UM CEMITÉRIO NO QUINTAL.
A caminhonete vermelha parou em frente a casa, no vale. Era outono em São Francisco. Stanley saiu, após desligar o rádio, interrompendo o refrão de Bed of Rose, de Bom Jovi. Olivia jogou o chapéu pro alto. O rapaz malhado, de óculos escuros e com barba de lenhador pisou na bituca do cigarro, esmagando-a com a bota. -"Nossa casa, Stan." Eles se beijaram. -"Aqui será nosso ninho, onde criaremos nossos filhos." Stanley estava apaixonado. Olívia estava linda com as lentes verdes e o cabelo estilo Beyoncé. Tinha colocado silicone nos seios e feito preenchimento labial. O nariz ainda inchado pela cirurgia recente. -"Quero tirar esse nariz de batata. Pareço aquele personagem de Toy Store." Stanley e o cirurgião plástico riram. Olivia era uma nova mulher, mais elegante e ostentando muitas pulseiras, anéis, brincos e correntes de ouro. São Francisco estava a quinze quilômetros dali. -"Vamos ter que reformar. Parece que está abandonada a séculos." Stanley abriu a porta. O cheiro de mofo, as folhas e a poeira. O casal espirrou juntos. As janelas abertas deixou o vento entrar, finalmente. -"Aqui está a planta. Há um sótão, porão, um grande quintal e uma escada quebrada." Disse o rapaz, empolgado. Olivia trouxe as duas malas do carro. -"Aqui tem grana suficiente pra comprar um prédio em São Francisco." Ele a encarou, sério. -"Certamente e até gostaria de torrar tudo isso mas..." Ela abriu a mala e pegou um maço de dólares. -"Vamos descansar, querido. Atravessamos o país." Seis meses antes, num galpão abandonado em Nova York. -"Não o delatei, Greg. Não fui eu." O som das sirenes da polícia. Um tiro. Bruce caiu. O tiro de Greg pegou de raspão e cortou um pedaço da orelha direita de Bruce. Greg e dois de seus homens correram pelos fundos. A polícia pegou Bruce mas Greg fugiu. -"Está preso. Tem direito a um advogado." Algemado, Bruce foi colocado na ambulância. -"Teve sorte, rapaz. O tiro pegou de raspão mas levou um pedaço de sua orelha direita." Disse-lhe o paramédico. Na prisão, Bruce estava ansioso. Greg mandaria alguém pra cuidar dele, certamente. Era assim que as coisas aconteciam. Estava atento aos movimentos. -"Greg vai deixar a poeira abaixar. Vai mandar um homem pra cá. Menos mal que a polícia não o pegou mas Greg crê que você o dedurou." Bruce acendeu o cigarro de Hernandes, durante o banho de sol. O mexicano era um de seus poucos amigos. Eles pararam de falar quando dois guardas passaram por eles. Três dias depois, um novo detento chamou a atenção de Bruce. Donato estava entre os seis novos presidiários. Aquele rosto era conhecido. Bruce o tinha visto de relance, na cobertura de Greg, durante uma festa. Hernandes ficou de olho no novato. Na janta, Hernandes sentou-se ao lado de Bruce. -"Tira o olho da minha batata, chicano." Hernandes esmurrou a mesa. -"Estou de olho na sua batata, imbecil. Sou da ala do Leste e tenho o direito de comer sua batata." Os presos riram. Bruce empurrou a bandeja. Hernandes espetou a batata com o garfo. Bruce se levantou. Era a senha. Hernandes sondara Donato e viu que o homem não tirou Bruce de seu radar. Certamente provocaria uma briga, onde mataria Bruce sem deixar vestígios. Em poucos dias, Donato tinha sete homens a seu lado, demonstrando que tinha poder. Tal poder significava que Greg estaria por trás de tudo. -"Só tem uma saída, amigo. O diretor." Bruce estava apavorado. -"Como chego nele?" Hernandes foi direto. -"Ataca um guarda. Tenta pegar a arma e será mandado pra solitária. O diretor fala com quem tá na solitária. Vai apanhar muito antes disso mas é o único jeito." O mexicano riu. -"Melhor perder alguns dentes que a vida." Bruce concordou. O gordo Julius era o alvo. O guarda estava aéreo, durante a contagem. Bruce esbarrou nele e resvalou no revolver, preso a corrente. Julius caiu. Bruce pediu desculpas mas outros guardas o pegaram. -"Em ordem. Ninguém se mexe." Gritou um dos guardas aos detentos algemados. Socos e pontapés. Bruce quase desmaiou e foi levado a uma sala. -"O que está tentando, Bruce?! Ficou louco?" Julius gritava. Dois guardas bateram nele novamente. Jogado na solitária, o rapaz desmaiou. A porta se abriu dois dias depois pois o diretor estava viajando. Três guardas atrás do diretor Conrady. -"Filho, nunca deu trabalho. Pra que um revólver, Bruce?" A pasta do preso foi jogado em frente dele, caído no canto da cela. -"Vai custar-lhe mais seis meses aqui, Bruce." Ele buscou forças e balbuciou. -"Greg Laporte, a conexão panamenha. Vou falar." O diretor olhou para os guardas. -"Levem esse homem a enfermaria." Bruce foi medicado. Estranhou que outros doentes tivessem sido levados pra outra ala. O diretor veio até ele. -"Essa ala será só sua. Há guardas na porta e será levado ao meu escritório. Pra todos os efeitos, você ainda está na solitária." O diretor bateu no ombro de Bruce, num claro sinal de proteção e confiança. Recuperado, Bruce foi levado a sala do diretor. -"Muito bem, está com um aspecto melhor." Bruce sentou-se, ainda que algemado nos pés e mãos. Os dois guardas saíram. O diretor acendeu um cigarro. A garrafa de whisky sobre a mesa