Railway City's Tale — O Tesouro dos Mortos: CLTS 23.

By: Johnathan King

1.

Railway City.

O céu de Railway City estava escuro e, um pouco mais longe, estrelas brilhavam no horizonte parecendo não pertencerem ao mesmo céu, quando o fora da lei Piper Chapman e seu bando de malfeitores (Mark Binghan, Gave Abbott e Toni Callie) chegaram na entrada da cidade fantasma.

A placa indicando o nome da cidade havia resistido à ação do tempo, e não deixava dúvidas alguma aos criminosos de onde eles estavam. À frente deles, uma estrada de chão batido com uma terra avermelhada indicava a entrada da cidade, e, ao lado, uma velha ferrovia de trem de aspecto sinistro completava aquele cenário macabro digno de um conto de terror.

Com suas peles manchadas pelo sol e as roupas sujas de poeira, os cabelos desgrenhados e uma aparência debilitada, os homens não se alimentavam decentemente há dias. Eles estavam sem suas montarias, andaram todo esse tempo a pé pelas terras arenosas do oeste até chegarem em Railway City. Enquanto caminhavam pela cidade, os homens se sentiam estranhamente incomodados, como se estivessem sendo observados por forças invisíveis. As velhas moradias deixadas para trás por seus antigos donos pareciam ter olhos vivos, atentos e sempre vigilantes, que seguiam todos os passos dos forasteiros.

A cidade de Railway City era definitivamente um cemitério sem túmulos, a joia da coroa da bizarrice, onde no ar pairava uma atmosfera pesada de morte e sofrimento, que Piper e os outros três podiam sentir perfeitamente. A temperatura fria do lugar combinada com uma densa névoa sinistra fazia com que tudo parecesse mais assustador do que era. Não havia nenhum tipo de som ou movimento naquele local, nem mesmo o vento soprava. A cidade era um cenário desolador, que transmitia uma sensação incômoda de solidão, horror e mistério, que fazia o coração daqueles quatro malfeitores bater aceleradamente de medo e deixava os pelos de seus corpos arrepiados.

De repente, o silêncio sepulcral do lugar foi quebrado pelo barulho de música vinda de algum ponto da cidade, seguido depois pelo som de vozes que ecoavam no ar, como se muitas pessoas estivessem numa grande e alegre festividade. Assustados, Piper e os outros olharam para trás rapidamente e viram às luzes de um saloom acesas. Com seus rostos pálidos de terror, eles sentiram um arrepio profundo diante naquela imagem estranha. E com seus corações batendo perigosamente rápido demais, os quatro

foras da lei tentaram sair correndo o mais depressa possível naquela cidade assombrada, só para verem em seguida para o espanto deles tudo ganhando vida e se iluminando.

2.

O pacto de San Eliseo.

O que aqui se conta aconteceu há muito tempo, quando o diabo veio pessoalmente do inferno cobrar uma dívida muito antiga que tinha com os moradores de Railway City. Foi em uma manhã chuvosa e estranha que ele chegou ao local, e ninguém da cidade se lembrava mais dele e nem do pacto que haviam feito com o mesmo há cem anos em troca de ouro e de uma vida longínqua.

Chamado de "Pacto de San Eliseo", por conta do santo padroeiro da cidade, em cem anos os moradores de Railway City enriqueceram mais do que qualquer outra cidade do Velho Oeste, e também ganharam um tempo extra de sobrevida em cima da Terra, não morrendo e nem sofrendo os efeitos do tempo enquanto o período de vigência do pacto não chegasse ao fim e o diabo viesse buscar suas almas como forma de pagamento pela artimanha satânica.

Lá estava o diabo, no coração da cidade, todos os olhos voltados para ele, e, ao fundo, o ruído da água da chuva caindo no chão, enquanto ele flutuava sob um mar de lama vermelha e áspera. O céu escureceu. Agitando o corpo de alegria, o diabo começou a gargalhar insano. As gargalhadas malignas do demônio ecoavam nos ouvidos dos moradores de Railway City, os enlouquecendo.

Suas expressões joviais estavam desfiguradas pela ganância, o ódio e pela ação do tempo que estava cobrando seu preço tardiamente, de alguma forma, aquelas pessoas pareciam possuídas por demônios raivosos vindos do próprio inferno. Permitindo que a loucura da ganância do ouro os dominasse e a escuridão do mal os guiasse, os cegando para qualquer direção, eles começaram a se matarem entre si, enquanto outros corriam esconder seu ouro em lugares secretos, sabendo que o fim batia a porta.

