ENCOMENDA PARA O INFERNO.

A cozinheira Jurema veio da cozinha, secando as mãos no avental, ao ouvir a campainha. O velho e bom padre Agamenon folheava o jornal, após o café da manhã. -"Valha-me, Santo Expedito. É uma viatura da polícia." Jurema se benzeu. O padre abaixou o jornal e deu uma golada na xícara de café preto, sem açúcar. -"Porquê a bonita invocou o padroeiro dos endividados? Não devo nada a ninguém, muito menos a justiça." A cozinheira abriu o portão da casa paroquial, trazendo consigo os dois homens da lei. O padre foi até a sala de estar. Mirou os dois policiais. -"Bom dia, padre. Sou o delegado Praxedes, da nonagésima. Esse é o investigador Nascimento." O padre os cumprimentou. O delegado estava de terno azul e óculos escuros. O investigador Nascimento estava de calça jeans e camiseta amarela. -"Bom dia, padre Agamenon. O senhor nos dá um dedo de prosa?" Perguntou o investigador. O sacerdote olhou pra cozinheira e meneou a cabeça na direção da cozinha. A mulher entendeu a mensagem e saiu do ambiente. -"Vamos ao meu escritório." Os policiais seguiram o padre. Nascimento olhava cada detalhe da casa. O delegado estava interessado no cheiro bom que vinha da cozinha. -"Eu serviria um café aos senhores mas tenho reunião com o bispo, dom Carmelo, às nove horas na Cúria." O padre fechou a porta do escritório. Os policiais sentaram nas poltronas grandes e macias. O padre deu a volta na mesa com tampo de vidro e sentou-se numa cadeira alta de mogno, com estofado vermelho que mais parecia um trono. Agendas e revistas católicas espalhadas na mesa. O jornal do Vaticano ainda no saquinho plástico. O quadro do papa na parede. O investigador notou a beleza do tapete persa no chão. -"A presença de vocês é oportuna. Me lembrei de pedir reforço policial pra segurança na festa da padroeira, daqui há um mês." O padre abriu a agenda e fez anotações. O delegado riu. -"Será um prazer auxiliar a paróquia, padre. Nossa visita é por outro motivo." O investigador se ajeitou na poltrona. -"Veja o senhor mesmo." O delegado tirou algumas fotos do bolso interno do paletó e as espalhou na mesa. -"Alexandre Timbiras, vulgo Xandão da Quebrada. Era o terror da redondeza e tinha uma ficha policial extensa." O padre olhou as fotos, com indiferença. -"O que tem esse jovem?" -"Tinha, senhor padre. Foi encontrado morto, num beco. Ele ameaçava os comerciantes do bairro. Oferecia proteção em troca de suborno, dinheiro. Mandava surrar aqueles que eram contrários ao suborno, deixando alguns deles na cadeira de rodas. Um terror." O padre estava assustado. -"Isso é grave. Nada justifica a morte de um jovem, não? Errado fazer ameaças aos comerciantes honestos também. Infelizmente, o mundo está violento." O delegado olhou para o investigador. -"Xandão foi dessa pra melhor. Um bandido a menos. Quem o matou bateu bastante no rapaz, antes de dar seis tiros fatais. Escreveu nas costas dele ENCOMENDA PARA O INFERNO." Disse o investigador. O padre torceu a boca, admirado. -"A perícia calculou que a morte se deu por volta de duas horas da madrugada." Concluiu o investigador. -"Nossa visita ao padre é por mera formalidade. O último crime no bairro, com as mesmas características, de alguém que ameaçava comerciantes, se deu há treze anos. Doca da Vila Vintém morreu com seis tiros. Seus dois comparsas morreram três dias antes. Quatro anos antes, outro bandido morto, o Juca da Baioneta. Também ameaçava comerciantes da região e até matou dois deles. Caiu com seis tiros, como o Nico Pé de Rato, um ano antes. Outro que ameaçava e batia nos comerciantes do bairro." O padre arregalou os olhos. -"Nossa região era um verdadeiro faroeste caboclo, parodiando nosso grande mestre Renato Russo, da Legião Urbana. Eu nem me lembrava desse tanto de gente que botava medo nos comerciantes do bairro." O delegado torceu o bigode. -"Pois é. Eram outros tempos e outros delegados. Esses crimes, ainda que sejam de gente ruim e bandidos, ainda não tiveram solução, sabia? Tudo arquivado, sem solução. O matador nunca foi descoberto." O padre pegou uma jarra de água. -"Querem água, senhores?" O delegado não quis mas o investigador pediu um copo de água. -"É mineral, boa que só. Delegado, antigamente, na capital paulista, tinha esse negócio de matador mesmo. Aqui não era diferente. Eu vim pra cá, substituindo padre Olavo de Menezes, um santo homem que foi