fez o retentor salivar. -"Vou ser direto, filho. Entregue o Greg e a conexão. Basta uma informação precisa e preciosa pra desmontar o esquema da vinda de drogas pra Nova York e terá sua liberdade. Poderei ser eleito senador ou prefeito com a solução desse caso. Você poderá desfrutar de uma nova identidade e muito dinheiro. Muito mesmo. Donato foi enviado por Greg, sabia?!" Bruce se fez de desentendido por um momento. O diretor o encarou. -"Todos nós ganhamos. Você tem uma namorada, uma tia que o criou. Se não o pegar, Greg as pegará." Bruce abaixou a cabeça. -"Eu vou falar." Ele recordou das palavras de Hernandes. -"É sua única saída. Boa sorte." O diretor ligou para o FBI. -"Assine aqui, filho. É altamente confidencial. Vou fazer uma lista de presos que serão transferidos e você estará na lista. O resto é com os federais." O diretor abriu a garrafa e serviu Bruce. -"Selamos um acordo. Você é durão, filho." Na manhã seguinte, dez presos foram transferidos. Eles entraram em fila num furgão da polícia. Os presos estavam acostumados com transferências como aquelas. Encapuzados e algemados, entraram um a um no furgão. No lugar de Bruce, um guarda negro como ele. Bruce saiu em outro carro, vestido como policial, rumo ao FBI. No caminho pra nova prisão, o furgão foi interceptado por bandidos. Os três policiais foram rendidos e amarrados. Quatro presos foram levados pelos bandidos enquanto os demais fugiram. Os presos viram a notícia na tevê do refeitório. Greg foi avisado da fuga de Bruce, que todos pensavam estar no furgão. -"Vigiem a namorada dele, a Latoya Sanderson. Bruce vai pra casa dela ou da tia, a velha senhora Olssem. Vou matar os três de uma vez só." Três semanas depois, Greg dava uma festa pra cinquenta pessoas em sua cobertura. A piscina com balões dourados. A música alta. O funk pesado imperava. As lindas modelos contratadas, na ampla sala, sendo cortejadas pelos homens de Greg. -"Todos aqui?! Vou sortear um Camaro entre nossos doze companheiros." Greg abriu o champanhe. Os cordões reluzentes de ouro pesavam no seu pescoço. Bernard, o aniversariante, era o braço direito de Greg. Estava consumindo drogas no banheiro quando Jonny o chamou. -"Está na hora do bolo, Bernard. Greg vai lhe dar um presente apesar de você ter falhado no plano de apagar o dedo duro do Bruce." Eles riram. Gustav, Timoty e Jonny carregaram o rapaz até a piscina. Faltavam dez minutos pra meia noite quando Timoty mudou o canal da tevê que ocupava uma parede inteira. Jonny dormia entre duas moças no sofá. -"Quero ver se os Bulls venceram." Greg se despediu de alguns convidados. Ao passar pela sala ele estacou. -"Volta, Timoty. Pare aí." Berrou. O rapaz não entendeu. -"O que foi?" Timoty voltou ao canal de notícias. O rosto de Bruce apareceu na tela. As imagens de uma câmera de monitoramento de uma lanchonete mostravam um assassinato. -"Um casal de jovens foi morto, essa tarde, perto da Times Square. Durante a briga, o jovem baleado correu pra rua, onde foi atropelado pelo caminhão da coleta de lixo da cidade." Os homens de Greg reconheceram a namorada de Bruce. -"É a vadia do Bruce, que a gente estava vigiando. A Latoya." Apontou James, irmão de Jonny. Greg estava boquiaberto. O cadáver de Bruce jazia na rua. Além dos três tiros, tinha sido atropelado. -"O maluco morreu? Tiraram minha vingança." Incrédulo, Greg pediu pra ver as imagens novamente. -"É ele mesmo, Greg. O Bruce morreu. Olha, a imagem aproximada. É o cara." Concluiu Timoty. O gangster estava furioso. -"Gustav! Cola na velha, a tia Olssem. Você nasceu no bairro deles, fique perto e ofereça apoio, um ombro amigo. Faça tudo pra ver a certidão de óbito, o cadáver no caixão, seja discreto. Quero provas que o dedo duro morreu mesmo." O pastor Jackson e uma multidão de fiéis se aglomeravam na casa da senhora Olssem, a mãe adotiva de Bruce. Gustav chegou, com flores. O moço chorava. O terno preto, óculos escuros e sapatos italianos do rapaz que tinha estudado com Bruce na adolescência denotavam que tinha vencido na vida, ao contrário da maioria dos jovens do bairro. Gustav foi a cozinha, ao ver o carro da polícia chegar. -"Tarefa ingrata de reconhecer o corpo. Uma senhora de setenta anos não merece passar por isso." O pastor se ofereceu pra acompanhar a mulher ao IML. A senhora Olssem entrou no carro do pastor Jackson. Dois sobrinhos da mulher, Nick e Fred, ficaram pra trás. -"Puxa. Ficamos pra trás." Gustav se ofereceu pra levá-los. -"Vamos no meu carro. Sempre bom ajudar nessas horas." Nick aceitou a carona. Eles alcançaram o carro do pastor. No IML, a senhora Olssem era amparada pela esposa do religioso. Nick e Fred foram até a tia. Gustav quis entrar mas o guarda o barrou. -"Está bem, é seu trabalho. Vou fumar." Ele se afastou e ligou para Greg. -"Latoya foi levada pra Houston, onde a família dela mora. A velha está lá dentro, reconhecendo o cadáver. Não me deixaram entrar." A ambulância veio ao local pois a senhora Olssem desmaiou antes de ver o cadáver de Bruce. Fred e Nick reconheceram Bruce. -"E aí? É o Bruce?" Fred chorando, confirmou. -"Está inchado mas a orelha tem a marca