Cidadão Pacato !!!

Pelas ruas do centro da cidade o Cidadão Pacato perambulava a procura de uma nova pochete, de tempos em tempos tinha que trocar, o zíper já não funcionava direito. Sempre carregava um monte coisas. Carteira, chaves, moedas e um livro de bolso, pareciam os anos 90, só que no lugar do Walkman e de um monte de pilhas, tinha um celular.

Era um dia tranquilo, sábado, véspera da inútil votação das eleições presidenciais, ele estava sem pensamentos odiosos. Ele se sentou em baixo de uma árvore, numa praça próxima ao Shooping e fazia a mudança de suas tralhas de uma bolsa para a outra.

Na sua frente parou uma moto. Saltou um policial vestido a paisana, que lhe abordou mostrando a pistola Taurus 380, escondida na cintura por de baixo da camiseta branca, e perguntando ao Cidadão Pacato “onde estava a droga.”

O Cidadão Pacato muito assustado e sem entender direito do que se tratava, instintivamente pensou que fosse assalto, estava com todo o dinheiro do pagamento na pochete, e lhe veio a mente que ainda não havia depositado a pensão de seus dois filhos.

O policial desferiu um soco na boca do estômago, em desespero o agredido arremessou a bolsa para longe de si, enquanto gritava, “leva essa desgraça.”

Ainda tentando entender o que acontecia, diante da dor aguda no ventre, o Cidadão Pacato viu o policial revirar suas coisas e jogá-las no chão. Retornou a moto, indignado por não encontrar droga nenhuma.

O que ele não sabia, era que a sua vítima, tinha memória fotográfica, e seu rosto estava para sempre gravado na mente dele.

Recolhendo suas coisas, e com a dor ele foi para casa e seguiu com sua vida.

Incessantemente, por quase um ano ele procurou seu agressor nas redes sociais. Finalmente encontrou, descobriu tudo sobre ele, onde morava, em que turno estaria na delegacia.

Numa manhã ensolarada, o Cidadão Pacato vestiu seu terno preto, dos tempos que ia a igreja, colocou uma grande Bíblia de capa preta em baixo do braço e foi até a delegacia.

Esfaqueou sete vezes o policial, pelas costas. Para ele o som das facadas perfurando os pulmões era como a quinta sinfonia, o cheiro e o sabor do sangue que manchou sua vestimenta era como doce de leite, o policial caiu ao chão, e olhava para o Cidadão Pacato sem saber quem ele era e o que estava acontecendo.

Jogado num canto da cela, depois do espancamento, o delegado veio ao seu encontro, não entendia o porque daquela brutalidade.

O Cidadão Pacato falou, dia, hora, local e onde ficavam as câmeras próximas a praça onde ele foi agredido. O delegado averiguou. Retornando a cela ele disse ao Cidadão Pacato, “que ele poderia ter procurado a polícia e ter feito a denúncia.” Ouvindo isso o Cidadão Pacato cuspindo um bolo de sangue no chão disse:

– Nós dois sabemos que isso não daria em nada delegado, mesmo porque, o senhor é coleguinha do defunto!

O delegado se calou e foi cuidar de seu serviço.

O cidadão pacato tinha emprego estável ,residência fixa e não tinha antecedentes criminais. Conseguiu um habeas corpus, para responder em liberdade, e esperando o pior, desapareceu da cidade.

Hoje ele vive pacatamente em outra cidade. E não usa mais pochetes.

Telly S M
Enviado por Telly S M em 19/05/2023
Código do texto: T7792143
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