PESADELO-REAL

PESADELO-REAL

Um miniconto macabro

Seu repouso noturno foi interrompido por um terrível pesadelo. Sua mulher e seus filhos, todos mortos! Parecia real, tinha febre. O suor escorria-lhe pelo corpo e embotava os trapos que lhe serviam de cobertor. Grita e acorda! Senta-se na cama ainda com a respiração ofegante. De repente, ouve-se um terrível grito. Reconhece a voz...

Nesse momento sua mente se transforma num turbilhão de imagens que se sucedem sem dar-lhe trégua. Todo seu corpo tremia. Não tinha forças pra se levantar. Homem-menino, caíra nas engrenagens do sistema. Não tivera tempo de estudar. Achava-se homem, tinha certeza: era muito macho! Capaz de lutar com quatro de uma só vez e ganhar de todos eles. Sua realidade era aquela: seu lar, sua família...

Levanta-se da cama; ausculta seu interior e acredita que o grito tenha sido resquício do pesadelo; respira fundo e encaminha-se para tomar um gole de água na moringa que fora deixada sobre a tosca mesinha.

Bebe a água e fica abstraído em apenas contemplar o infinito. Quando entra na sala, para. Seu sangue se congela nas veias! O cheiro acre da morte paira no ar e o envolve numa terrível angústia. Ele não pode, não que acreditar no que vê. Nenhuma expressão de desespero em seu semblante. Só as lágrimas que escorriam-lhe pelo rosto com a lentidão do memento infinito...

E no meio de suas lágrimas, um sorriso pálido corta a penumbra, atingindo um sádico prazer no âmago da solidão. A seus pés: sua mulher assassinada...

Beto Alves
Enviado por Beto Alves em 03/06/2023
Código do texto: T7804402
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