do tiro. A tatuagem ridícula do Popeye no peito." Concluiu Fred, abalado. Gustav apagou o cigarro e levou os rapazes de volta. -"Estarei aqui se precisarem de ajuda. Bruce era meu amigo de escola, gente boa." Disse Gustav a Nick. -"Reconheceram ele? Tinha a tatoo do marinheiro Popeye e tudo. O corte na orelha?" Perguntou Greg a David. -"Sim. O cara tá inchadão, feio mesmo. Quebrou costela, braço. Tô por aqui. Você deveria vir, tem um rango da hora aqui." Greg gostou da idéia. -"Vai estar cheio de tiras, mané. Posso ir disfarçado." Na manhã seguinte, a polícia avisou a senhora Olssem que o corpo do finado Bruce estava liberado. -"O velório será rápido, devido a Covid, que ainda não passou. Após as orações, o caixão será aberto para as despedidas finais." Anunciou o pastor a multidão, uma hora após a chegada do corpo de Bruce. A sala e a sacada ocupadas por coroas de flores. O grande caixão branco de pinho ao centro. As velas no candelabro. A foto de Bruce num cavalete, entre bandeiras dos Estados Unidos. O pastor fez um discurso demorado. -"Você experimentou minha torta de maçã com canela, filho?" A mulher puxou David pelo braço até a copa. -"Somos amigos da mecânica, o primeiro emprego de Bruce. O patrão Zack não pode vir." Disse o rapaz com macacão sujo de graxa, óculos de fundo de garrafa, botinas e boné dos Yankees. Seu colega estava vestindo o mesmo macacão surrado. De volta a sala, David reconheceu Greg e Jonny. -"Parecem os caras da Gás Monkey. Estão até fedendo graxa." Pensou, tentando segurar o riso. Fred e Nick entraram e comunicaram a chegada do carro funerário. O pastor abraçou a senhora Olssem e a trouxe pra perto do caixão. Greg e Jonny tentavam ver o rosto do morto, entre a multidão presente. David quis sacar o celular do bolso e ligar a câmera mas viu Greg, disfarçado de mecânico, chegar mais perto do caixão. O funcionário da funerária abriu o caixão. O choro invadiu o ambiente. O pastor Jackson acalmava os presentes. Greg olhou bem. Era Bruce alí. Inchado demais mas era ele. O bigode, a cicatriz visível apesar das ataduras na cabeça e os chumaços de algodão nas narinas. A um sinal, Greg e Jonny saíram da casa. -"É ele. Confirmado, Jonny. Vamos embora, tem polícia e até televisão aqui." O carro com vidros escuros saiu veloz. De dentro do carro da tevê, Bruce assistia a tudo. -"Era o carro de Greg. A porta direita amassada do assalto ao banco de 2018. Ele esteve no meu velório." Os agentes do FBI e a equipe de inteligência buscaram as imagens do interior da casa. Os dois mecânicos passaram despercebidos aos policiais de paisana no velório. -"Ele passou pelas pessoas até chegar perto do caixão, nos poucos minutos que abriu a tampa. Quis conferir." Disse o agente. David saiu da casa e Bruce o reconheceu. -"É David Fernandes. Ele é um dos homens de Greg." Bruce ficou triste ao ver sua mãe adotiva abraçar o antigo amigo de gangue. -"Não podemos falar pra ela, Bruce. Fred e Nick vão morar com ela e confortar a senhora Olssem. Mais importante é que tudo deu certo até aqui. Poderá reencontrar Latoya em São Francisco, após sua visita ao doutor Laporte." Bruce concordou. -"Não foi difícil, para os maquiadores de Hollywood, fazer uma máscara sua, realística. Só tivemos que colar aquela máscara no cadáver daquele indigente do necrotério. Não esquecemos a tatoo do Popeye e o bigode charmoso." Bruce riu. -"Se não estivesse aqui, diria que fui mesmo ferido a bala por aquele ator. O dublê caiu certinho debaixo do caminhão de lixo, dirigido por atores. Incrível e real. Jennifer com máscara de Latoya, era idêntica nas filmagens. Estou sem palavras." O agente do FBI apontou o indicador. -"Hollywood nos ajuda a esconder testemunhas, Bruce. Com as plásticas, terá outro rosto e nova identidade. Terá uma vida livre e feliz ao lado de Latoya. Ah, e longe da conexão das drogas e violência de Nova York." Semanas depois, com as informações de Bruce, a quadrilha de Greg foi presa. Emiliano Martinez, o chefão da organização, foi preso no Panamá. Bruce não via Latoya a meses. Os dois carros do FBI chegaram ao aeroporto de Chicago. -"Ela veio?" Bruce entre quatro agentes, era pura ansiedade. Estava diferente, malhado e com barba de lenhador. Terno fino e sapatos italianos. A orelha reconstruída. A pele perfeita, sem espinhas e manchas de antes. Lentes de contato verdes davam-lhe um aspecto de vampiro. -"Suas malas, senhor Stanley. Seu dinheiro e novos documentos. Nossa missão termina aqui." Disse o agente Moss. -"Aquela caminhonete é sua. Presente do diretor da prisão. Ele fez questão." O outro agente deu as chaves do carro a Stanley. -"Terei que dirigir até São Francisco?" Os agentes riram. -"Vai ter boa companhia. A senhora Olivia chegou." A moça estava vindo na direção deles, entre duas agentes do FBI. Stanley não reconheceu Latoya. -"Caraca. É a irmã gêmea da Beyoncé?" Os agentes riram. Bruce e Latoya, finalmente frente a frente. -"Bru... Stanley, não me beija pois minha boca está inchada pelo preenchimento labial." Eles se abraçaram. O casal se despediu dos agentes. -"Vai ser difícil se acostumar a lhe chamar de Olívia. Uau, você