eleito bispo e hoje atende no Recife. Ele construiu a capela, hoje paróquia. O salão de festas era de madeira, rústico mas serviu para as quermesses. Bons tempos. Padre Olavo me orientou a ter cautela e respeitar as pessoas do bairro. Falava da violência, da luta dos pobres. Eram tempos difíceis. Esse rapaz, o Alexandre, deveria saber da fama do bairro, que não tolera essas ameaças, não? O senhor já ouviu os comerciantes?" O delegado percebeu que o padre olhou o relógio de pulso. -"Sim. Aqueles que foram ameaçados e os mais antigos. O padre está no bairro há muito tempo e achei que seria bom conversar com o senhor." -"Sim. De fato é bom. Eu não o conhecia e gostei de nossa conversa. É lamentável essa violência." Eles ouviram batidas na porta. O padre se levantou e abriu. -"Radamés, o sacristão. Esse é o delegado Praxedes. O investigador." O sacristão foi direto. -"Com licença. Bom dia, senhores. Padre, o carro está pronto." O sacristão saiu. Os policiais se levantaram. -"Não queremos atrapalhar o padre. Já encerramos. Sabemos que o padre ouve confissões, conhece todos os comerciantes do bairro. São seus fiéis, certo?" O delegado cumprimentou o sacerdote. -"De fato, delegado. Há o segredo da confissão, inviolável. Eu não posso ajudar nesse caso, entenda. Garanto que nada escutei no confessionário sobre tais casos." O delegado sorriu, amarelo. Já antevia que o padre não O ajudaria em nada. -"Obrigado, padre. Entendo." O investigador ergueu o dedo. -"Dessa vez há um detalhe interessante. Uma testemunha." O delegado interferiu. -"Nascimento. Já tomamos muito tempo do padre." Eles saíram do escritório. -"Um bêbado jura que viu alguém, vestido de Batman, sair do beco onde o Xandão foi encontrado, naquela madrugada chuvosa." Eles passaram pela cozinha, onde o sacristão conversava com a cozinheira. O padre os acompanhou até a garagem. -"Estarei a disposição do delegado. Tenham um ótimo dia." O padre fechou o portão. A viatura saiu de frente da casa paroquial. -"O homem é ocupado demais. Certamente sabe quem são os matadores mas tem o segredo da confissão, delegado." Disse o investigador. -"Está aqui desde a formação do bairro. Os crimes começaram após a saída de padre Olavo da paróquia." O delegado dirigia com cuidado. -"Você está viajando na maionese, Nascimento. O padre é inocente. Não pode falar pois fere o segredo da confissão. Se é matador, fere o mandamento de não matar. É um mistério." Três dias depois, Nascimento foi a sala do delegado. -"Andei pela paróquia do nosso padre Agamenon mas foi nas redes sociais que descobri coisitas intrigantes." O delegado sentou-se. -"Lá vem você de novo." O investigador foi até a lousa, onde colou papéis e fotos. -"Nosso sacristão Radamés está com o padre desde quando veio pra cá. Sempre sacristão, zeloso e espécie de motorista e secretário particular do vigário. Tem mais, teve uma loja de materiais de construção, sendo o primeiro líder da associação de comerciantes do bairro. Décadas depois, vendeu a loja e abriu um escritório de contabilidade. Nunca foi assaltado. A paróquia sempre recebeu apoio da associação, sobretudo nas reformas e ampliações do salão de festas e da creche mantida pela paróquia. Radamés e os dois filhos participam de um grupo de voluntários que visitam asilos e hospitais, vestidos de super heróis. No dia da morte do Xandão, estiveram em três hospitais da capital. Saíram do último as vinte e três horas. O grupo sempre deixa as roupas de super heróis na casa paroquial, nos armários da casa pois o grupo nasceu, há oito anos, de uma idéia do bom padre Agamenon." Concluiu o investigador, com olhar de quem tinha descoberto a pólvora. O ânimo do investigador foi por água abaixo quando, no dia seguinte, descobriu que Radamés estava viajando no Guarujá, com a família, no dia da morte da morte de Xandão. O padre tinha um ótimo álibi pois tinha fotos dele numa festa de casamento, onde estivera até altas horas. -"O padre ficou até o fim da festa, às três e meia da madrugada. Insistimos muito e ele decidiu ficar após a banda prometer tocar os sucessos do Roupa Nova." Disse o noivo Gilberto ao investigador. -"Entre o grupo que esteve nos hospitais, não estavam os filhos do sacristão nem o padre. Você investigou os seis jovens voluntários e a jovem Laura levou as fantasias pra casa dela. Laura levou as roupas pra lavanderia, às sete da manhã