dia maravilhoso que você deseja ter, encontrar os colegas, papear durante o almoço, não ter problemas no trânsito e voltar para casa, mas, o Polícia não, todos os dias ele sai para encontrar o Mal, o mal na sua pior forma, a forma humana, capaz de matar seu filhote, a mão que o alimenta e até mesmo a que lhe gerou, o único animal sabidamente capaz de ser falso, esse é o dia a dia de quem jura defender a vida de outros, colocando sua própria vida e a vida dos seus em risco, pois, ao morrer ele irá matar junto o futuro e os sonhos de todos o amam, então sim, esses dias são de demônios! Enfim, antes de começar a caça à escória da humanidade, parou para realizar um rápido café da manhã e nesse momento expôs para sua equipe seu descontentamento e informou que aquele dia seria atípico, não seria um dia de viatura a 100km/h em ruas de terra, esburacadas, nada de ficar pegando “picula” com os aviõezinhos, nada de colocar a vida de quem quer que seja, acima da vida da equipe, nesse dia eles seriam funcionários públicos e tudo seria feito conforme manda o regulamento, nada a mais ou menos.

As horas passaram como foguete, a indiferença com o serviço acho que ajudou com que o tempo não fosse sentido, Sua escala chamava até 23h, em casa sua esposa com certeza estaria dormindo quando chegasse, explicar a ela que os planos teriam que ser desfeitos, provavelmente a desanimaram e horário de ir pra cama deve ter sido antecipado e finalmente aquele dia com todas aquelas decepções, chegou ao fim, se despediu dos companheiros e seguiu para seu lar, porém, no meio do caminho decidiu comprar uma pizza já que não iria acordar sua esposa.

Pizza comprada, pensamento longe, morador de um condomínio novo em um local afastado do centro da cidade, mas, não reclamava, afinal, quantos tinha uma casa pra chamar de sua? Aprendeu desde cedo com sua mãe a ser grato por tudo, foi durante esses pensamentos que ele percebeu que algo entrou numa parte mais de mata logo a sua frente, parecia está arrastando algo. Como que ele viu caminhava, imaginou logo que alguém estava prestes a cometer algum crime ou já havia cometido e agora tentava se livrar do flagrante. Desligou os faróis, o carro a alguns metros antes e com sua pistola já em mãos, pois, ela já era uma extensão do seu corpo, ele foi procurar o problema que a maioria iria evitar, esquecendo da promessa que fez a si próprio no início daquele dia e do seu serviço.

Aquela noite parecia não está como as outras, normalmente ao passar por aquela parte do caminho que o levava até sua casa, sempre ouvia os barulhinhos da mata, grilos, sapos, porém, agora tudo estava parado, quieto, sentiu um arrepio estranho, igual a quando está preste a iniciar uma operação, mas, ele não estava em operação! Será que aquela simples averiguação, poderia desencadear algo maior? Que se dane! E partiu para procurar seus demônios diários.

Ao chegar no local onde aquela pessoa havia entrado, percebeu um rastro, como se realmente algo estivesse sido arrastado, A lua cheia deixava seu campo de visão bem amplo, com esse incentivo, ele foi averiguar, esquecendo da pizza esfriando no carro, da sua esposa dormindo em casa, apenas seguiu seus instintos. Não tinha caminhado 5min e já começou a escutar algo sendo partido, não,,, mastigado, nesse momento chegou a tremer, pois, o que estava sendo mastigado, dava pra notar que era algo duro, uma pedra, uma madeira, não! um braço... foi o que ele descobriu ao se aproximar daquela pessoa que agachada e de costas para ele, segurava um braço humano e o medo se instalou quando quem estava agachado, olhou para trás e o encarou e mesma já havia participado de inúmeras missões, tromado com o que a de pior desse mundo, ali a sua frente se encontrava algo que nem em seus piores pesadelos ele iria conceber. Um lobo gigante, mas, que quando necessário ficava em pé e nesse momento além de gigante você percebia como aquilo era horrendo, pois, os traços humanos presente naquilo dava o toque final.

Segurando a arma, tremendo das cabeças aos pés, ele deu a voz de comando: Policia, deite no chão! Acho que o impacto causado por tal criatura, causou uma espécie de pane mental, pois, realmente acreditou que suas palavras seriam obedecidas, a Besta se ergueu e voltou sua atenção para o novo objetivo, o cérebro voltou a funcionar e juntamente com ele o dedo posicionado no gatilho entrou em ação e aí mais uma vez o terror se fez, pois, mesmo após cinco disparos o qual tinha certeza que acertou todos, o Bicho continuava avançando, somente quando um disparo que acertou o olho direito da Criatura, foi que ela demonstrou um pouco de dor e soltou um uivo, isso renovou sua coragem e também seu raciocínio que lhe dizia que aquele ruivo não era apenas dor e isso se concretizou quando ele percebeu que o olho restante, tinha assumido uma vermelha, vermelho sangue e mesmo no meio do mato, com apenas a luz da lua, ele vislumbrou naquela cara preta o mais puro ódio e aí o instinto primário de qualquer ser humano se fez presente e em uma desembalada carreira conseguiu alcançar uma árvore que estava próxima e com uma agilidade que ele desconhecia, conseguiu chegar quase a topo. Já aconchegado no seu objetivo(a parte mais alta de uma mangueira), ele conseguiu respirar e tentar traçar um plano, pra sair daquela situação, conferiu novamente as munições(10 restantes) e confirmou que aquilo que tava lá embaixo era algo que ele não tinha nenhuma experiência nem treinamento para enfrentar, ligou a luz do celular e posicionou pra baixo, para tentar ver qual seria a posição do inimigo e pela segunda vez sua arma quase cai da sua mão, pois a poucos metros de onde ele estava, observou aquela coisa vindo em sua direção. Não tinha mais pra onde ir, apenas mais um galho e a árvore acabava, mais 10 disparos sua munição acabava e pelo visto seu fim seria seria em cima daquela árvore, no dia do seu aniversário de casamento.

Continua.....