está demais. Não quero dizer que não era linda antes...puxa. Estou confuso. Confuso e feliz." Ele abriu a porta da caminhonete pra ela -"Temos um longo caminho até nossa casa, em São Francisco." Transferido, tempo depois, pra outra penitenciária, Donato arrumou uma confusão daquelas e foi morto numa briga de presos, durante o futebol americano. Greg estava tranquilo, aguardando o julgamento. Certamente pegaria prisão perpétua e mofaria na cadeia. -"É o que tem pra hoje. É isso ou a sentença de morte." Disse-lhe o advogado Adans, de um dos mais caros e respeitados escritórios de Nova York. -"Me depenaram, me tiraram tudo e você me diz isso?! Vou sair daqui, pode escrever." O advogado se levantou. -"Procure outro advogado, senhor Greg. Estamos fora." Em São Francisco, Stanley e Olívia estavam felizes, iniciando a reforma da casa. -"Não tem jeito, vamos ter que contratar uma empresa de reforma, meu amor. A sala dos fundos vai dar lugar a uma academia de ginástica." O casal foi até São Francisco. Tudo era novidade pra eles. -"Vieram de onde? Compraram a velha propriedade do Buck? Em San Francisco a melhor forma de reforma é a Reform Premium, do casal Smith. Tem até um reality de reforma de casas, na Netflix com eles. São caríssimos mas a reforma é campeã. Se não tiver muito dinheiro, pode escolher entre a Dohller Reformas ou a Pumas. Aqui estão os cartões. Puxa, aquilo é mau assombrado." O velho da loja de materiais de construção, olhando o casal de cima até embaixo, estava curioso. Stanley disfarçou o ódio por ser alvo de tantas perguntas. -"Somos de Delaware e cristãos que não acreditam nessas coisas, meu amigo. Deus é mais. Veja quanto ficou os pregos e a madeira, sim? Vou levar os cartões. Grato." Após um passeio pela cidade, o casal retornou pra casa. -"Vamos ligar e agendar um orçamento, Olivia. Temos que ser discretos." No dia seguinte, as empresas de reforma vieram até a propriedade. Stanley e Olívia estavam empolgados. -"Uma piscina nos fundos, que acham? Podemos colocar a reforma no reality?" Stanley olhou pra namorada. -"Vamos ter que estudar o orçamento. É uma excelente idéia mas queremos nos casar aqui. Temos dias centenas de parentes e amigos em Dallas. Não vai ficar barato." Stanley fechou a agenda. A representante estendeu a mão. -"A Reform Premium está a seu dispor, senhor Stanley. Pense bem e nos ligue." Stanley e Olívia cumprimentaram. -"Vamos ver com carinho. Tenha um ótimo dia." Stanley e Olívia foram até o quintal. -"Ela tinha razão, uma piscina aqui seria ótimo. Coisa de mansão de Los Angeles." Olivia mudou de assunto. -"Não podemos aparecer em reality, Stan. Temos muito dinheiro mas temos que agir como cidadãos comuns agora. É um ótimo projeto arquitetônico mas muito caro." Stanley concordou com ela. O representante da Pumas chegou a tarde. O dono da empresa veio com eles. -"A Pumas chegou e vamos fechar o negócio, meu amigo." Stanley se assustou com a espontaneidade do homem. -"Não sou de São Francisco e não faço perguntas. Vocês me falam o que querem, são vocês que vão pagar." Gutierrez era mexicano e tinha sido criado na cidade. -"Meu pai veio pra cá em 67. Ele era amigo do Buck, que construiu essa casa. Aqui em cima tinha uma aldeia indígena, há séculos. Falavam que no local que o Buck construiu a casa era um cemitério indígena mas isso é fantasia, ninguém sabe. Antônio está voltando." O rapaz entrou na residência. -"Mapeei e fotografei a área. Um muro deverá ser feito na encosta, não vai atrapalhar a vista. Sugiro um jardim do lado oeste." Gutierrez e Antônio, após conhecerem e analisarem a casa, fizeram uma oferta. -"Estive aqui por várias vezes, quando criança. Reformar essa casa seria demais. Que acham de um desconto de vinte por cento no orçamento?" Stanley abriu um sorriso. -"Me dê uma piscina no quintal e esqueça o desconto. Pra fechar o acordo." Gutierrez pegou uma pá e foi até o quintal. -"Conheço essa terra dura e abrir um buraco pra piscina será um trabalho pra Hércules, meu caro." Gutierrez cavou três vezes. -"Está vendo? Tenho que trazer máquinas aqui." Outra cavada e eles ouviram um barulho. Gutierrez parou. Stanley, Olívia e Antônio se aproximaram. Gutierrez se abaixou e cavou com o punhal. Ele tinha nas mãos a ponta de uma flecha. -"Uma ponta de flecha. É um sinal. Vamos fechar e terá sua piscina." Gutierrez e Stanley se cumprimentaram. -"Fechado, senhor Gutierrez. Tomara que não tenha um cemitério aqui." O casal estava feliz. Gutierrez propôs um orçamento baixo, quase a metade de outras empresas, suas idéias eram inovadoras e privilegiavam a natureza. Gutierrez não fazia perguntas inoportunas e tinha criado um vínculo de amizade com Stanley. Dois dias depois, a reforma começou. -"Vamos escavar a área da piscina, no quintal. Antônio fez um esboço, com uma queda dágua, pedras, uma parede pra escalada e um pequeno tobogã, que as crianças adoram." Stanley olhou pra Olívia, segurando o riso. -"Não temos crianças. Ainda não." Duas semanas depois, a residência virou um canteiro de obras. O funcionário da retroescavadeira parou, a um sinal de Gutierrez. -"Há ossos na pá. Parecem