O ídolo
Ninguém realmente considerou. Nem mesmo algo parecido. Afinal, era uma piada. De mau gosto. Com um caráter imiscuído em tantos vícios, com a alma envolvida em tamanha putrefação, não era possível que houvesse quem lhe entregasse crédito.
Mas, pois quase sempre há um mas esperando-nos na esquina das surpresas desagradáveis, estávamos errados. Figadalmente errados.
Seus discursos, embebidos no mais intestino sectarismo, alcançou eco entre centenas de milhares. Quanto mais ódio visceral, mais aplausos e gritos em uníssono a seu favor.
Apoiado pela casta que nele enxergava o ensejo para alçar outra vez ao domínio das pautas, ao volante do destino de uma jovem e conflituosa nação, foi erigido a prócere da moral.
Seu reinado foi breve. Entretanto, o suficiente. Para parir o que estava apodrecido no ventre da mais crassa intolerância. Legiões de criaturas horrendas, da mais vil vulgaridade, tomaram conta do bom senso e da mais simples Razão. Arrastaram todos ao abismo da estupidez mais pedestre.
A terra estava arrasada. Volutas de dor e raiva subiam do solo morto. A esperança havia sido herculeamente ferida com poucas chances de sobreviver.
O ídolo tinha pés de argila, como sempre acusou o filósofo sobre todos. Mas, outra vez mas, isso não fez diferença.