seguinte." O delegado riscou o nome dos jovens na lousa. -"Nascimento, que matou o Xandão não estava entre o grupo de voluntários. Desconfio de algum comerciante." Nascimento estava decepcionado. -"E a arma? O padre não tem porte, o sacristão também não. A arma não apareceu. O velho Agostinho, um dos muitos comerciantes que apanhou do Xandão, é quase anão e não tem família. Não encaixa na descrição da testemunha que disse que o Batman era alto e forte." O investigador olhava atento para as fotos e inscrições na lousa. -"Sei não, delegado. Pra mim, tudo se concentra na paróquia e na associação de conerciantes. Nosso matador está alí. Ou nas duas ao mesmo tempo, o que nos leva ao sacristão. Ele é meu suspeito número um." O delegado acendeu um cigarro e fechou o notebook. -"Pode ser que sim, pode ser que não. Xandão tinha inimigos em outras praças, como o tráfico na Vila Mimosa, comandada por João Pelego, os dois trocaram tiros há alguns meses. Tenho que passar na floricultura. Vou almoçar com a patroa, é aniversário dela." O delegado colocou o paletó. Tempo depois, a cozinheira Jurema regava o jardim da casa paroquial quando um carro estacionou em frente. Ela ajeitou a touca na cabeça. -"Boa tarde. Não vou tocar a campainha." Ela reconheceu o delegado. -"Bom dia. Vou abrir o portão." O policial entrou. -"Belas flores. O padre Agamenon?" A cozinheira fechou a torneira. -"Está almoçando. Vou anunciar o delegado." Ela entrou, deixando o policial na garagem. -"O delegado aqui? Não gosto de ser importunado nas refeições, ainda mais hoje que tem Baião de Dois. Traga o homem aqui. Jurema, tire o resto do dia de folga. Deixa que eu lavo a louça." Ela discordou. -"E a janta do padre?" Ele apoiou a mão no ombro dela. -"Eu me viro. Você fez baião para um batalhão do exército. Tem aquela sopa de ontem na geladeira. Estava uma delícia. Vai, descansar minha filha." Ela sorriu. O delegado entrou. -"Boa tarde, delegado Praxedes. Entre." O padre foi pra sala de jantar. Ele destampou a tigela com Baião de Dois. -"Chegou em boa hora, delegado. Jurema fez uma iguaria dos deuses. Baião de Dois, com carne seca de Sergipe e queijo coalho da Serra da Canastra, de Minas. Prove essa caipirinha. É porreta." O delegado puxou a cadeira, salivando. -"Almocei com minha esposa. É aniversário dela hoje mas não posso recusar um pouco dessa comida cheirosa. Jurema deve ser ótima cozinheira pelo que vejo, o padre parece um Tarzan." O padre serviu o delegado. -"Uma caipirinha pra abrir o apetite. Minha briga com o bispo é que ele quer levar Jurema pra trabalhar pra ele, sabe? Fica tentando a bichinha, prometendo salário bom e outras regalias. Se Jurema me abandonar, eu faço uma loucura." O delegado riu. -"Puxa, que delícia esse tempero. É coentro. Manteiga de garrafa." O padre riu gostosamente. -"Eita. Já vi que o delegado é dos meus. Gente porreta demais." O padre se levantou. -"Com licença, amigo." O padre foi num pé e voltou no outro, com uma garrafa de vinho nas mãos. -"Esse é pras ocasiões especiais, como hoje." O padre abriu o vinho com um saca rolhas, numa habilidade invejável. Ele serviu o delegado. Jurema veio se despedir do padre. -"Até amanhã, Jurema. Fizeste mais um fã de sua comida, visse? O delegado até almoçou de novo e elogiou seu tempero do Baião." Ela sorriu. O delegado confirmou as palavras do vigário. -"Parabéns, dona Jurema. Sensacional. Tem um dom maravilhoso de cativar as pessoas com sua comida temperada com amor." A mulher saiu. O padre tirou a mesa. -"Ganhei esse vinho do secretário particular do papa. É italiano, da Úmbria. Coisa fina." O delegado foi pra sala de estar. -"Não pode fumar aqui, amigo." O delegado guardou o cigarro e o isqueiro. -"Não esses. Vou lhe dar algo especial." O delegado riu. O padre foi até seu quarto e voltou com uma caixa de madeira. Ele a colocou na mesa de centro. -"São charutos cubanos. Ganhei do chanceler russo, em sua visita ao governador. São pra ocasiões especiais." O padre cortou e acendeu o charuto do delegado. -"Vou fumar com o amigo." O delegado se espalhou na poltrona. -"O padre é bem relacionado. Muito bem, aliás." Disse o policial, olhando o outro com as sobrancelhas abaixadas. -"De fato. Bem, serei direto. Aquele investigador esteve fazendo perguntas, indo aqui e alí. Não é bom." O delegado se mexeu na poltrona. -"Posso transferir o rapaz, se quiser." O padre