humanos." A obra foi paralisada. Gutierrez chamou um amigo arqueólogo. -"Há mesmo um cemitério indígena aqui. Os esqueletos e artefatos de cerâmica comprovam." Disse o profissional a Stanley e Gutierrez. -"É uma área particular. Terá que esperar uma avaliação e resposta do museu nacional. Por enquanto, é melhor parar a obra." Gutierrez preferiu terminar a reforma da casa e deixar a piscina paralisada. -"Bem, o que não tem remédio, remediado está. Vamos esperar. Qualquer coisa, aterramos a buraco e fazemos um jardim." Os funcionários isolaram a área da piscina, pra evitar acidentes. Donato despertou no além. Quis se levantar mas tinha um ferimento mortal no peito. -"Onde estou? Tenho que pegar esses caras de Ohio." Viu que não estava na prisão mas sim num hospital. -"Estranho. Não me recordo desse hospital. Que silêncio tumular." Num repente, ele estava diante de seu túmulo, no cemitério Getsêmani. -"O túmulo de meus pais? Que faço aqui?" -"Está aí dentro, amigo. Os ossos de Deus pais estão naquela urna, no canto." Donato olhou em volta. -"Não estou morto. Estou aqui, falando com uma voz na minha cabeça, como sempre fiz quando estava drogado." Algumas pessoas passaram através dele. Donato as chamou, sem ter resposta. -"Pense em algum lugar ou em alguém, no mesmo instante estará lá. Você é um espírito agora. Está em outra realidade." De novo a voz. -"Bruce." Foi a primeira coisa que pensou. O espírito dele volitou até São Francisco. A ponte famosa. A cidade. Uma casa nos arredores em reforma. Donato entrou e viu um casal dormindo. -"Esse não é Bruce." Donato saiu mas a voz o fez parar. -"É ele sim! Ele entregou Greg e a quadrilha. Os federais mudaram sua aparência, ele é rico agora. Tem outra identidade e aspecto físico devido a dezenas de cirurgias plásticas. Aquela alí é Latoya." Donato não acreditou. -"Cale-se. Vimos o vídeo que saiu no noticiário. Bruce levou tiros e foi atropelado. Greg foi ao velório." Donato estava confuso. -"O corpo muda mas o espírito não. A alma dele está fora do corpo agora, que está no sono pesado. Vai lá no ouvido dele e o chame. Vai comprovar. Ele morria de medo de você na prisão." Donato foi até a cama de Stanley. -"Olá, Bruce. Sou eu, Donato. Eu o achei, filho da mãe." Stanley se revirou. Donato foi para o telhado e viu o espírito de Bruce retornar. -"Que faz aqui, Donato? Deixe-nos em paz." Donato estava admirado com seu poder. -"Está bem. Você, que agora é outra pessoa, me pediu com carinho. Eu vou embora." Donato saiu dali pois tinha pensado em Greg. De pé no canto da cela, ele viu o seu antigo chefe dormindo. -"Greg, tenho boas notícias." O presidiário se contorceu. -"Chefe. Sei onde está o Bruce e a Latoya. São Francisco." Donato quis escrever na parede da cela mas não conseguiu. Ele sacudia o corpo de Greg, sem êxito. Greg acordou com dores no corpo e uma terrível dor de cabeça. -"Que pesadelo. Sonhei com uma ponte." Disse ao amigo Jonny, durante o banho de sol. -"Cara, você está com olheiras." Longe dali, Stanley contava a Olívia sobre seus pesadelos com Donato. O rapaz se lembrava de quase tudo. -"Era como se Donato estivesse aqui. Tinha me achado e foi falar com Greg." Olivia ficou preocupada pois tivera sonho parecido. -"Também venho tendo pesadelos. Descobriram nosso refúgio e tentavam nos matar, querido." Stanley a abraçou. -"São apenas sonhos." Greg procurou Jonny. -"Tenho sonhado muito com Donato, o falecido. É tão real, ele me mostra uma ponte, disse que Bruce está vivo. Sonhei que Latoya está viva." Jonny se benzeu. -"Minha avó dizia que sonhos são sinais. Sonhos retratam a realidade." Greg estava curioso. -"Será um sinal? Se Donato está no além túmulo pode ver tudo de lá, da outra realidade. Será que está tentando me avisar que o dedo duro do Bruce está vivo? Será que foi tudo armação? É intrigante que eu tenha começado a sonhar após a morte dele." Greg começou a estudar um plano de fugir da prisão. Passou a ter bom comportamento, o que lhe rendeu um emprego na biblioteca da prisão. O espírito de Donato está colado nele. -"Isso, meu amigo. No tempo certo lhe darei as coordenadas pra sair e nos vingar." Os pesadelos de Greg continuaram. Feliz por Greg ter captado parte de sua mensagem, Donato não foi mais pra São Francisco. Meses depois, Olívia descobriu que estava grávida. Stanley recebeu a notícia com intensa felicidade. A visita dos técnicos e arqueólogos selou de vez o projeto da piscina. -"Melhor assim, sem piscina no quintal mas com um belo jardim. Deixemos os restos mortais dos antigos indígenas em paz." Concluiu Stanley. Ele ligou para Gutierrez, pra que aterrasse a área onde seria a piscina mas o construtor estava de férias em Acapulco. -"Pode esperar duas semanas? Minha equipe está de férias também." Stanley concordou. -"Está bem. Quando você puder, amigo." Stanley foi até a cidade. Deixando Olívia na ginecologista, ele foi até uma loja de armas. -"Faça a documentação. Quero duas armas automáticas." Stanley não pegava numa arma há tempos. A sensação era indescritível, quase um êxtase ao sentir o peso da pistola. -"Essa é boa, amigo. Proteção, é o que eu