3. Piper Chapman.

Era um dia perfeito para uma execução. O céu era de um azul-claro e profundo, uma brisa fresca soprava no ar de Oregan City. Piper Chapman observava da sua cela o local onde seria executado em menos de uma hora sendo preparado, o nó do carrasco recebendo os últimos retoques.

Nesse momento todos ouviram um grande estrondo seguido de uma forte explosão, e correram para a cela onde Piper estava preso. Para surpresa e frustração de todos, o bandido havia fugido por um buraco aberto na parede com explosivos com a ajuda de seus comparsas.

Metade do dia havia passado e já era começo da tarde quando Piper e seu grupo foram alcançados pelo xerife de Oregan City e seus homens. Sob intenso ataque, Piper viu alguns dos seus comparsas sendo mortos sem poder fazer absolutamente nada para ajudar, tendo que fugir como um rato covarde na companhia de Mark, Gave e Toni, que cercados não tiveram outra opção se não, a de deixarem seus cavalos para trás e saltarem os quatro do alto de um cânio direto para o fundo de um rio de águas turbulentas, deixando ser levados pela correnteza para longe.

Num primeiro momento, os quatro acharam que iam morrer de qualquer forma, seja tendo seus pescoços quebrados até sufocarem pelo nó do laço de um carrasco em praça pública, seja pelas águas sombrias de um rio violento que os envolvia num abraço molhado quase materno, os mergulhando cada vez mais fundo.

De súbito, tudo se apagou, e eles entraram numa espécie de túnel onde nada era perceptível além de pequenas estrelinhas coloridas que flutuavam em torno deles. Por algum tempo impossível de se precisar, os quatro homens flutuaram imersos numa não consciência dos próprios sentidos. E quando despertaram, estavam jogados na areia, encharcados e com frio.

4.

O caminho para Railway City.

Piper foi desperto pelo grito de uma mulher, um som desesperado e distante. Demorou um tempo para perceber que tudo não havia passado de um sonho. Seus companheiros estavam jogados no chão ao lado, dormindo feito pedras. Ele se afastou um pouco para fazer suas necessidades. O dia estava clareando. Segurava um canivete, os dedos percorrendo a lâmina nervosamente, enquanto o abria e o fechava.

Pensou em sua vida, nas coisas horríveis que já havia feito. No quanto era um homem frio, cruel e sem sentimentos.

E gargalhou. Àquela era a primeira vez que Piper sentia vontade de rir em meses. A sensação de liberdade correndo em seu rosto era como se um fardo pesado tivesse sido retirado de seus ombros. Como se o nó do laço do carrasco em volta do seu pescoço, ameaçando sua vida — tivesse sido, enfim, afrouxado.

Naquele mesmo dia, eles continuaram seguindo caminho pelas margens do rio, sempre olhando em todas as direções, atentos ao ataque de índios selvagens ou mesmo uma emboscada do xerife local. Estavam exaustos e famintos quando o sol finalmente se pôs. O clima esfriou. Enquanto seguiam, iam contando piadas e gargalhando, buscando esquecerem um pouco da jornada cansativa que estavam tendo naqueles últimos tempos.

Após mais algumas horas, eles se depararam com uma cidade envolta na escuridão entre uma ferrovia e uma estrada de chão batido e terra avermelhada. A placa na entrada da cidade dizia: BEM-VINDOS A RAILWAY CITY, A CIDADE DO OURO. Por um segundo Piper e os outros acharam que estivessem diante de uma miragem, mas não estavam.

Piper olhou para a placa com atenção.

Um suspiro trêmulo de emoção.

Piper sabia que algo de valor incalculável estava escondido em algum lugar de Railway City. Ele lembrou das histórias que os mais antigos contavam sobre um tesouro amaldiçoado que estaria enterrado naquela cidade. Assaltados pelo espírito da ganância que um foi a ruína daquela gente, o grupo resolveu explorar o lugar em busca desse tal tesouro perdido.

Os quatro homens passaram por algumas casas, um posto dos correios e alguns saloons. O silêncio sepulcral do lugar era uma coisa inquietante e aterrorizante, até mesmo para aqueles quatro bastardos foras da lei acostumados com tudo o que há de pior nessa vida. Do outro lado da cidade, havia uma loja de roupas, um banco e o prédio onde no passado funcionava a delegacia. Câmaras mortuárias congeladas no tempo.

