O Alquimista e o Padeiro
Foi criado! O mais perfeito homúnculo foi criado pelo alquimista da vila. Ele que deu seu sangue, tempo, conhecimento e outras coisas para criar tal obra.
O homúnculo de um palmo e meio de altura dizia: “Pai!” e o alquimista ficava todo sem jeito. Suas mãos desproporcionais seguravam a mão do alquimista como forma de afeto.
Embora estivesse orgulhoso da sua criação, o alquimista ainda tinha um problema: o xerife da vila. Ele mataria o alquimista se soubesse que ele “brinca de ser Deus”.
Para resolver tal problema, o alquimista foi até o padeiro.
— Sei que está trabalhando, mas poderia fazer um favor? – perguntou o alquimista com sua criação em uma cesta.
— Depende, o que é?
O alquimista colocou a cesta em cima da bancada e mostrou:
— Queima isso aqui para mim?
— Pai! – disse o homúnculo.
— A cesta? – questionou o padeiro olhando torto – ou essa aberração?
— Não fale assim dele, foi feito com carinho.
— Pai!
— Se foi feito com carinho por que quer matar ele? – perguntou o padeiro indo para o forno.
— Porque se ele não morrer quem morre sou eu!
— Papai!
O padeiro olhou com desprezo para o alquimista enquanto tirava uma fornada. Não compreendia o motivo que fez o alquimista criar aquilo.
— Ele está vivo, não posso matar – disse o padeiro colocando a chapa em cima de uma mesa.
— E eu também estou! – falou o alquimista cheio de medo – se ele não morrer quem morre sou eu!
— Pai, padeiro, pai.
— Ele até me reconhece – disse o padeiro – não posso matá-lo.
O alquimista fechou os olhos e respirou fundo. Estava realmente amedrontado com a ideia do xerife descobrir.
— Uma moeda de ouro – ofertou o alquimista.
— Isso não paga nem o pecado que é fazer isso!
— Cinco moedas de ouro – aumentou o alquimista.
— Se consegue ter tanto ouro por que você mesmo não compra algo para matar o homúnculo.
— Pai! Pai!
— Um lingote – ofereceu o alquimista em desespero.
— Aí começa a valer a pena – disse o padeiro com malícia no olhar – traga o lingote que eu queimo logo em seguida.
— Pai? – perguntou o homúnculo com expressão de confusão.
O alquimista pegou a cesta com o homúnculo e foi para a casa em prantos. Ele pegou o pequeno lingote de ouro transmutado do chumbo e colocou na cesta ao lado do homúnculo.
Em silêncio foi andando de volta à padaria.
— Aqui está – entregou a cesta para o padeiro – queime… eu ficarei aqui para garantir.
O padeiro colocou o lingote em cima da mesa e jogou a cesta com o homúnculo dentro do forno.
Era possível apenas ouvir os gemidos de dor e desespero do homúnculo. Enquanto ele queimava o alquimista chorava amargamente.
— Pai! Pai! – gritou em desespero – ajuda! Ajuda!
O alquimista de costas para a bancada caiu de joelhos. Ele chorava muito pela sua criação, mas não tinha o que fazer. O padeiro apenas observava a reação do alquimista.
— Pai! – disse o homúnculo com a voz distorcida – pai!
Após gemidos distorcidos de dor a criação finalmente morreu. O padeiro em um ato insensível falou:
— Pronto, acabou seu problema.
O alquimista apesar de ter pagado caro agradeceu o padeiro e foi embora, chorando e soluçando, com a sensação de ter sujado as mãos.
Os restos do homúnculo se misturou à lenha do forno e o cheiro de carne queimada foi se dissolvendo no cheiro de pão fresco.