A ESCOLA ASSOMBRADA

Quando cheguei de São Paulo para Porto Velho, se não me engano foi numa sexta-feira , foi deflagrada uma greve dos vigilantes de uma empresa por nome de Condor.

Minha irmã que era diretora de uma escola assistida pelos serviços da Condor ficou com medo de deixar a escola sozinha a noite por causa dos saques e me perguntou se eu poderia passar às noites na escola que ela me daria duzentos reais no fim do mês...Aceitei!Não estava fazendo nada...Fui dormir às noites na antiga escola Samaritana no Bairro Olaria na rua Benjamim Constant,946 que hoje já nem mais existe essa escola...

Era um prédio antigo da maçonaria que já tinha sido o primeiro hospital de urgência da cidade e um dos primeiros hospitais do território. Depois a maçonaria cedeu o prédio para a SEDUC na década de 70 e, assim fizeram uma escola de Ensino Fundamental.

Passou-se mais de uma semana eu indo dormir na escola e toda vez que eu entrava lá, sentia uns arrepios, um frio na espinha...Eu só imaginava que alguém fosse se materializar na minha frente, mas, não aconteceu naquelas horas...Eu já estava me acostumando com aquela situação lúgubre, com aqueles calafrios , arrepios, maus presságios era um lugar horrível pra se ficar sozinho...Mas, na sexta-feira para o sábado da segunda semana, era mais ou menos uma da madrugada, quando eu estava assistindo "Emanuele" (um seriado de adulto que passava nessas horas ) , a televisão saiu do ar e apareceram aqueles chuviscos na tela, eu notei que as lâmpadas fluorescentes ,daquelas compridas, começaram a girar no seu centro e como por magia apareceu muita névoa dentro da sala e com a névoa vieram umas sombras que passavam por mim e diziam alguma coisa que eu não entendia, mas, eu ouvia gritos de mulher com crianças que corriam próximos a mim...E a névoa foi se dissipando e as sombras desapareceram...Não se ouvia mais barulho de crianças! . . .As lâmpadas voltaram ao normal, a TV voltou, tudo voltou ao normal, menos eu que ainda estava paralisado de terror ; as pernas flácidas não respondiam ao comando do cérebro...Os pés pareciam pregados no chão . Não sei se passaram segundos ou horas nesse moído todo , mas, quando consegui mexer um só tendão, de um salto consegui chegar até a porta, abrí-la e pular o muro sem colocar as mãos nele.

A casa da minha irmã era perto e fui pra lá mas não falei nada e fiquei na varanda . De manhã, o marido dela abre a porta e ao ver a minha cara diz logo o que tinha acontecido.

Sem jeito e com muita vergonha fui entrando na casa deles e entregando o cargo .

Minha irmã que é traíra pra caraca não tinha me avisado nada e me pergunta o que eu tinha visto . Na hora não falei nada ,porque estava sem condições de acreditar no que tinha acontecido comigo ,mas aos poucos fui me recompondo e caindo na real e terminei contando tudo depois que tomei um café .

A traíra da minha irmã contou que vários vigilantes já haviam corrido de lá por conta desses fenômenos e no entanto não me disse nada. Ai, ela me pediu para acompanhá-la até a escola para fechar as portas e quem disse que fui ? E o marido dela um bichão de dois metros de altura , medroso que só cachorro vira-latas do rabo fino quando toma uma porrada de alguém, chamou mais dois irmãos e foram pra lá .

Quando voltaram não me encontraram mais na casa e vim aparecer com seis meses depois do fato ocorrido. Nunca mais passei nem na frente dessa escola por medo nem na frente da casa da minha irmã por pura vergonha . Tempos depois, felizmente demoliram a escola e fizeram um estacionamento para um prédio do Fórum do tribunal de justiça que construíram no local que era o antigo Ypiranga clube o qual ficava por trás da tal escola e ainda hoje há vigilantes que ainda vê muitas coisas .

PORTO VELHO 05/02/1996

Professor J Silva
Enviado por Professor J Silva em 19/08/2023
Reeditado em 21/08/2023
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