Raiva: veneno (microconto).

Está difícil manter a sanidade. Se isso digo é porque já sai de controle a coisa. Imagine quão horrível é viver assim, pois é... Ontem, antes de pegar o ônibus, uma velha (desgraçada...) surgiu de repente, logo quando eu pus os pés no primeiro degrau. Claro, tive de tirá-lo, mas fiquei confuso, pois não imaginava que uma caquética apareceria assim. Na (falta) de reação, um cara, outro nojento, barrigudo, sujo, gritou comigo, mandando que eu deixasse a maldita passar. Todos olharam para mim. Senti um ódio terrível, mas queria me esconder; não tinha onde. Depois, quando entrei e passei a catraca, o puto do cara veio atrás e ficou resmungando durante a viagem sobre eu ser mal educado. Não tive capacidade de respondê-lo, por mais que quisesse fazer coisas indizíveis por aqui... Estavam todos me olhando, de novo. Dava pra sentir o peso, ouvir os comentários, por mais que mentais. Ah... Eu odeio lembrar isso, mas aqui estou.

Você deve imaginar que passei o dia inteiro pensando nisso, não é?

Infelizmente essa desgraça tomou conta da minha cabeça. Me sinto péssimo por não ter feito nada. Tenho um primo que é linguarudo (dessa raça da minha família que grita, faz bagunça...), com certeza ele arrumaria uma briga. Mas... não sou assim. Sei de mim que, não sei porque, guardo os espinhos, não os tiro. Daí eles latejam até o tempo de caírem por si só. Poderia eu pelo menos me defender, certo? Me sinto inseguro, porém. Essa maldita de genética familiar me concedeu um belo de um corpo franzino. Lutaria eu contra um cachaceiro daquele? É preciso tomar cuidado. Mas não vá achar que não tenho capacidades de fazê-lo implorar para parar de girar a ponta duma faca incandescente da parte que eu preferir de seu corpo. É só uma questão de estratégia. Qualquer dia nos encontraremos...

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P.S.: não preciso dizer que isso é ficção, certo?