desejo. Vou ser pai e preciso de uma dessas na casa." Ele entrou numa lanchonete e comprou donuts pra esposa. Uma floricultura. Saiu com um buquê de rosas colombianas. As armas no porta luvas da caminhonete. O buquê no banco traseiro. Ele atravessou a rua até o consultório. Olivia estava no consultório. Stanley sentou-se na sala de espera. -"A senhora Dawsom entrou a pouco. Quer uma água?" Stanley agradeceu a gentileza da secretária. -"Grato pela gentileza. Vou aguardar aqui." Ele folheou velhas revistas. Gostou de uma revista de fisiculturismo. A tevê ligada,com o volume baixinho. A secretária com o rosto fixo no computador. Stanley deu um pulo no sofá. O rosto do antigo diretor da prisão e agora vice prefeito de Nova York surgiu na tela, pela CNN. -"A casa do vice prefeito de Nova York foi invadida por ladrões. A casa foi revirada e o político foi encontrado morto, no seu escritório." Stanley se preocupou mas o pior estava por vir. -"A polícia investiga. O vice prefeito foi diretor da penitenciária, a mesma onde, na semana passada, houve um motim com incêndio, mortes e fuga de presos, entre eles Walter Esteban, chefe do tráfico de armas e Greg, el toureiro, chefe de quadrilha." Anunciou o repórter. Stanley foi ao balcão. -"Moça. Vou aceitar a água." Olivia saiu do consultório e viu o esposo branco como vela. -"Pronto. Está tudo bem." Stanley disfarçou. -"Que ótimo, querida. Vamos?!" Eles saíram. -"Obrigada pelas flores e doces mas parece que viu um fantasma, Stan." Já em casa, Stanley ligou a tevê. A mão tremia, procurando os canais de notícias. -"Olívia. Mataram o diretor, agora vice prefeito de Nova York. Dias depois de um motim e fuga da prisão onde Greg estava. É muita coincidência." A moça se preocupou. -"Ainda que livre, ele não vai nos achar. Estamos longe e muito diferentes. Além do que, a polícia o procura." Stanley se acalmou. -"Verdade. Isso me acalma. Na certa, ele foi atrás de informações, sei lá. Foi certo no diretor, que me ajudou." Longe de Nova York, Greg lamentou a morte de Antônio no motim. Auxiliado por antigos comparsas e seguido por Jonny e Gustav, Greg conseguiu um bom carro. Greg tirou um papel do bolso e o mostrou a Jonny e Gustav, com ele no veículo. -"Rasguei essa foto de um livro de geografia da prisão. Essa ponte, sonhei muito com ela." Gustav olhou bem a foto." Nos Estados Unidos há milhares de pontes." Greg o encarou. -"Nos sonhos, o vice prefeito estava nessa ponte. Quem era o diretor quando Bruce estava preso?! Ele mexeu os pauzinhos e mandou Bruce pra lá. É São Francisco, é onde tem essa ponte famosa. O diretor ajudou a acabar com nossas empresas, aqui e no Panamá. Bruce o ajudou." Gustav riu. -"Estamos indo pra São Francisco?" Greg mostrou o revólver. -"Exato. Não será difícil achar o cara de jumento e a feiosa da Latoya." Gustav e Jonny mostraram as armas. O trio cruzou o país, preocupados em não cruzar com a polícia. Dias depois, já em São Francisco, eles cruzaram a famosa ponte da cidade. Uma pensão, onde se instalaram e dormiram o dia todo. A noite, sairam para uma boate, onde consumiram muito álcool e drogas. Donato, com eles, estava radiante pois também queria vingança. -"Vai ser como achar uma agulha num poleiro." Greg riu da frase de Jonny. -"Palheiro, idiota. Sinto o cheiro de vagabundo do Harlem de longe. Os caipiras daqui falam pra caramba. Vamos usar uniformes de profissionais de jardinagem, pra disfarçar. Nossos rostos estão na tevê, nos jornais. Imobiliárias, lojas de materiais de construção, é onde começamos. O casal de pombinhos deve ter comprado ou alugado um imóvel na cidade." Jonny estava admirado com a perspicácia de Greg. Quatro dias e eles tinham percorrido boa parte de lojas e estabelecimentos de São Francisco, sem êxito. Nenhuma pista de Bruce e Latoya. -"Melhor desistir, chefe. A cidade é imensa." Gustav estava desanimado. -"O nosso dinheiro está quase no fim." Concluiu o rapaz. O trio perambulou pelas ruas, durante a madrugada. -"Mendigos vêem tudo, sabem de tudo. Por uma garrafa, fazem de tudo." Disse Greg, mudando os planos. Por três noites, o trio visitou moradores de rua em praças, cemitérios e albergues. -"Nada, nenhuma pista deles. Vamos embora!" Gritou Greg, com raiva. No mesmo instante, Olívia foi até a caminhonete pegar o exame médico. Tinha deixado o batom no porta luvas. Ela encontrou as armas. Stanley via tevê quando a mulher entrou. -"Você não aguentou." Ela mostrou as armas. -"Comprei para nossa proteção, amor. Moramos afastados da cidade." Olivia o abraçou. -"Já que as encontrou, deixarei uma aqui dentro e outra no carro." Olivia subiu as escadas. -"Vou dormir. Vai ficar vendo séries coreanas até que horas?" Ele sorriu. -"Também vou." Ele desligou a tevê. Verificou se as portas estavam trancadas. Olhou bem as armas, após abrir a gaveta na estante. -"Venha Greg. Olha o que o espera." Ele girou a pistola. O espírito de Donato entrou. O brilho da arma. -"É isso!" Donato deu meia volta. Em segundos estava ao lado de Greg e seus amigos. -"Arma. Bruce comprou armas. Armas. Ele adorava armas." Repetia Donato na mente do rapaz. O dono da pensão chutou