O MISTÉRIO DO TRIÂNGULO DAS BERMUDAS
Em diversas culturas e religiões milenares, existe a lenda de um demônio que tem o poder de controlar forças da natureza; podendo direcionar tempestades ou criar o mais puro caos nos oceanos, com ondas titânicas e cataclísmicas, sendo a fonte de todo o mal primordial.
Esta criatura das trevas seria “Lilith”, a primeira mulher de Adão, segundo a mitologia, ela recusava-se a ficar por baixo durante o ato sexual, motivo pelo qual teria sido expulsa do paraíso e posta em uma prisão natural, onde não havia possibilidade de fuga. Contudo, antes da humilhação do banimento, Lilith constatou que estava grávida, mas nada disse aos deuses guardiões, levando este segredo para a prisão eterna.
Embora sem poder sair do limbo ao qual fora condenada, os poderes de Lilith ainda alcançavam facilmente o ambiente mais próximo. Assim, trovões, tsunamis e furacões assolam a humanidade, originados pela sua força sobrenatural.
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Um casal de milionários tinha como um de seus passatempos prediletos viajar mundo afora, conhecendo todas as belezas do planeta, seja qual fosse o destino, sempre preferiam os mais exóticos. Decidiram naquele ano que era preciso desencadear mais uma aventura eletrizante. Agora a viagem não seria feita por jatinhos ou helicópteros luxuosos, mas no poderoso barco que possuíam, modelo F690. Era um navegador compacto, porém com força suficiente para ultrapassar as águas mais turbulentas, tendo a vantagem de poder ser operado por poucas pessoas.
Durante um ano eles iriam percorrer todo planeta em busca de locais paradisíacos, sobretudo praias pouco exploradas e de difícil acesso.
O homem, chamado Cristiano, era um executivo de 45 anos, bastante conhecido por seu comportamento trapaceiro nos mundos dos negócios. Ele estava bebendo um copo de Whisky Macallan 1926 com gelo de água de coco e ouvindo Portishead no aparelho de som quando pensou ter visto de relance na frente da embarcação uma mulher ruiva com vestido branco transparente; segurando em uma das mãos uma pequena pedra escarlate de beleza ímpar.
O primeiro pensamento dele foi de que deveria maneirar nas bebidas de teor alcoólico, pelo menos até ancorarem em águas mais tranquilas, ademais, o tempo parecia mudar rapidamente. Nuvens sombrias de um cinza enegrecido e trovões que ribombavam poderosos surgiam de maneira assustadora no horizonte.
O próximo destino do casal era Miami nos EUA. Passavam pela área notoriamente conhecida como o Triângulo das Bermudas, lugar onde impera lendas com séculos de existência, santuário do caos, com diversas embarcações e aeronaves que sumiram, nunca havendo notícia dos desaparecidos.
De repente o mar começou a ficar agitado. Os aparelhos eletrônicos do barco deram sinal de falhas, com zumbidos estridentes e intensos. Uma enorme onda veio ao encontro deles, atingindo a embarcação. Sarah, a esposa de Cristiano, loura alta e de corpo escultural, ostentava com seus 28 anos de idade o auge da beleza que uma mulher poderia refletir; ela perdeu os sentidos rapidamente após o choque com a onda. Cristiano pensou ter ouvido passos se aproximando e então apagou também.
Quando acordaram, logo notaram que o barco estava na praia de uma sinistra ilha, encalhado no local. Toda a moderna aparelhagem da embarcação estava inutilizada, até mesmo uma bússola de uso pessoal aparentava uma completa desordem, não conseguindo indicar de maneira correta as polaridades esperadas.
A desorientação nos dois ainda era imensa, mas não demorou a perceberem que nas proximidades havia sete gigantes estátuas de mulheres, moldadas com pedras de tonalidade vermelho alaranjada. As ciclópicas e espectrais figuras, de aspecto altivo e solene, olhavam em direção ao mar, lembrando um pouco as lendárias esculturas misteriosas de Rapa Nui.
