O fantasma da árvore
O fantasma da árvore (José Carlos de Bom Sucesso)
A noite fluía normalmente, porém não para Amadeu, o nobre e consagrado vereador da cidade longínqua, situada ao pé da serra da cidade mineira.
Sagrou-se vereador na última eleição. Foi bem votado e escolhido presidente da câmara. Tinha muitos amigos, pois sua profissão era vendedor na cooperativa da cidade. Nos finais de semana, exclusivamente, aos domingos, montava-se em seu cavalo nas cores branca e vermelha, por nome de Alazão. Vestia-se calça azul-marinho, camisa vermelha, de mangas compridas, cinto afivelado específico para cavalgada, chapéu de abas grandes, na cor marrom. O canivete na cintura. O arreio do animal de última geração, com componentes importados. Portando o aparelho celular no compartimento feito exclusivo para uso no cinto, lá se ia ele para algum lugar da redondeza.
No domingo, lá foi ele para o povoado distante de vinte quilômetros. Arrumou-se, como pode, e saiu cavalgando pelas estradas até chegar ao povoado. Por onde passava, sempre, saudava algum transitante que encontrava. Conversava muito, sorria, brincava e até algumas piadas ouvia e também contava.
Assim que chegou ao povoado, muito feliz, conversou com várias pessoas. Tinha até compromisso político com a comunidade. Discursou, sorriu, fez a refeição e até o café da tarde tomou. A conversa estava bem longa. No recinto onde estava, a agenda foi tão grande e demorada que ele mesmo não viu o tempo passar. Quando terminou, já era noite. Não se enxergava nada. Somente algumas luzes de casas vizinhas e algum veículo que por ali transitava. Ficou ele preocupado, mas logo foi encorajado pela prima, que naquele lugarejo morava, dizendo que era noite de lua cheia. Logo, com certeza, a lua iluminaria o caminho até a cidade. Não precisaria temer, pois viajando à noite, a luz lunar brilhava feito o dia.
Riu-se, pois, pelo ânimo da prima. Ao mesmo tempo, o Sr. Joaquim, ancião com mais idade da vila, que dizia ter cuidado, porque próximo ao córrego da Fazenda do Jacaré, sobre a grande árvore, algo diferente foi visto há alguns dias, conforme relato de outros moradores da localidade.
Meio assustado com os dizeres do morador mais antigo e, consequentemente, era a pura verdade. Imaginava ele que aquele velhinho jamais mentiria, pois era o sujeito sério, sábio e destemido entre todos ali.
Sorrindo, partiu. Ajeitou-se bem sobre o arreio. O bom cavalo tomou-lhe a guia e apertou a marcha. Escutava-se o ruído do vento indo diretamente aos ouvidos. Logo, a intensa claridade da lua cheia cobriu-lhe todo o caminho. A luz se misturava às sombras das árvores pelo caminho. Algumas luzes de moradias ao longo da estrada eram vistas. Sentia-se feliz e não temia o que viria pela frente.
Já cavalgava por longa distância. Após o mata-burro seguinte, entre a cava da estrada, a propriedade era da Fazenda do Jacaré. Ali, concentrava-se a pecuária para corte. O grande rebanho de gado nelore se misturava à claridade da lua cheia. Vários pontos brancos eram vistos. Deveria ter, naquela propriedade, mais de oitocentas cabeças de gado. O vereador parou por alguns instantes para contemplar a beleza do local. Seu cavalo estava cansado e seria o bom motivo para o descanso. Olhou mais para frente e viu a clareira e algo que se parecia algum banco. Apeou-se, desfrouxou o arreio. Carregava uma vasilha e água para o animal. Deu água ao cavalo e por ali sentou-se para descanso. Era tarde da noite. Nem teve coragem para olhar para o relógio. Deveria ser por volta da meia-noite. Cavalgaria por mais uma hora e mais alguns minutos para chegar à cidade. No outro dia tinha reuniões de trabalho e gostaria de estar bem descansado para os longos dias de trabalho para a semana que se iniciava naquele domingo.
Sentou-se lentamente sobre a grande pedra. Seu amigo fiel, o cavalo, logo levantou a cabeça, como se estivesse procurando algo ao redor. Respirava fundo e não se aquietava. Relinchava muito e não obedecia aos comandos do dono. Ergueu-se as duas patas dianteiras e saio a galope na direção da cidade.
Amadeu, sem saber o que se passava, levantou da pedra, mas chegou atrasado para segurar o animal, que já galopava a boa distância dele. Gritava-o pelo nome, porém ele não respondia e dobrou na curva da estrada, rumando na direção da cidade.
Sem saber o que fazer, naquele momento, ele tentou correr rumo ao cavalo que já havia curvado na estrada. Sentiu-se ele o enorme puxão pelo corpo. Não sabia o que era, nem mesmo imaginava ser dali. Olhou para cima e viu que os galhos da grande árvore balançavam muito. Era imenso do vento ali, em forma de redemoinho. A pouca poeira levantava-se ao ar. Não se via muita coisa, pois os olhos eram bombardeados por finas partículas de poeira. Sentiu ele o corpo a tremer. Algo o puxava para cima, mas ele nem mesmo sabia o que era. Com muito esforço, abriu parte do olho direito. Estremeceu, pois viu uma grande criatura que se misturada ao clarão da lua: Cabelos muito longos, grande barba que terminava nos pés; cinco olhos grandes, quatro bocas enormes, com imensos dentes brancos que iam engolindo Amadeu por inteiro. Por mais e meia hora ele ficou entre a vida e a morte.
Após os minutos em apuros, o vento forte foi passando. Amadeu perdeu a consciência e somente acordou no outro dia, quando o retireiro de leite da fazenda o encontrou.