Um caso real. [microconto]
Do ser humano, nada sabem...
A casa era muquifada e com esse escuro interno, azuloso. Tom triste. Cômodos poucos. Viviam lá dois: o mais velho e o mais novo. Esse mais velho era desses que velhararam no parado, sem pra frente ir, mas também nem pra trás. Com a fala e o tudo mais, quem vê logo diz, e não esconde. Já o mais novo era caso estranho: gostava? Se lá estava, no ninho, claro que. Nenhum "indício", como gostam de falar; voz grossa, comportamento e tal. De menino de rua. Juntos. Há quem diga, porém: esse novo era gigolô do outro. Ah, pois: outros dizem ser mesmo é traficante, ou coisa assim. Não se sabe. Era esse matrimônio de serpente, enrolada na caverna, mas que ninguém nada dizia; até riam, achando bonitinho. Quem que xingava? Mas era tudo problema. Problema do Chico, o maricona, era o geral, desses de mais tempo — problema por se esconder e reprimir ou problema por se exibir. De qualquer, ficam os estigmas. Quem o via percebia o jeito estúrdio e próprio desses que a mente congela. O outro? Não sei, parecia drogado. Menininho mal caminhado, mau falador, mau pensador. Gente com dificuldades. Que o problema era dinheiro? Ele tinha demônios? Era a cara de dar medo! Sorrindo, sorrindo, mostrando os dentes! E os olhos bem abertos. Falava estranho, dizendo abertamente. Se filmava, todos viam. Por que isso? Eu digo: pareciam demônios. E droga tem o mesmo início. Os dois juntos, novamente: a cara de Chico era muito penosa. Sabe quando se tem ciência da desgraça? Quando o tiro é disparado em sua direção ou o leão está te encarando. O quarto cada vez menor. Ele assim, de calado, de tentar não mostrar o desespero. Era medo! E o falar medido. Que tinha o assassino ao seu lado, com a faca. Não deu, que o outro achava graça e dizia: a morte!