Os bifes do despacho
Lilica foi achada por um amigo, atrás de uma moita, na praça do metrô do Estácio.
A coisa mais bonitinha, muito alegre, agitadíssima, de banho tomado e talquinho, aos três meses de idade. Como alguém pôde fazer isso com uma bichinha tão lindinha e amorosa?!
Quem achou não poderia ficar com ela. E acabou que fiquei com a cachorrinha provisoriamente.
Quando cheguei na porta de casa, a coloquei no chão para pegar as chaves, ela na maior alegria. Ao abrir a porta, entrar, foi recebida com um arranhão da gata no focinho. E a alegria se transformou num sonoro “Caim, Caim, Caim...” A cena me cortou o coração. ❤️
Um mês se passou. Ela e as duas gatas irmãs ficaram muito amigas. Eram filhotes. Filhote se adapta rápido. Levei a dois veterinários. Eles disseram que não iria crescer porque tinha a pata pequena.🐾 O tempo passou e não consegui mais doar a Lilica. A essas alturas já tinha me apegado. Quando juntei as coisinhas dela pra entregá-la às adotantes, ficou me olhando desconfiada, não saindo de perto da porta. Olhei e chorei. Não dava mais.
Dez meses se passaram e entrou no cio. Ficou de molho em casa por quinze dias. Quando fui pôr a coleira, não passava nem na cabeça. Minha alma se afastou e voltou pro corpo. Como não percebi que nesse período havia quadruplicado de tamanho?! Ficou uma bichona linda. Enorme.
Todos os dias, ia trabalhar e voltava às 22h. Era chegar em casa e pegar a coleira pro passeio.
Numa noite, andava distraidamente na rua. Não enxergo bem. Tenho cegueira noturna. Notei que já estava há algum tempo parada no mesmo lugar com a Lilica muito quietinha. Resolvi olhar pra baixo. E vi Lilica devorando bifes de um despacho. Eram bem uns quinze, fora os que ela já havia comido. Estavam muito apetitosos. Era carne de primeira. Até me deu vontade de comê-los também.
A puxei, ficou meio contrariada, oferecendo uma pequena resistência, porém saiu resignada.
Em casa, começou a me estranhar. Ficava me olhando fixamente. Um olhar macabro, dava até medo 😱. Outra hora, rosnava baixinho. Pra onde andava, me seguia com o olhar.
Não sei se teve ressentimento por eu não deixá-la comer todos os bifes, ou estava tão estranha e com um olhar de ser humano, que me pareceu até possuída. Nem parecia mais a dócil criatura. Por fim, no terceiro dia, me estranhou completamente. “Essa cachorra vai me morder ou me matar!”. Quando ia me deitar pra dormir, 😴 lá estava ela em cima da cama, rosnando, não me deixando me aproximar. Emitindo um som de “Uuuhm”, como se eu tivesse feito ou dito algo que a tivesse magoado profundamente, o olhar correspondia a essas características. Desceu da cama, depois de um tempo, por conta própria. E eu pude dormir, mas acordava a toda hora, com medo dela me avançar.
No dia seguinte, fui à missa, comunguei e peguei água benta pra aspergir na casa e nela.
E tudo, graças à Deus, voltou ao normal.
MUITO OBRIGADA POR SUA LEITURA! FIQUE À VONTADE PARA OUVIR MEUS ÁUDIOS MUSICAIS!