Quando a gota cai (microconto).
A massa grossa, negríssima, matéria do silêncio abismal, tomada em toda parte, espreitando a chama da tocha; os dois estavam salvos. Sim? Era uma descida, a garganta do limbo? A grota pedia cautela, um passo em falso e poderia ser fatal o acidente. Algumas escritas, claro - quantos não passaram por ali, no decorrer do tempo, tão antigo. Sequer dava para decifrar. Havia também desenhos: pisando, enfim, numa espécie de salão, todo de pedra, se podia ver os famigerados paredões talhados da antiguidade. Os ancestrais! Os irmãos queriam saber dos costumes, disso. Encontraram, porém, natureza tão semelhante quanto os ideogramas passados: de entendimento difícil. Era o esperado, claro; mais de mil anos depois isso era revisitado. Apesar da racionalidade, não podia deixar de ser frustrante, ainda assim instigante. O óbvio caíra como folha seca, mas certo: agora era hora de decifrar. Desenhos muito bem feitos, nem pareciam de eras atrás, mas, no meio da narrativa ali contada, se percebia mudanças no traços: o início, em detalhes alguns douro, evoluía para um teor grosseiro, nuances maliciosas: cornos grandes, seguidos de pontudos dentes, olhares ferozes, bestas! Todos os demônios, armados da maior sorte de armas, investindo contra um foco espledoroso. Uma lenda! Certamente uma grande descoberta mitológica, um entusiasmo. Porém, desde cedo esse interesse pelo passado, donde vem? Veem rosnados, garras raspando, baba caindo. Os olhos perolados em rubi surgiam, formando um círculo: sem saída. O irmão tinha uma mera faca que levara de precaução, muito mais pela natureza. A irmã... ah, ela brilhava!