A culpa.
Ando me perturbando à toa, mas acho que atualmente estou bem melhor. E bem melhor também estou do que muita gente... Acho. Pareço estar livre de certos abismos, apesar de muito íntimo de outros. É muito mais fácil quando não é comigo, o diagnóstico vem com mais rapidez e eu acredito ser amante, parcial, da paz, minha. Porém as coisas tranquilas demais estavam.
Eis que numa noite recente, recebi uma má notícia que, pasme, originalmente não era má para mim, mas para outrem. A situação é bem corriqueira: algum infelizardo, cunhando-se de irresponsável, esqueceu completamente de um importante compromisso às 10:30. Uma "baita oportunidade", disse. Deve imaginar que somos amigos, pois sim. E soube de seus lamentos; logo ele, que já tem o mal costume de se depreciar. As imaginações... são elas que causam a morte?
Imagine, portanto... Que tenho eu a ver com isso? Claro: um amigo troca confidências; seria apenas um caso de consolação, entretanto a mente, essas enfermidades, faz tudo ser um caso pessoal. Meu horror é que, no tal horário, estávamos juntos. Para ser preciso, precisava eu de capital ajuda naquele momento. Ele foi a ajuda. E houve presságios...
Consegui o que queria. Tudo deu certo para mim. As coisas seguiram na maior banalidade, até no rosto dele se via tranquilidade vã; na de todos, aliás. Minha vida continuou, eu disse as coisas estarem numa calmaria de serpente. Então, mais tarde, recebi os tais lamentos. Nada falou ele de mim, apenas disse-me o fato. Porém, novamente senti o odor e a lama conhecidas, nada mais existiu para mim depois do narrado.
Culpa minha! De quem mais? Sou eu o causador disso! É o que tenho eu certeza, é o que eu sei. Eu. Arrastei-me de minha casa pelas ruas, verme, alastrando por aí minha vergonha. Minha via era simples: a casa de meu amigo — o mesmo que eu fiz o mal. Diante da porta eu estou, sabe? Minha vontade é pedir as minhas desculpas...