a porta do quarto. -"Nenhum dia a mais. Paguem e dêem o fora ou chamo a polícia." Greg se levantou. O corpo doía. As olheiras. O quarto fedia. Jonny e Gustav roncando, mesmo sendo dez da manhã. Greg abriu a porta. O revólver encostou na sua testa. -"Pague a diária e sumam daqui." Greg ergueu as mãos. -"Pegue a bolsa azul, tem dinheiro alí." O dono da pensão pegou a bolsa e saiu. -"Melhor irmos embora." A imagem de Donato no sonho. Armas. Era o que ele repetiu!" Greg socou o ar. -"É isso. Armas. Bruce não fica sem armas. Certamente deve ter comprado alguma na cidade." Ele chutou os amigos até acordarem. -"Vamos, molengas. Vamos atrás do casal de pombinhos." Jonny e Gustav não entenderam nada. Greg estava eufórico. -"Pesquisem no celular por lojas de armas. É lá que vamos achar uma pista certeira e acabar de vez com essa história." Um dia inteiro procurando e nenhuma pista. Greg chegou a roubar uma loja, pra ter acesso a lista de clientes mas foi em vão." Gripado e esperando um engenheiro, Stanley não acompanhou Olívia a ginecologista. Era tardezinha quando ela desceu da caminhonete. Na mesma calçada, Greg e seus amigos viram a moça entrar no consultório. -"Puxa, que gata. Parece a Beyoncé!" Greg assoviou. Gustav e Jonny concordaram. -"Chefe. Aquela é a penúltima loja." Apontou Gustav. O trio disfarçou bem. O velho comerciante estava calado. Greg colocou notas de dólares no balcão. -"Isso é pra ver a lista das vendas das armas. Tem mais dinheiro pra outras informações." O homem sorriu. -"Veio ao lugar certo, amigo." Greg sacou o revólver. -"Que bom. Não precisarei gastar munição, justo aqui." Gustav olhou a lista. Greg estava vendo as armas enquanto Jonny dava cobertura, disfarçando na calçada. -"Force a memória, amigo. Nada de estranho, nenhum forasteiro?! Ninguém procurou por casas, sítios, reformas?" O velho fez uma careta. -"Vamos a loja de materiais de construção do meu primo. É aqui perto. Ele deve ajudar." O homem fechou a loja e o trio o seguiu. -"Veio tomar meu vinho, James?" Disse o homem da loja de materiais de construção. Greg foi direto e encheu a mão do homem de dólares. -"Ajude-me! Uma informação apenas." O homem folheou cadernos e notas fiscais. James o ajudava. -"Esse. Compraram a casa abandonada do velho Buck, longe da cidade. Reformaram tudo até. Um moço bombadão, barbudo e estranho." James socou o balcão. -"Ele comprou armas comigo, recentemente. Duas automáticas, pagou a vista com dólares novinhos." Greg deu uma gargalhada. -"Achamos o nosso amigo." James mostrou o local da casa do velho Buck, num mapa. -"Sempre bom ajudar os amigos." Disse James. Tempo depois, Greg e seus amigos chegaram ao local. Sem cães para alertarem a presença deles, foi fácil pularem o portão e entrarem na propriedade. -"É uma bela casa. Vamos nos dividir." Stanley tomava uma ducha. Olivia estava no quarto. Jonny percebeu que a porta de vidro da entrada estava trancada. Gustav subiu no telhado, por uma árvore rente a casa. Ele viu Olívia, no interior do aposento, de camisola vinho. -"É a moça da caminhonete. Não é Latoya." Pensou, enquanto espiava novamente. Stanley entrou e tirou o roupão. -"Que mancada. Estamos na casa errada. Não é Bruce!" Ele desceu e encontrou Greg no jardim. -"Não são eles. É a moça da caminhonete, que vimos na cidade. O marido ou namorado, não é o Bruce. É bombado e barbudo. É bonitão." Greg quis conferir. Subiu com cuidado na árvore e teve acesso ao telhado. O casal se beijava, apaixonados. Jonny deu um tiro no trinco da porta de vidro e entrou. Stanley vestiu o roupão e Olívia gritou, apavorada. -"Vou descer, a arma está no carro." Greg ouviu e fez sinal a Gustav. -"Esse cara não é o Bruce mas deve ter grana!" Stanley desceu as escadas na penumbra. Greg deu pontapés na janela, até que o vidro quebrasse e entrou no quarto. -"Parada ou atiro." Olivia ficou paralisada ao ver Greg na sua frente. Stanley correu até a estante, onde estava sua segunda pistola mas Jonny saiu detrás do sofá. -"Parado ou atiro, colega. Melhor obedecer." Stanley pôs as mãos na cabeça." Gustav veio e acendeu a luz. Greg desceu as escadas com Olívia a frente dele. -"Desculpa mesmo interromper o ato amoroso de vocês mas precisamos conversar. Passem a grana, rápido." Stanley reconheceu Greg e seus amigos. Olivia estava em choque e só após Stanley a abraçar, reconheceu Greg. Jonny foi até o casal, sentados. -"Não são eles, chefe. Latoya era feiosa e Bruce um besta fedorento. Esse cara é bombado e ela parece uma das Kardashian." Greg, com a arma apontada pra eles, abriu o roupão de Stanley. -"Não tem a tatuagem do Popeye. Bruce era magrelo nem tinha olhos verdes. Fala, quem são vocês?" Stanley engrossou a voz. -"Stanley Nuremberg, jogador de beisebol." Greg sorriu, nervoso. Ele tirou do bolso uma foto de Donato. Stanley suou frio ao ver. -"Deve estar se perguntando como viemos até aqui? Eu também não sei mas esse aqui já morreu mas venho sonhando direto com ele, sabem? É real demais. Donato, era o nome dele. Ele me falava no sonho que Bruce estava vivo, vi uma ponte, o diretor da prisão e Bruce. O cara me entregou aos federais