Eles desceram e decidiram explorar o local em busca de ajuda. Subiram um morro onde a vegetação era menos densa e depois de alguns minutos de caminhada viram uma pequena porção de pedras vermelhas dispostas na frente de três trilhas serpenteadas que iam dar nas entranhas da ilha. Como o anoitecer estava se aproximando, o casal resolveu que investigariam aqueles caminhos em outra oportunidade.
Continuaram explorando a paisagem lúgubre. Em um descampado no meio da floresta, constataram a existência de restos do que parecia ser um antigo avião da Segunda Guerra mundial, ainda se notava com facilidade o símbolo do império japonês nas laterais da aeronave, como se houvesse sido colocado ali há pouco tempo e não há várias décadas.
Ao longe eles viram que uma estranha fumaça cinza começou a ganhar corpo. Pensaram que talvez encontrassem ajuda seguindo naquela direção. Quando começaram a nova caminhada um som gutural surgiu majestoso das profundezas da mata fechada. Algo deslizava pelas folhagens de forma sorrateira. Um animal que lembrava um urso polar então se mostrou em toda sua assustadora grandiosidade, dando claros sinais de que estava caçando.
O casal correu para longe do bicho. Estava anoitecendo e eles escutaram sons vindos do interior da ilha, pareciam animais rastejando e pássaros voando alucinadamente, como se fugissem de algum feroz predador. Sons que lembravam tambores de origem africana surgiam de todas as direções. Eles ouviram um grande uivo de lobo selvagem nas entranhas da floresta. Todo o ambiente parecia mover-se ao redor, algo espreitava, ocasionando o mais puro temor, alguém ou algo, na escuridão das trevas, despertava.
Ainda em pânico, o casal penetrou na floresta a sua volta. Depois de algumas horas vagando na escuridão total, iluminada esporadicamente pela lua cheia, viram uma estranha luminosidade surgir do interior da mata, indo na sua direção.
Ao chegar ao local eles visualizaram estranhas construções brilhantes e esbranquiçadas, algumas tinham semelhanças com as antigas pirâmides do Egito, só que em perfeito estado de conservação. Em uma delas se lia uma inscrição um pouco deteriorada com os seguintes dizeres “Necronomicatlantis”. As principais obras de engenharia, contudo, se assemelhavam a pequenos castelos medievais.
Uma mulher de pele branca e cabelos longos em tom dourado estava entrando em um dos cinco "castelos" existentes. Usava um tecido preto colado ao corpo, como a roupa dos super-heróis das histórias em quadrinhos; deixando bem visível seu corpo que clama por pecados da carne. O casal correu ao seu encontro gritando por socorro.
Chegando perto das construções, os dois notaram que havia uma estranha plantação no entorno, com diversas variedades de hortaliças. Era nebulosa e crescente a sensação de que estavam sendo observados. Adentraram no sinuoso castelo principal e após alguns passos no interior do recinto viram que um grupo de cinco mulheres havia lhes cercado. Todas usavam roupas coladas ao corpo. Eram belíssimas, mas a pele muito branca chamava mais atenção. Elas foram se aproximando do casal.
Cristiano começou a fazer estranhos gestos, apertando as pernas uma na outra, como uma criança quando está com vontade de urinar. A esposa olhou para ele e viu que o homem estava tendo uma ereção.
— Não acredito no que estou vendo, você não tem jeito mesmo né? — disse a esposa.
— Desculpe, foi involuntário, veja, elas são deslumbrantes....
Rapidamente foi desferido um tapa na cara dele. As mulheres de preto riram bastante da situação. O homem perguntou:
— Quem são vocês, que lugar é este? O que vocês querem?
Uma das mulheres, a que parecia ser a líder, uma ruiva de olhos azuis respondeu:
— Somos as filhas de Lilith, vocês estão no paraíso perdido. Abriu a boca e mostrou enormes dentes pontiagudos. A ruiva era uma Vampira.