De repente, às luzes de cada casa e de cada prédio da cidade se acenderam misteriosamente, como num passe de mágica. Tudo se iluminou e parecia vibrar numa mesma sintonia sinistra. Piper, Mark, Gave e Toni arregalaram os olhos e estremeceram dominados pelo puro terror.

5.

Os fantasmas de Railway City.

Piper teve um momento de pânico. Sentiu um nó na garganta e, por um breve instante, pensou estar ficando louco. Ele procurou afastar esses pensamentos da cabeça e focar no que era importante: o tesouro. O bandido e seus comparsas deram alguns passos hesitantes. O grupo se aproximou da entrada de um saloom.

Toni olhou o entorno, apreensivo.

O quarteto entrou no saloom, eles pararam a dois metros do balcão, o lugar estava gelado e vazio. Havia neblina no ar. Toni tremeu, sua respiração se condensou no ar frio. Ele tentou dizer alguma coisa, mas sua voz falhou. Estava visivelmente apavorado. De todos os quatro, Toni era o menos corajoso. Não que os outros não estivessem também com seus espíritos abalados.

No mesmo instante, todo o saloom ganhou vida. Figuras trajando roupas de séculos atrás emergiram das paredes e do chão, mas não eram humanos. Eram sombras escuras: os fantasmas dos antigos moradores de Railway City. Fantasmas com olhos de demônios. O corpo deles não passava de fiapos de vapor negro que flutuavam no ar.

Um pânico desordenado tomou conta dos quatro, que saíram correndo do saloom se separando no caminho. Toni ao perceber estar sozinho se desesperou, e soluçava incontrolavelmente. Estremecendo, sem poder acreditar no que havia visto. Gave estava desorientado e com medo, só após alguns minutos que deu pela falta dos companheiros. Ele não sabia se acreditava no que tinha vivido momentos antes naquele saloom. Fechou os olhos e chorou.

Mark caminhava quase correndo enquanto fazia uma espécie de oração silenciosa, tentando ser corajoso. Ele olhava para todos os lados na esperança de encontrar algum de seus companheiros, mas estava sozinho naquela cidade fantasma.

Depois de algum tempo correndo, Piper fez uma pausa para recobrar o fôlego. Seu rosto estava visivelmente pálido e seus olhos eram uma combinação de horror e descrença. Por mais que soubesse que tudo o que tinha presenciado junto dos companheiros fosse verdade, queria no fundo do seu subconsciente acreditar que aquilo não tivesse passado de um delírio coletivo, uma alucinação em grupo, mas sabia que isso era uma mentira.

6.

Gave.

Gave Abbott estava escondido na antiga delegacia de Railway City. Tremendo, suando, e sentindo uma fisgada de dor na coxa esquerda. Fechou os olhos, os pensamentos transformados em uma rodopiando tempestade de pavor e remorso.

Gave gemeu. A dor na coxa esquerda estava aumentando. Ele se sentou na cadeira do antigo xerife. Fechou os olhos e adormeceu. Naquele instante, ele não percebeu, mas uma força incontrolável arrastou sua mente para o passado, o trancando na prisão que um dia foi sua vida miserável. As lembranças sempre vinham como uma tempestade de dor e desespero arrastando e destruindo tudo pela frente.

A memória recorda o lar da sua inocência e perdição. Lembra dos constantes esforços quando criança em defender a mãe dos abusos do pai alcoólatra e violento, das surras que levava por tais atos de bravura e do infame dia que viu aquilo que aprendeu a chamar de família ser desgraçadamente destruído.

Gave gritava desesperadamente chamando pela mãe caída desacordada no chão da cozinha após levar mais uma violenta surra do marido bêbado, ele chorava e se sentia culpado por aquela tragédia. Parecendo que o próprio diabo tivesse possuído seu corpo e estivesse controlando cada movimento do garoto, Gave pegou uma faca que estava em cima da mesa, caminhou até o quarto onde o pai estava, ele cerrou os dentes e encarou aquele homem desprezível com uma ira demoníaca. Se atirou em cima dele antes que esse tivesse tempo de ver o que tinha lhe atingido. O homem berrou de dor e tentou se virar, mas Gave o atacou outra vez, desferindo mais golpes de faca em seu pai, sem parar, até que tudo ficou caldo e silencioso.