e acabou com meu lucrativo negócio. E aqui estamos nós, após tanta sonho, tanto esforço pra achar o Bruce. Acabamos com o diretor, que se tornou político e enriqueceu. Falta acabar com Bruce e Latoya de vez. Sei que morreram e até fui no velório do dedo duro mas devemos crer no sobrenatural. Donato ia matar Bruce na prisão, a mando meu. Ele me trouxe a São Francisco. Quem garante que morreram de verdade? Será que não foi tudo uma farsa? É muita coincidência pois as bases da organização no Panamá eram sólidas demais pra cair daquele jeito." Stanley se ajoelhou. -"Tenho dinheiro lá em cima, levem tudo. Não sei do que está falando." Jonny revirou a casa mas não achou nada sobre Bruce e Latoya. -"Tem muito dinheiro mesmo, chefe. Troféus de beisebol e medalhas. Parece que o homem está falando a verdade." Greg ficou imóvel, com o olhar parado no canto da sala. Um vento impetuoso abriu a porta e entrou na sala. -"Greg? Sou eu, Donato. É ele, é o Bruce e a Latoya. Mate-os." Donato entrou no corpo de Greg. Stanley se arrepiou todo. Latoya chorava. Greg, com o cabelo arrepiado, ergueu o braço com a arma, bem devagar. -"Bruce? Latoya? Eu os encontrei. Fizeram plásticas, usam lentes mas são vocês. Morram." Gustav estava com medo. Jonny deixou a arma cair e se benzeu. Dois carros passaram pelo portão e se aproximavam da casa. Gustav se virou, ao ver as luzes dos carros. Stanley pulou sobre Greg, tentando tirar sua arma. Greg parecia ter a força de quatro homens. Greg atirou em Latoya. Stanley correu até a estante, pegando a pistola na gaveta. Ele se escondeu atrás do sofá mas tomou um tiro na perna. Greg descarregou o revólver, dando tiros a esmo. Gutierrez e Antônio entraram e atiraram em Jonny e Gustav. Sem munição, Greg foi até o sofá. Stanley viu que a sua arma estava sem balas. Greg pegou Stanley pelo pescoço. -"Vou matar esse traidor!" Greg foi para o quintal. -"Olívia está ferida no ombro apenas. Vamos salvar Stanley." Gutierrez estava decidido a tudo. -"Não tem pra onde ir. Larga nosso amigo Stanley." Gritou Gutierrez a Greg. Stanley tentava não ser estrangulado pois Greg tinha muita força, possuído por Donato. Gutierrez e Antônio apontando as armas para aquele estranho com sangue nos olhos. -"Esse não é Stanley, é Bruce o traidor de Nova York. Matei Latoya também e vou acabar com esse verme." Stanley estava ficando roxo, quase sem ar. -"Não entendi nada. Stanley está se entregando. Vamos atirar nesse cara ou perderemos nosso amigo!" Disse Antônio, fazendo mira em Greg. O rapaz olhou pra trás. Apenas Donato viu o totem indígena de erguer, atrás dele. O espírito de um pajé, cercado de centenas de espíritos com vestimentas indígenas, se aproximou dele. -"Vai embora daqui, Donato. Aqui é um lugar sagrado. Você é do mal." O pajé acertou Donato na testa com um cajado. Donato fugiu do local. Greg já não tinha a mesma força. Stanley se desvencilhou de Greg. Antônio deu três tiros, acertando Greg. -"Bruce?" Stanley se aproximou de Greg, caído. -"Greg! Sou eu, Bruce. Eu não o entreguei, não da primeira vez mas sim Donato e Jonny. Eles me culparam. Foram eles que o enganaram e o roubaram, todo o tempo." Greg agarrou o roupão de Stanley. -"Bruce. Tem um monte de índios aqui. Tem um cemitério no seu quintal, cara." Greg fechou os olhos pra sempre. Stanley, Gutierrez e Antônio foram ver Olívia. Ela estava assustada. Stanley ligou para os federais, através de um número secreto. -"Não vamos chamar a polícia local, nada de imprensa." Pediu Stanley. -"Ele parecia possuído. O chamou de Bruce." Antônio estava confuso mas Gutierrez o aconselhou. -"Isso não é importante, Antônio. Nossos amigos estão bem." Gutierrez também tinha visto o totem e os espíritos dos índios. -"Creio que a mensagem tenha sido clara." Stanley concordou com Gutierrez. -"Sim. Vamos deixar a casa, fazer daqui um museu das tribos antigas, talvez." Gutierrez aprovou. -"Excelente idéia. Posso cuidar disso." Stanley abraçou Gutierrez e Antônio. -"Muito obrigado. Chegaram na hora, amigos." Gutierrez sorriu. -"Viemos convidar os amigos para o festival de tacos e comidas mexicanas. Sempre andamos armados, felizmente. Antônio atira bem, quando está sóbrio." Os agentes do FBI, em três carros pretos, chegaram uma hora depois. Eles levariam os corpos de Greg, Jonny e Gustav.l pra Nova York. -"Nada aconteceu aqui, senhor Stanley. Não sei como os encontraram do outro lado do país mas, para todos os efeitos, esse trio jamais esteve em São Francisco. Provocaram motim e mataram o vice prefeito. Cuidaremos deles agora. Eles se meteram numa briga de gangues e se deram mal. É o que sairá na imprensa." O agente Macdonald cumprimentou Stanley. -"Vamos para o Brasil, é melhor." Stanley olhou para Olívia. -"Minha prima Fátima. Ela é médica e vai cuidar de Olivia. É confiável e discreta, não se preocupem." Garantiu Gutierrez, entrando com a médica, que tinha ido buscar na cidade. Três dias depois. -"Tem uma cidade chamada Americana no Brasil, sabia? O que acha?" Olivia estava com o ombro enfaixado, no avião. -"Pode ser. Espero que lá tenha caipirinha, brigadeiro e muito pão de queijo." F I M.