O casal não fazia a menor ideia de quem raios era Lilith.
— Fuja meu amor! — disse Cristiano em direção à esposa, mas a mulher já estava correndo, a uns 10 metros na sua frente. Porra, que vadia traiçoeira esta minha mulher, pensou.
Correram como velocistas em uma olimpíada, mas logo foram capturados e levados para uma jaula mais precária do que as cadeias brasileiras. O local era todo iluminado por estranhos refletores azuis que emanavam luz em várias direções, lembravam dronnes de alta tecnologia. Em uma cela em frente à deles havia um homem acorrentado, trajava uma roupa que parecia ter saído de alegorias das mais medíocres escolas de samba, lembrando a vestimenta dos antigos colonizadores europeus. Tentaram falar com ele, mas o mesmo não respondeu. Em outra jaula havia um homem musculoso e alto, com vários ferimentos pequenos pelo corpo, vestia uma sunga deteriorada bege e um antigo bracelete de metal no ombro esquerdo, estava sentado no canto. Ele disse algumas palavras em um italiano bastante precário.
Cristiano havia aprendido 14 idiomas quando fez um retiro espiritual com monges budistas no Himalaia em um curso no Afeganistão e logo percebeu que se tratava de uma variação da língua italiana, falada apenas em vilarejos próximos à antiga Roma, mas que há séculos não era mais ouvida, uma língua morta há bastante tempo, portanto. Ele perguntou ao forte homem:
— Onde estamos, quem é você?
— Meu nome é Otavianus, sou um gladiador, fui feito de escravo sexual por estas mulheres sangrentas, sou mantido como bicho adestrado e todos os dias elas me mordem apenas para ver o sangue escorrer.
Aquilo não fez o menor sentido. O casal resolveu deixar o homem em paz, pensando que se tratava de um doido alucinado ou drogado.
De repente surgiu da mata uma bela Vampira, demonstrava ter uns 18 anos, segurava uma chave, caminhou lentamente para a jaula do gladiador. O homem se encolheu assustado. Ela disse para ele ficar na posição de sempre e então ele se deitou de costas, tirou a sunga. A bela Lolita das trevas lentamente se despiu e foi em direção a Otavianus. Ela fez variados carinhos no órgão genital do gladiador, logo estava duro como pedra. A jovem ninfeta demoníaca sentou em cima do órgão enrijecido e começou a cavalgar, depois de alguns minutos de gritos e reboladas alucinadas ela foi ao prazer.
Antes de sair da jaula do gladiador a mulher acabou derrubando a chave, mas não percebeu. Otavianus escondeu o objeto de libertação atrás de um monte de terra, usá-lo-ia posteriormente para empreender sua fuga.
Passaram-se algumas horas. Das entranhas da nebulosa floresta surgiu outra Vampira enigmática, entrou na cela do homem agrilhoado, vestido ao estilo “Colombo”. Ela segurava um recipiente com aparência de balde em suas mãos. Tamborilava com os dedos sobre o mesmo, olhando de forma sarcástica e pensativa para o apavorado homem.
Ao ver a Vampira se aproximando lentamente ele gritou algo estridente em um idioma latino, proferindo palavras ofensivas, alternando com pedidos de clemência; a bela ninfa demoníaca ignorou os pleitos de perdão, com um movimento rápido e preciso disparou contra ele, dominou-o facilmente, aplicando com uma das unhas um corte profundo e cirúrgico na garganta da vítima, atingindo uma das veias principais. O sangue começou a escorrer, ela colocou o recipiente ao lado e foi juntando o líquido vital. Depois que o sangue acabou ela estraçalhou o corpo e juntou os pequenos pedaços restantes no balde. Tripas, fígado e pele misturados em uma estranha gosma de carne moída. A mulher pareceu não nutrir nenhum sentimento pelo que tinha ocorrida, saiu assoviando alegremente, como uma dona de casa que faz compras de forma distraída em um supermercado.
