I

Você se seca, você trava de medo

o sangue se esvai com rapidez

e você sente sua… ausência… fazendo

com que a pele também se seque, e vá

ficando extremamente gelada.

Você sente seu espírito

se esvaindo, se partindo ao meio

ao meio, mais e mais…

ao meio… mais e mais e mais…

E quando você encara o homem

de aparecia doente, anêmica

fria como uma parede,

ele rapidamente, sorrindo,

vai ganhando cor…

 

Ele passa rapidamente

da aparência de morto-vivo

[cabelos grisalhos na nuca

praticamente careca, sem sobrancelhas,

apenas um capacete ósseo

com grandes presas, enormes

… pontiagudos dentes caninos que

talvez por doença, genética, maldição

foram espalhar-se em toda a sua

arcada dentária.

Ele te quis. Ele te quer. E quererá.

outra, outra… e outra vez.

Ele morde seu punho, lhe dando mordidas

que te dão… espasmos.

Ele morde seu pescoço e você se imobiliza...

você está fraco, pálido, desesperançoso

por tentar gritar e perceber que sua voz,

falhou com você.

Agora ele morde suas coxas,

que é de onde o sangue jorra…

e você sabe que não sobreviverá

a furadas e espetadas tão profundas.

 

II

O sangue jorra… você já não sente dor

aproximam-se mulheres… lindas mulheres

uma loira e uma negra, praticamente nuas

por trás de vestidos transparentes, elas se abaixam

tocam você por toda parte… e quase há prazer, ao menos uma sensação…

uma lembrança do que foi... Ser feliz.

O Mestre agarra-as pelos cabelos

e empurra suas cabeças, como animais

frente a outra em sua perna intacta, e saem mais rios de sangue escuro… o cheiro de ferrugem

toma conta de tudo ferrugem… que é o cheiro da morte…

 

III

Ele acorda…

é manhã, mas com toda certeza

o seu sono não durara apenas

uma noite.

A casa está vazia, a piscina sem água

as luzes desligadas...

a única coisa que ainda há

é água para tomar banho e lavar

as mãos, mas não há comida nenhuma...

Porém ele não se arriscaria a comer,

mesmo se houvesse algo ali.

sem querer se olhou no espelho.

E lá estava um sujeito

com cara de defunto…

desbotado, careca, cheio

de cicatrizes de dentadas

por todo o corpo, inclusive

na face e até mesmo na testa.

Notou que seus dentes doíam

e sentia uma sede, uma vontade

enorme de comer carne crua…

hoje ele é o discípulo que ficou.

E que tudo perdeu e tudo deixou

e tudo ficou pra trás no mundo dos

vivos…

Aquela a quem mais estimava

e amava ficou pra trás...

Pois simplesmente não podia

sair do castelo em sua nova forma

de vida e ir até ela... na luz.

 

E a luz... jamais será uma opção.

Uma única carta chegou

e molhando os papéis

com lágrimas, ela leu e releu...

e mal conseguiu aceitar, mal conseguiu

entender…

 

IV

(do livro de Bram Stoker)

"Oh… minha doce Mina

pecado de mim esperar

que você espere por mim?

Os turcos aparecem de quinze

em quinze dias, vou sinalizá-los

até que me vejam… eles bem sabem

dos perigos daqui… Mina, eu te amo!

espere-me só um pouco,

não haja como

viúva, ainda…oh o Demônio

encarnado me vê e sorri,

me chamando às trevas.”

 

“Nosferatu… está aqui"