O CAÇADOR

Aquela era uma vila pequena, perdida nos confins da Romênia de uns dois séculos atrás. Por quase duzentos anos essa vila fora um lugar relativamente pacífico, afastada das mazelas do mundo exterior. O problema é que esse aprazível lugarejo foi erguido não muito longe de uma grande montanha em cujo cume erguia-se um imponente e sinistro e muito antigo castelo. Outro problema é que o povo também tem a memória curta, e muito da terrível história daquele castelo havia sido esquecida, e o que era lembrado passou a ser considerado como apenas superstição. Até que em uma noite de tempestade aquele que dormia nas catacumbas do antigo castelo acordou de seu longo sono e sentiu a presença daqueles que habitavam ao sopé da montanha. O que fez com que ao mesmo tempo que abria os olhos, ele voltasse a sentir sua sede eterna. Então, ele levantou-se de seu caixão, saiu de sua velha morada e, transformando-se em horrível e gigantesco morcego, desceu até a vila e levou sua primeira presa. Um bebê de seus dois anos tirado de seu berço. O filho do caçador. O nome desse monstro? Drácula.

Anoitecia.

Aos pés de um grande desfiladeiro em uma região afastada dos montes Cárpatos corria um rio de águas turbulentas. Ali o caçador se permitiu parar para matar a sede nas águas geladas. Iuri, esse era o seu nome, abaixou-se e usou as mãos em concha para sorver o líquido precioso. E depois de matar a sede, encheu o cantil e levantou-se para continuar o seu caminho. Foi quando ele os viu.

Eram lobos enormes, um com pelos pretos como a noite, os outros três castanhos. Animais enormes, olhos malignos, presas a mostra, afiadas como navalhas. Saíram de entre as árvores que cresciam naqueles ermos e cercaram o homem. Iuri, por sua vez não tinha dúvidas sobre a quem as feras serviam e nem sobre a intenção daquelas bestas.

Iuri Antonov nunca fora homem de fugir a uma boa briga, pouco importando se tinha alguma chance ou não. Então, o que ele fez foi receber o primeiro dos lobos com um tiro da pistola que trazia consigo. E o animal caiu por terra sem vida.

Os outros três monstros não deram sinais de terem se intimidado, muito pelo contrário, continuaram avançando, obrigando o homem a recuar cada vez mais, até estar cercado contra a parede do desfiladeiro.

O rifle de caça que trazia consigo não ajudaria muito naquela situação. Ele sabia bem disso. Então, enquanto segurava á pistola com uma das mãos usou a outra para pegar o afiado facão que trazia preso a cintura e preparou-se para enfrentar os demônios.

E eles avançaram, não um de cada vez, mas todos juntos, a intenção assassina estampada em suas faces animalescas. Um novo tiro deitou por terra uma das criaturas, e o facão deu cabo de outra. Foi o quarto lobo, o preto, que quase alcançou a garganta do caçador, suas presas afiadas cravando-se no ombro, entrando profundamente na carne.

Ambos rolaram pelo chão da floresta recoberto de folhas, engalfinhados em uma luta mortal, a fera esforçando-se por alcançar o pescoço de sua vítima e o homem por sua vez esforçando-se para manter as presas assassinas o mais distantes possível. E enquanto assim lutava, veio a mente de Iuri as imagens de sua falecida esposa e de seu filho levado pela criatura que ele agora caçava e isso fez com que ele encontrasse forças para repelir o monstro e desferir-lhe um golpe mortal com o facão.

Iuri levantou-se com dificuldade, sentindo muita dor no ferimento em seu ombro. As sombras já dominavam a floresta, e de algum lugar não muito distante chegaram os uivos do resto da alcateia. Recolhendo seus pertences, ele começou a correr. Havia naquela floresta uma cabana que ele costumava usar durante suas caçadas. Iuri precisava alcançá-la rápido se quisesse sobreviver.