Os viajantes estavam apavorados. No outro dia pela manhã, eles ouviram passos se aproximando furtivamente. Era a Vampira-mor ruiva. O homem pensou: o quê, se ela é Vampira, como está andando em pleno dia? A mulher, como se tivesse adivinhando o pensamento de Cristiano, apenas respondeu:
— Nós evoluímos com o passar dos séculos, principalmente nossa alimentação fez com que pudéssemos andar normalmente durante o dia. Não comemos glúten. A ruiva então falou para eles saírem da sela.
Quando o casal estava saindo, um animal passou voando rapidamente sobre eles, era uma Pomba branca, um pássaro emblemático para alguns, para outros, apenas uma fonte de doenças e carrapatos. A ave pousou em um galho um pouco acima do casal. Eles olharam curiosos. Cristiano tentou falar alguma coisa, mas neste momento, a ave, sem alarde ou aviso prévio, defecou em sua cabeça uma grande quantidade de fezes pútridas. A criatura das trevas começou a sorrir e disse que aquilo era sinal de que ele era um pecador; já que os pombos seriam animais sagrados segundo a mitologia vampiresca, tendo em vista que foram incumbidas por Noé, após o dilúvio, de constatar se havia terra no mundo passada a grande inundação.
Outras três Vampiras se aproximaram do grupo, juntos formaram um bloco uniforme, empreendendo a seguir uma marcha por um caminho que se abria na floresta, os levando a uma vasta plantação. Ao chegarem ao local, à líder vampiresca falou:
— Vejam, aqui está o nosso segredo, a nossa nutrição tem como pilar basicamente apenas alimentos saudáveis da natureza, desta forma conseguimos viver em média cinco mil anos, não somos imortais como a maioria de vocês humanos desprezíveis pensa. Já presenciamos o declínio de civilizações inteiras, como nossos companheiros de Atlântida. Já lutamos com seres extraterrestres por este local, enfim, já presenciamos o início, o fim e o meio, como diria o maluco beleza. O tempo para nós é relativo, não existe passado, presente ou futuro. Às luzes que iluminam as celas dos prisioneiros, por exemplo, ainda nem sequer foram inventadas no tempo presente em que vocês vivem, surgirão apenas no ano de 2086.
— Mas eu vi uma de vocês acabar friamente com um homem ontem, vocês são sanguinárias e não vegetarianas — disse Cristiano.
— Não, o que você viu foi apenas uma de nossas irmãs coletando adubo para a plantação. Somos vegetarianas, mas o solo precisa ser regado de tempos em tempos com sangue e carne fresca para restabelecer a nossa perfeita saúde. Agora são dez horas da manhã, momento perfeito para uma nova adubação.
As Vampiras sorriram, mostraram os afiados caninos e atacaram o casal. Despedaçaram seus corpos rapidamente. Pernas, braços e cabeças eram decepados com bastante facilidade, como uma criança que ao dar um chilique acaba por detonar um boneco de plástico. Após o massacre, recolheram os restos e adubaram as plantas, rebolando sensualmente, despejando os restos das vísceras em cima solo fértil e poderoso.
Dois meses depois, ao meio-dia, cerca de 30 Vampiras estavam em volta das estátuas, todas com roupa branca transparente. Apenas a líder trajava um vestido negro elegante. Dançavam freneticamente uma espécie de frevo maluco. A líder ruiva de olhos azuis trazia em sua mão direita uma linda pedra vermelha.
À noite, já em seus aposentos, as Vampiras jantavam, eram servidos alfaces, cenouras, beterrabas e outras hortaliças. Do lado de fora raios riscavam o céu, trazendo uma tormenta poderosa. Com sua audição aguçada elas perceberam que mais um navio havia encalhado na praia.