Quarto Escuro
Um rangido de móvel velho rompeu a tentativa vã de cair no sono do menino. Abriu os olhos e tudo que sua visão pôde alcançar foi o breu denso do seu quarto. A porta parecia está completamente fechada. Seu pai deve ter a fechado. Não deveria, o jovem gosta de deixa-la entre-aberta, e sempre alertava-o de que dessa forma o bicho papão ou nenhum espírito do mal o pegaria.
O pai riu da imaginação fértil de seu filho e disse que não existe bicho papão ou quaisquer espírito do mal. "Acostume-se com o escuro, e verá que não tem nada a temer nele" assim seu pai costumava dizer.
O garoto tentou seguir o conselho do pai, não queria que o visse como uma criança medrosa. Mas toda noite, sempre quando ia dormir, quando as luzes se apagavam, quando seu quarto era preenchido pelo escuro; ele sentia. No interior do seu corpo, correndo pela suas entranhas, ele sentia. Havia um olhar pesado e sombrio sobre si.
Isso acontece tem cerca de um mês. Na primeira vez que conseguia se lembrar, era um leve susto. Com o passar dos dias, essa sensação terrível fora ganhando força.
Sempre que esse sentimento surgia, o menino usava seu cobertor dos pés a cabeça como se ele fosse uma barreira intransponível, e nenhum mal pudesse alcança-lo. Depois, fechava os olhos, e eventualmente caia no sono.
Mas nesse dia foi diferente. Dessa vez não foi apenas a sensação de ter alguém vigiando. No fundo do quarto, de frente para o garoto; uma silhueta de uma pessoa. Por causa do escuro, só conseguia ver uma silhueta. Seu coração disparou, seu suor era frio, e todo seu corpo foi atingido por um forte arrepio. Ficou paralisado, tentou falar, mas mal conseguia produzir uma sílaba que fosse.
Era uma sombre grande e preta, preenchendo o fundo do quarto. Seja o que fosse aquilo, deu um passo a frente. De imediato, o garoto puxou o edredom para sua cabeça, e cobriu-se todo. Ficou alguns segundos assim, nervoso demais para ser salvo pelo sono.
Abaixou um pouco a coberta para que pudesse ver, e a sombra maldita pareceu estar um pouco mais próxima. E nesse momento os olhos da criança se cruzaram com os olhos da criatura.
Eram vermelhos. Um intenso e tenebroso vermelho. O garoto sentiu o mau.
De súbito, gritou por seu pai, enquanto a criatura lentamente aproximava-se, carregando consigo frio e pavor, o menino voltou para baixo da coberta.
Num rompante, a porta do quarto se abriu, e entrou seu pai assustado perguntando o que tinha acontecido. O garoto saiu da coberta chorando e com medo.
Disse que tinha visto um espírito maligno. E que estava o observando e queria pega-lo. Mas seu pai não viu nada. O garoto insistiu, falou que o espírito se escondeu para pegá-lo mais tarde.
O Homem vasculhou todo quarto para o seu filho, e mostrou que não havia nada ali para se temer. Contudo, a criança estava muito assustada. Para conforta-lo, o pai resolveu ficar com seu filho, até ele pegar no sono.
E assim foi. Quando o garoto finalmente conseguiu dormir, o pai com todo cuidado o deixou só, e fechou lentamente a porta do quarto.
E assim, a noite percorreu toda sua trajetória, e o sol renascia.
E o garoto também despertava. Sua noite foi um verdadeiro terror, e pensou ter sido tudo um pesadelo. Então, acordou e abriu os olhos.
E lá estava, de frente para ele, o encarando:
Vermelhos, profundos e refletiam o desespero. Os olhos da besta.