E agora havia sangue pelo chão e ele não tinha tempo de limpar. O dia estava clareando. Precisava fugir antes que descobrissem seu crime. O menino fugiu de casa e da cidade, descobrindo que a vida era igualmente cruel com aqueles que não sabiam se defender, mas ele aprendeu, e rápido. Foi na prisão que conheceu Piper e entrou para seu bando, após cometer uma série de crimes, incluindo assassinato.

Foram gritos de angústia que despertaram Gave, o trazendo de volta do inferno que era reviver as lembranças dolorosas do passado com os pais. Saltou da cadeira num pulo se pondo de pé em alerta, caminhou devagar por um corredor na direção dos sons de gritos. Entrou no setor onde ficava a cela dos prisioneiros e não encontrou nada.

Seu coração disparou.

Um barulho fez Gave olhar para trás. Ele viu Mark parado o encarando, e sorriu feliz em ver o parceiro. O sorriso morreu porque, obviamente, aquele não era Mark, mas sim, a sombra de alguma monstruosa vilania saída das trevas.

Um grito terrível, um brado prolongado de horror e angústia vindo do prédio da antiga delegacia rompeu o silêncio de Railway City pela segunda vez naquela noite.

7.

Mark.

Mark Binghan arregalou os olhos ao ouvir os gritos de Gave, sem saber que se tratava do mesmo. Ele estava escondido na sacristia da igreja abandonada de Railway City.

A mente assombrada.

Uma voz incompreensível soou próxima ao seu ouvido, era gélida e assustadora. Mark se jogou para trás, caindo com força de costas no chão, fazendo o piso de madeira ranger de um modo estranho.

Assustado, Mark se levantou do chão rapidamente. O som de vozes ecoou pelo corredor à frente. O barulho parecia vir do altar. Ele caminhou até a saída, o som ficando mais alto e nítido, era latim. Alguém estava realizando uma missa em latim. O cômodo estava iluminado por um número extremo de velas, Mark se sentiu entorpecido e enjoado pelo cheio delas. Não conseguia respirar.

A igreja estava cheia. Um padre fantasma recitava versículos da bíblia em latim para uma multidão de fiéis, figuras fantasmagóricas congeladas em poses bizarras, parecendo bonecos inanimados.

Mark ficou imóvel, a respiração ofegante, e a boca seca. Deu um passo para trás. Nesse momento, todos os presentes saíram de suas poses inanimadas virando suas cabeças de maneira bizarra e o encaram, com os olhos arregalados e vidrados, sem dizerem nada. Então, de repente, eles abriram suas bocas e gritaram ferozmente em uníssono, parecendo um lamento de triste pavor e completo desespero, o som se esvaíndo aos poucos até todas as figuras fantasmagóricas sumirem em uma névoa repentina e Mark não conseguir mais ouvi-las ou vê-las.

Ele ficou imóvel, demorou um momento para recuperar os movimentos do corpo, respirava com dificuldade. E deixou escapar um grito de angústia que ressoou pela cidade. Suspirando, se sentou no chão e ficou encarando o vazio.

Seus parceiros sempre o viram como uma espécie de enigma a ser decifrado — um homem que não sabia se queria ser "bandido" ou "mocinho". Mesmo sendo um fora da lei perigoso e violento quanto aos métodos de trabalho do bando, Mark

sempre foi uma pessoa justa com o que era justo, nunca admitiu por parte dos parceiros que matassem mulheres ou crianças, nem velhos. Para ele apenas Deus poderia tirar a vida de um inocente. O mesmo não valia para pessoas como ele, que considerava a escória da sociedade.

Mark franziu a testa.

Algo iluminou sua mente, o tirando daquele estado catatônico. Os olhos agora focalizando o altar, o púlpito em específico. Atordoado, Mark se colocou de pé e caminhou, trôpego, na direção do altar. Se abaixou atrás do púlpito e o empurrou para frente, até tombar no chão, com a pele arrepiada de expectativa.

Mark engoliu em seco.

Havia um tesouro enterrado sob o altar da igreja de Railway City, e vendo ele aquela grande quantidade de ouro na sua frente, sua esperança reviveu. Correu até a sacristia e buscou um saco grande o suficiente para caber todo o ouro que encontrou.