riu. -"Seria bom pra saúde dele." O padre buscou a garrafa de vinho. -"O que ele poderia descobrir?" -"Bem. Que eu saí da festa de casamento pra benzer um defunto. Encomendar a alma. Depois voltei pra festa sem ninguém notar minha ausência." O delegado estava surpreso. -"O padre saiu, então? Foi num velório?" O sacerdote serviu vinho ao delegado. -"Sim, fui chamado no meio da festa pra um velório. Fui em casa, peguei a estola roxa e me dirigi ao velório. Voltei pra festa debaixo de chuva." O delegado tomou um pouco de vinho. -"Encomendou o defunto e depois o Xandão virou presunto. Onde entra a máscara e a capa do Batman que o bebum viu no beco? As roupas de super heróis dos voluntários não estavam na casa paroquial." O padre encarou o delegado. -"Peguei uma máscara do Batman na festa, aquelas fantasias da cabine de fotos que agora têm nas festas. Nem tirei foto devido a fila. Fiquei com máscara na mão e entrei com ela no carro pra ir no velório. Saí do velório, o pai do rapaz morto me deu uma capa de chuva pra não me molhar até o meu carro. Passei no beco e vi o Xandão se abrigando da chuva. Estava sozinho. Sabia que ele tacava terror nos comerciantes do bairro, tendo espancado muitos deles. O sacristão deixa a arma no porta luvas, carregada. Olhei pra máscara do Batman. Era a oportunidade certa de encomendar o Xandão pro quinto dos infernos." O delegado riu. -"Só não esperava a testemunha, que graças aos céus, era um bebum que não era capaz de anotar a placa. O senhor atira bem, amigo." O padre ficou triste. -"Obrigado. Vindo do delegado é um baita elogio mas não sirvo mais pra isso. O sacristão atira melhor que eu." O delegado serviu-se de mais vinho. -"As outras mortes, dos antigos bandidos, foram vocês dois?" O padre abaixou a cabeça. -"Sim mas foi o Radamés que começou. A lista é extensa, amigo. Encomendamos muitos para o inferno e a polícia nunca descobriu. Quem ia desconfiar de um padre e um sacristão?" O delegado se levantou e abraçou o padre. -"Não vão, nem podem. É um segredo que morre aqui, amigo." O padre enxugou as lágrimas. -"Como posso recompensar o amigo?" O delegado esfregou as mãos. -"Não me peça Jurema, por favor." Eles riram. -"O sonho de minha mulher é ter uma loja de roupas, nada luxuoso. Uma coisa simples. Essas que tem produtos de Monte Sião, Serra Negra." O padre riu. -"Radamés cuida disso, é fichinha pra ele. Tem alguns salões vazios, da associação. A paróquia é dona de vários imóveis, ao redor da praça da matriz e não será difícil reservar um deles pra loja do amigo. O amigo pagará um aluguel simbólico, só pra constar em notas, entendeu? Alvará, roupas, prateleiras, cabideiros, manequins, Radamés poderá cuidar de tudo. Fique tranquilo, sua esposa terá uma loja, rapidinho." O delegado, emocionado, se levantou e estendeu a mão para o padre. -"Me passe o contato do amigo. Quero colocar o nome da sua esposa nas intenções da missa da noite. " O delegado agradeceu. -"Vou fazer um esforço e viremos a santa missa, amigo." -"Será um prazer, delegado. Poderei conhecer a esposa do amigo." O padre acompanhou o delegado até o portão. Dias depois, o investigador Nascimento recebeu uma carta de transferência para uma cidade do interior de Goiás. -"O juiz arquivou o caso do Xandão, sem provas. Alegre-se, Nascimento. Vai trabalhar na sua terra." Disse o delegado ao investigador, que juntava seus pertences do armário da delegacia. Um mês depois, a esposa do delegado cortava a fita vermelha de inauguração da sua loja de roupas. Padre Agamenon fez questão de comparecer e benzer a loja. -"Uma loja maravilhosa, delegado. Piso e teto de gesso italiano, tudo de primeira. Duas vendedoras e muito luxo. Parabéns." O padre brindou com o delegado. -"O senhor Radamés é bom. Aquele bebum, eu o encomendei. Fica tranquilo." Cochichou o policial. O padre ficou vermelho e nervoso, se engasgando com o champanhe. -"Encomendou? Como assim, amigo?" O delegado riu. -"Não é isso que está pensando. Descobri que o maluco tinha família no Maranhão, pai e três irmãs. Uma assistente social, iga minha, o despachou num ônibus para o Maranhão, pra terrinha dele." O padre estava aliviado. -"Melhor assim. Tanta gente ruim no mundo, vai faltar espaço no inferno." FIM

marcos dias macedo
Enviado por marcos dias macedo em 05/06/2023
Reeditado em 06/06/2023
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