Quando estava deixando a igreja, no entanto, Mark não conseguiu ir muito longe. Antes que pudesse deixar a cidade com o tesouro e começar uma nova vida em algum lugar que ninguém o conhecesse, o chão roncou sob seus pés. Ele afundou como uma pedra até que à terra se fechou sobre sua cabeça — e o engoliu.

8.

Toni.

Toni Callie estava apavorado, em pânico. Considerado o covarde do bando, Toni tinha um espírito mais sossegado e uma personalidade tranquila, mas quando preciso se mostrava severo e impiedoso, e muitas vezes era considerado parecido com Mark em suas ações, poupando os inocentes e castigando os culpados.

Encolhido nos fundos de um vagão de trem na velha ferrovia de Railway City, com a respiração rápida e curta, o coração disparado e o rosto rajado de lágrimas, o bandido buscava pensar em outras coisas para tentar esquecer o terror vivido momentos antes naquele saloom maldito.

Instantaneamente, se viu preso a lembranças que não eram suas. Semelhante a uma vista panorâmica, apareceram na sua frente as imagens do passado da cidade. Várias delas, de cada ângulo concebível, de todas as perspectivas possíveis: a construção de Railway City, o maligno pacto dos moradores com o diabo em troca de ouro e de uma vida longa, os anos dourados e de longevidade, e, por fim, o macabro dia da cobrança do acordo.

O terrível espetáculo aparecendo exatamente como foi. As imagens se confundiam em uma só, e Toni tinha a aterrorizante sensação de estar lá, participando daqueles eventos terríveis, sentindo também aquela emoção pavorosa, a tentação de entrega total e absoluta. O coração enrijecendo no peito, os batimentos lentos como uma marcha fúnebre.

De repente, o trem se iluminou ganhando um novo fôlego de vida.

Toni cerrou os punhos para fazer com que as mãos parassem de tremerem. Seu rosto estava tenso e ansioso. O fôlego faltando, sentido o peito ficando apertado como se fosse ter um ataque de pânico.

Ouviu um barulho, um clique, o som de portas se abrindo e logo um rangido nas tábuas do assoalho. Os vagões começaram a se encherem de figuras fantasmagóricas feitas de névoa negra, sem expressão e com olhos que brilhavam feito fogo. Os motores do velho trem fantasma rugiram e o monstro de ferro começou a deslizar pelo trilho numa viagem para o inferno com passagem só de ida. Sem volta.

Impacto.

9.

Dias bons e dias ruins.

Piper Chapman caminhava em silêncio pela cidade, confuso e perdido. Parou e começou a chorar. Então ele também riu e enxugou as lágrimas do rosto. Percebeu estar parado na frente do posto bancário de Railway City, e achou graça. Ele caminhou até a entrada, abriu a porta e entrou. Lá dentro era frio, o interior do imóvel mais parecia um grande bloco de gelo.

Piper tremeu.

Logo ele fixou os olhos no cofre e sorriu maliciosamente. Não achou resistência para abri-lo. Lá dentro, encontrou joias, dinheiro e ouro. Sua alma e espírito ficaram arrepiados e trêmulos de emoção e euforia. Pelo canto do olho, Piper viu vultos negros se movendo em sua direção. Algo o jogou para trás. E então uma força que parecia um furacão feito de fumaça negra o envolveu e o arrastou para longe do cofre e do tesouro.

Piper tremia violentamente.

O cômodo escureceu. Escutou a porta se abrindo e passos atravessando a sala, observou vultos esbranquiçados se aproximando rastejando nas sombras, suas silhuetas ganhando formas, até que pararam em sua frente. Eram figuras asquerosas manchadas de terra, com suas mãos imundas e seus cabelos desarrumados. Saía fogo de suas bocas abertas e seus olhos brilhavam estranhamente.

Piper estava caído no chão, apavorado com aquela visão medonha diante dele, quando sentiu o piso de madeira rachando e mãos esqueléticas saltando para fora e o agarrando. Ele gritou apavorado enquanto se debatia, agitando as pernas tentando se livrar daquele mal, mas estava desorientado. As mãos esqueléticas o puxaram com força para baixo, agarrando sua cintura, rasgando suas roupas e esfolando sua pele. Ele sentiu dor, medo e começou a chorar. Até que, afundou na terra.

As luzes de Railway City se apagaram.

Fim.

TEMA: Espíritos.

Johnathan King
Enviado por Johnathan King em 17/05/2023
Reeditado em 20/05/2023
Código do texto: T7790362
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